Capítulo 05

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Bem-vindo ao subúrbio!

Giro a cadeira pousando os pés no chão colocando força para me erguer, porém sendo surpreendido por uma forte dor na coluna que faz-me sentar outra vez.

— Merda! — Murmuro.

Estou a horas na frente desse computador ignorando os clamores do meu corpo, por ficar tanto tempo na mesma posição. Respiro fundo tentando me levantar novamente.

Com certa dificuldade, consigo e passo a caminhar pelo quarto com o corpo inclinado para a frente, sentindo-me todo escadeirado.

Segundos depois, estou quase recuperado. Minha coluna parece finalmente ter aceitado que aquela posição não era para a vida toda.

Cato alguns papéis com anotações dos mais variados tipos enfiando tudo na gaveta da mesa do computador.

Ainda de pé, estico os braços o máximo possível soltando um bocejo alto. Certeza! Espreguicei até a alma. Apanho o meu celular em cima da cama saindo quarto afora.

Retiro uma fatia do bolo de chocolate com a faca pegando com a mão mesmo, pois não pretendo juntar-me à mesa com o grupo.

— Não aguento mais tomar banho na água fria. — John finge um arrepio.

Falando em banho gelado, ainda nem tomei o meu. Agora é a minha vez de arrepiar só de pensar nas gotículas gélidas.

— Olha a cara do Eric. — Alícia diz fazendo todos direcionarem seus olhos para mim e começarem a dar risada.

Imediatamente conserto a minha expressão, pois não sabia que estava com ela estarrecida.

— Acho que vou vender o banho hoje. — Comento caindo na gargalhada com todos.

— Como vai à busca? — Kevin pergunta enfiando um grande pedaço de bolo goela a baixo.

— É mesmo! Você achou o seu colar? — Quem questiona dessa vez é Jhon.

— Vai indo de forma bem, mais bem lenta. Sim achei. — Levanto a palma da mão e lambo os dedos lambuzados de calda de chocolate.

— Você o achou no mesmo lugar que perdeu? — Camille me encara desconfiada.

— É... Bom... — Merda! E agora? — Ah! Sim, sim, no mesmo lugar. — Respondo de boca cheia fazendo a desconfiança dela triplicar.

Não vou falar a verdade, ao menos não por agora. Se caso eu comentar que tenho que pagar quem o achou e o assunto acabar chegando nos ouvidos da diretora, provável que vá da um rolo dos grandes.

De qualquer modo, para evitar isso, vou ficar de bico calado até minha dívida ser paga.

— Saindo... — Vou à pia lavo as mãos e retiro-me da cozinha praticamente voando.

Passo pela sala ouvindo o barulho dos efeitos especiais do filme que Will assiste, e entro no estreito corredor de cor bege.

Aproximo-me da pequena metade da mesa arredondada, escorando o meu corpo nela. Afasto o abajur para o lado e observo as setes fotos de cada um dos órfãos que vivem aqui, parando especialmente em uma.

O menininho de olhos tão negros quanto a noite e sorriso tímido, abraçado a um ursinho com a pelúcia amarronzada, mais escura que a sua pele pouca coisa. Essa foto me traz alegria e tristeza ao mesmo tempo.

Quando a diretoria da casa foi repassada para a senhora Emma, a atual diretora, a mesma contratou um fotógrafo para retirar retratos de cada uma das crianças que estava na casa.

Te Guiando No SubúrbioOnde histórias criam vida. Descubra agora