Epílogo

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A brisa fria torna-se tímida ao aproximar-se da elegante mulher, esvoaçando com suavidade o longo trench coat vermelho.

A fumaça esbranquiçada sai do cigarro preso nos lábios e é rapidamente levada pelo vento fraco aos confins. O homem ao lado, tenta transparecer indiferença a dor da parceira.

— Como era de se esperar, tudo ocorreu perfeitamente bem. — Solta um discreto suspiro carregado de alívio.

O rosto audacioso coberto por um chapéu de abas médias, esconde os olhos tomados de um intenso tormento.

Por mais que a corroesse por dentro, ela já havia aprendido a lidar com os sentimentos danosos.

Os olhos estão grudados no garoto ajoelhado na frente do túmulo com um papel em mãos, a uma boa distância de si.

— Sim. — Concordou Richard enfiando as mãos no casaco a fim de aquecê-las.

No começo Richard suspeitou que o plano insano da amiga daria errado.

São especialistas em não deixar rastros dos armamentos e dos entorpecentes que adquirem, agora arquitetar um plano sem falhas que envolvesse a personalidade de alguém com alguns pontos alterados, era algo impossível.

Todavia, como era do conhecimento de Richard, a sua chefe é excelente em tudo que faz.

Porém, admite que foi uma experiência bastante divertida se transformar no velho Colim, abalado pelo luto da amiga confidente. Se considerava um bom ator.

— O meu Eric se transformou em um lindo e puro rapaz. — Os lábios se curvam, evidenciando a cicatriz de um dos lados. — É e sempre foi o meu amor. O único homem da minha vida.

Eleonor traga o cigarro e expele a fumaça pelo nariz. Podia não ler os pensamentos do homem ao seu lado, mas sabia que ele concorda com o que disse.

— Verifiquei a conta, Eric sacou o dinheiro. — Os pés de Richard começaram a latejar no sapato social.

— Ótimo! O único que ganhei de forma honesta e guardei exclusivamente para ele. — As lembranças da fábrica de suco vêm a sua mente.

Foi ali que tudo começou. O seu chefe quem apresentou o mundo da marginalidade. Mundo este, que a fascinou de tal forma que nunca mais saiu.

Sua única preocupação era a de permanecer viva e subir de nível. Não foi fácil, mas conseguiu.

— Quero que cuide da carreira dele. Torne-o o maior grafiteiro desta cidade ou do mundo, se necessário. — Umedece a boca coberta por um batom rubro e decreta: — De forma limpa!

Richard meneia a cabeça em confirmação.

— O advogado será problema? — Viu o quanto o homem é esperto. Richard não precisou implantar muitas pistas para que ele o encontrasse.

Ao descobrir que Eric estava a sua procura, Eleonor soube que precisava agir. Desenvolveu Com ligeireza e cuidado uma tática e a pôs em prática.

Deixou Eric seguir algumas pistas, como lugares onde ela já morou e esperou ele cansar. Pois, não encontraria nada. Logo após, o advogado entrou em cena também e foi mais fácil para usar a tática planejada.

— Se for, ficaremos quietos. Apenas esperaremos pelas consequências.

Eleonor sabe o quanto Eric ama Maizom. Se fizer algo a ele, destroçará o coração do filho. E isso, ela jamais fará. O homem de cabelos grisalhos puxa o ar com força. Estava preocupado.

— Contou a ele? — As coisas não seguiram totalmente o planejado.

Richard optou por não dizer a Eric qual foi o destino do pai.

— Não. Só o desencorajei a não ir atrás do maldito e dos parentes. — Sorriu de canto.

Eleonor ainda podia ouvir os gritos do homem que arruinou a sua vida, implorando para que não o matasse.

A imagem ainda era nítida, quando Eleonor enfiou a faca lentamente no peito dele, enquanto ele gritava agonizado e sangue quente respingava no rosto dela. Ao lembrar da vingança, entrava em êxtase.

Odiava o pai do filho por tudo que a fez passar, tanto as dores físicas quanto as mentais. Entretanto, o agradecia por ter lhe dado o diamante mais raro do mundo. O seu amado, Eric.

Por isso, proporcionou ao homem uma ligeira morte. Não foi indolor, não o deixaria falecer naquele galpão com uma faca cravada no peito e preso a uma corrente. Molhou-o de querosene e ateou fogo no corpo.

Logo após, foi atrás da Florence. O único arrependimento com relação a ela, é por não ter conseguido matá-la com suas próprias mãos.

Porém, se encarregou para que ela fosse torturada no presídio onde estava e depois morta. Não foi difícil alterar a causa do óbito para suicídio.

— Está ciente que se Eric descobrir o que você fez, vai te odiar pelo resto da vida.

Em partes, quase tudo o que Richard revelou a Eric é verdade, tirando a doença letal da mãe e com o que ela trabalha atualmente, logo que saiu anos atrás da empresa de sucos.

— É um risco que estou disposta a correr.

Descarta a bituca na grama, pressiona-a com a ponta do salto e segue em direção ao carro preto acompanhada do amigo, a única pessoa em quem confia. A flor vermelha que colocaria na própria sepultura permanece presa numa das mãos.

Eleonor dá uma última olhada para o filho ainda de pé diante da lápide vazia. O papel que escolheu a dedo, Eric permanece seguro.

Escreveu a carta com o coração em mãos, pois não podia dizer tais palavras pessoalmente ao filho. Aperta os dedos no pequeno coração preso ao colar. Pensava somente em uma coisa:

Meu lindo rapaz já te tirei desta vida suja e miserável uma vez e se depender de mim, você nunca mais fará parte dele. Não te dei a vida para comandar o crime igual a sua mãe, minha pequena estrela. O seu caráter é melhor do que o meu, que vivo nesse mundo sombrio.

Te Guiando No SubúrbioOnde histórias criam vida. Descubra agora