Capítulo 30

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Passado

Olho em volta. Não estou sozinho. Há crianças, assim como eu, que seguem a fila para dentro da casa. As batidas no meu peito aumentam freneticamente e gotículas de suor, se formam na minha testa. Passo a mão, secando-as. Forço os pés a se moverem. Preciso sair daqui.

Não posso estar neste inferno novamente.

Devido estar me contorcendo e esforçando para desgrudar os pés do chão, atraio a atenção dela. Os olhos negros param em mim. Meu corpo congela. Os passos ecoam, se tornando cada vez mais altos à medida que ela se aproxima.

Lágrimas escorrem e soluços me escapam. Ela se inclina para a frente, deixando o rosto próximo ao meu. O odor de incenso me embrulha o estômago.

— Pensou estar livre de mim, Eric?

Chorar é só o que consigo fazer. Os lábios acinzentados da mulher, curvam-se em um sorriso malévolo.

— VOCÊ ESTÁ MORTA! — Berro.

— Não querido. Estou viva e você receberá punição por conspirar contra mim.

— Você estava nos matando!

O rosto da mulher torna-se furioso. Ela agarra os meus braços, sinto a queimação no lugar dos dedos, e me joga novamente no porão malcheiroso e escuro. Corro em direção a porta que se fecha na minha cara. Enquanto afasta, pude ouvi-la dizer:

— Você tem bastante tempo para pensar no que fez a mim e aos órfãos desta casa.

— Sua miserável, pobre de alma! — Grito.

Esmurro a porta por horas até meus punhos não aguentarem mais. Viro lentamente para trás, deparando-me com olhos miúdos e vermelhos.

A luz fraca, acima da minha cabeça, dificulta a visão. Só então, noto estar preso num cubículo. O ar fica rarefeito e tenho que puxá-lo com mais força. As pernas tremem e as paredes começam a se aproximar, reduzindo o espaço.

As ratazanas soltam gritos agudos e correm na minha direção. O tremor toma conta da minha coordenação e instintivamente bato na porta com mais força.

Eles vão me devorar!

Unhas e dentes cravam na minha pele. Grito agoniado. Abro os olhos tapando a boca para conter o som. O meu corpo ainda treme, porém o ambiente não é o mesmo de segundos atrás. A face familiar entra no meu campo de visão e mãos seguram cuidadosamente meu rosto.

— Se acalme. Foi apenas um pesadelo. Você já está de volta a realidade.

Trêmulo, olho em volta constatando a verdade. Acabou! Era só um sonho maldito. Braços me envolvem enquanto respiro descontrolado. Como fez da última vez, Maizom corre os dedos vagarosamente sobre o meio das minhas costas induzindo-me a acalmar.

Apenas me concentro na sensação agradável proporcionada a mim e no cheiro bom do seu perfume. Quando consigo formular palavras e pensamentos, Maizom afasta-se para me observar.

— Quer conversar? — Enxuga as lágrimas restantes.

Vamos, Eric! Você consegue. Já fez isso uma vez. Não é difícil. Inspiro profundamente concentrando-me nos olhos dele.

— Sonhei com a Florence. — Forço a voz a sair.

— A minha tia? — Maizom se espanta.

A única coisa que consigo fazer é me afastar de supetão para trás. Maizom percebendo o que disse, aproxima-se.

Te Guiando No SubúrbioOnde histórias criam vida. Descubra agora