- Claro que não, Tiago. Já me comprometi com você. Você até já me pagou, esqueceu? E pagou muito bem. - reproduziu a fala dele.
Tiago respirou profundamente. Ele fora um idiota no dia anterior, sabia disso.
- Escute, Dulce... Ontem usei mal as palavras...
- Parece que isso é um hábito seu, não é mesmo? - falou, irônica.
- Parece que sim. Mas escute, por favor. O que eu disse ontem, releve. Esqueça. Eu estava irritado por coisas no trabalho e acabei descontando em você. Isso não vai acontecer novamente.
Sabia muito bem que estava mentindo, mas não queria de forma alguma admitir.
- Eu sei muito bem qual é o meu papel aqui, Tiago. - falou irritada, porém contida. - Você não precisa me lembrar.
- Está bem. Mesmo assim me desculpe. - ele se levantou da cama. - Temos que ir no advogado. - ela assentiu, sabia que teria que assinar o tal contrato. - Estarei te esperando na sala. - Ela assentiu e Tiago saiu do quarto.
Parte do dinheiro já estava em sua conta e Dulce já iniciara o tratamento do irmão. Desde que perderam os pais num maldito acidente de carro, eles só tinham um ao outro. E agora Tomaz estava com um raro tumor cerebral onde o tratamento era caríssimo e as chances eram ínfimas. Mas eles lutariam juntos. Ela só tinha a ele e só em pensar em perdê-lo seu coração comprimia. lágrimas ameaçaram surgir, mas ela tratou de dissipá-las.
- Não, Dulce María, não chore. - respirou profundamente. - Tomaz vai se recuperar. Agora com condições de pagar um tratamento adequado, ele venceria aquela batalha.
Dulce se levantou e foi até o banheiro. Tomou um banho relaxante e trocou de roupa. Ao chegar à sala, os sogros e o noivo a esperavam.
- Só estávamos esperando você para o café-da-manhã. - disse Lenora.
- Não estou com fome. - disse ela.
- De jeito nenhum, amor. - disse Tiago se aproximando dela. Apertou-a em seus braços e em seguida beijou sua testa. - Minha mãe falou que você ontem foi dormir assim que chegou e não comeu nada. Não quero que minha noivinha linda fique fraca no dia do casamento.
Falou tão carinhoso que a própria Dulce acreditaria se não soubesse que aquilo se tratava de uma encenação. Ela assentiu sorrindo para o noivo. Tomaram o desjejum como dois verdadeiros apaixonados.
Eles estavam sentados no escritório do advogado de Tiago, revisando detalhes que faziam Dulce enrubescer, mas tudo estava sendo conduzido de maneira precisa.
- Posso mandar um jatinho pra trazer qualquer pessoa da sua família. - falou ele de repente.
- Não é necessário, Tiago. Meus pais são falecidos e único que me importaria vir é meu irmão e você sabe que ele não pode.
- Mas deveria ter alguém com você amanhã.
- Você acha que sua família pode não acreditar em nós? - Havia um leve desdém em sua voz, que ela lutou para reprimir. Tinha escolhido estar lá ao final das contas.
Pensar que naquele casamento tudo, exceto amor, seria real, e que ela passaria por todo o processo sozinha era de cortar o coração.
- Não tem nada a ver com isso. Meus pais adoraram você e já aceitaram nosso casamento como um amor arrebatador. Minha irmã quando conhecê-la adorará você também, estou certo disso. O problema é que é o dia do seu casamento. Você pode achar triste estar sozinha.
- Eu ficarei bem. - disse determinada a esconder seu medo. - Terei sua mãe e também Laura e Manu que se tornaram boas amigas.
- Certo. De qualquer forma será um casamento pequeno, porém tradicional.
Eles estavam conversando há horas. Cada detalhe tinha sido discutido. Dulce tinha direito a visitar seu irmão na Espanha uma semana por mês, pela duração do contrato.
- Tenho certeza de que ambos precisaremos de espaço. foi a explicação de Tiago. – Eu não estou acostumado a ter alguém por perto permanentemente.
Havia agora uma conversa muitodesagradável... para Dulce, principalmente na frente de um estranho, mesmo que fosse o advogado... sobre a regularidade de sexo, e também sobre controle de natalidade e check-ups de saúde.- No evento de uma gravidez... - começou o advogado.
- Não pode haver gravidez. - Tiago foi rápido para interromper. O tom na voz dele era de ameaça. - Eu não acho que minha futura esposa seria tão tola de tentar me amarrar dessa forma.- Mesmo assim, é preciso abordar a questão. - O advogado era muito calmo.
- Eu não pretendo engravidar. - Dulce deu um sorriso nervoso, apavorada pela perspectiva.
- Você pode mudar de ideia. - disse Tiago. - Talvez decida que gosta do estilo de vida, e não queira abrir mão deste. – Ele olhou para seu advogado. – Precisamos fazer planos de contingência.
- Com certeza. - concordou o advogado.
Dulce o observou enquanto, com distanciamento frio, Tiago assegurava que, se por acaso, eles tivessem um filho, ele o proveria, contanto que a criança residisse na Colômbia.
- Acho que isso cobre tudo. - afirmou o advogado.
- Nem tudo. - Dulce pigarreou. - Eu gostaria que nós concordássemos que não dormiremos com mais ninguém no período em que estivermos casados. Eu concordei com todos os termos. - disse antes que ele pudesse discordar. - Eu sei que não dormirei com ninguém além de você, mas quero uma garantia de que você também não o fará. Não quero pegar nenhuma doença. - justificou ela. Era a mesma justificativa que dava a si mesma. Mas a verdade era que não queria dividir Tiago com mais ninguém.
Tiago deu um sorriso de lado.
- Estou de acordo. - ele olhou para o advogado. - Também quero uma cláusula que Dulce não falará sobre esse acordo com ninguém nem mesmo depois do término.
- Ninguém nunca saberá por mim. - assegurou ela. A ideia de que alguém descobrisse aquilo era abominável para ela. - Apenas um romance tempestuoso e um casamento que não deu certo. - repetiu o que ele disse certa vez.
- Ótimo. - pronunciou Tiago. - E, Dulce, mesmo se nos dermos bem, mesmo se você gostar... - ela entendeu muito bem o que ele estava querendo dizer.
- Não se preocupe, Tiago. interrompeu ela. - Eu não irei me apaixonar por você. - Dulce deu um sorriso tenso. - Estarei fora de sua vida de acordo com o contrato.
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Já era amor FINALIZADA
RomanceA história de três casais acontece na paradisíaca Cartagena das Índias. Cidade portuária na costa caribenha da Colômbia. À beira-mar, fica a murada Cidade Antiga, fundada no século XVI, com praças, ruas de paralelepípedos e coloridos prédios colonia...