Capítulo 11

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Doce engano 


O pior de tudo, é procurar e não achar nada. Nem uma mísera pista que possa me levar a ela, ou quem quer que seja da minha família.

Pessoas caminhando apressadas, protegidas dos pingos com os seus respectivos guarda-chuva, desviam de mim que caminho lentamente com um vazio tão profundo no peito que creio ser palpável.

Já não escondo o rosto. Permito que as pessoas vejam o fracasso que sou. Talvez por saber que poucas prestará atenção em mim, por estarem mais preocupadas em se abrigarem, tive a coragem de levantar a minha face e vagar sem rumo.

A única certeza que tenho, é das lágrimas que escorrem e misturam-se com a água fria que cai.

O meu pescoço vira-se por vontade própria para o trânsito em fluxo contínuo. E os meus olhos encontram-se com outro par castanho-claro, que me fita atentamente.

Talvez por estar tão atordoado, não me importo em não tentar decifrá-los. Fora poucos os segundos em que mantive a atenção fixa em Maizom, sentado no banco de trás daquele carro escuro junto a outras pessoas que não me dei o trabalho de reparar.

Volto a focar em qualquer ponto daquela imensa calçada e sigo andando. Tendo como companhia apenas o meu sofrimento e a chuva que engrossa a cada segundo.

Sentindo o meu corpo começar a tremer por ficar tanto tempo exposto à chuva, procuro sem muita exigência o lugar mais próximo para me proteger.

Sorte ou não, prédios abandonados nessa rua quase deserta é o que bem tem. Mesmo sendo um bairro muito habitado. O primeiro que encontro, entro de baixo do que parece ser uma varanda, mal iluminada pela luz que vem da residência ao lado.

E novamente as forças se esvaiam. Deixo o corpo escorregar pela parede úmida até atingir o chão. Algo incomoda a pele da minha perna e para livrar-me do desconforto desprezível, conserto o celular que se encontrava de mau jeito no bolço.

Nesse momento, me dou conta que valeu a pena economizar arduamente para comprá-lo a prova d'água. Controlando a bateção de dentes, concentro-me nas luzes dos faróis de alguns carros que passam rua à frente.

Os meus pés, corpo e alma doem. Ela implora desesperadamente para eu me recompor, e controlar a fúria da tristeza. Porém, já é tarde de mais. Perdi essa luta a algumas horas atrás.

O coração desesperado por sentir tanta dor, esmurra o meu peito com todas as forças, causando-me ânsia de tosse. No entanto, eu nada faço.

Apenas permaneço inerte com o olhar perdido em algum lugar lá fora. Apesar de estar desnorteado em meio as incertezas, noto algo presente no ambiente. Uma das habilidades que desenvolvi quando fazia serviços que nem gosto de lembrar.

— O que faz aqui? — A minha voz sai baixa causando-me uma queimação na garganta.

Ele nada diz. De soslaio o vejo se sentar, escorando em um dos grossos pilares de concreto. Tento ignorar a presença de Maizom ali de frente para mim. Porém, torna-se impossível, sabendo que o mesmo me observa algumas vezes.

— Não é necessário manter-se no controle o tempo todo. — Alerta. Fazendo-me olhá-lo com o cenho franzido.

O terno preto, parecido com o que estava vestido na primeira vez que o vi, está com vários respingos de água, formando manchas claríssimas de diversos formatos no tecido.

Ele respira fundo e ainda sem me olhar fala:

— Se tentar controlar todos esses sentimentos que está te assombrando, eles se tornaram maiores e mais fortes. Podendo apossar-se de você, obrigando a sua mente a tomar atitudes radicais para se livrar da dor. — Os seus olhos desviam de onde quer que estavam e passam a me fitar.

Te Guiando No SubúrbioOnde histórias criam vida. Descubra agora