Epílogo

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LUCAS

2 meses. 2 meses e nada aconteceu como eu imaginava que seria.

São nove horas da noite de um sábado, e eu estou em casa, na verdade, estou no meu apartamento compartilhado com Ryan – no começo, pensei que ia odiar, mas percebi que odiaria mais ainda ficar sozinho. Estou sozinho, Ryan saiu com as pessoas que também deveriam ser minhas colegas de faculdade, mas eles me odeiam. Odeiam mesmo.

Eu estou numa situação, que Ryan e a senhora que me vende café com doce de leite são meus únicos amigos. Eu poderia estar festejando, como todos do meu curso estão fazendo, mas não tenho amigos para isso, estou sozinho e escrevendo um artigo de rugby. Eu não conheço quase nada de rugby, só sei que é bem mais violento que hóquei.

As coisas não eram para ter sido desse jeito. Era para todos me amarem, todos quererem que eu escreva artigos políticos críticos bem humorados, mas não é isso que acontece. Eu estou tão sozinho, na Inglaterra – sozinho, porém na Inglaterra. 

Aprendi a gostar de Ryan, ele é atualmente meu melhor amigo – Julie e Somin são minhas almas gêmeas – e se não fosse por ele eu estaria perdido, o que é bastante perturbador. No primeiro dia da nossa chegada, falei que não precisávamos morar juntos, porque eu tinha meu apartamento aqui e ele disse que está confortável com isso. Só que então, meu primeiro dia foi uma merda, os ingleses não são tão calorosos quanto eu esperava. Quando cheguei no meu apartamento, corri para o de Ryan e implorei para dividirmos a residência, porque eu não ia aguentar ficar sozinho.

E a realidade é que eu realmente não aguentaria, ainda estou tentando descobrir se aguento. Quero muito ver Julie, Somin e Nicholas – fazer sexo pela internet não é o suficiente, preciso sentir o pau dele entrando e saindo de mim, os tapas dele na minha bunda e no meu rosto, preciso do toque dele. Céus, como estou com saudades de Nicholas. Estou com saudades das comidas de Somin. Das esquisitices de Julie. Mas resolvi, nesses dois meses, não fazer nenhuma visita, para que eu possa me acostumar com a saudades.

Respiro fundo, está tudo tão diferente do que eu imaginava que seria. Jogo o meu notebook para longe da minha cama e começo a andar pelo apartamento.

Era o apartamento dos pais de Ryan, e bom, agora é nosso – nos mudamos depois de uma pegadinha nada agradável ter sido feito no nosso dormitório, bom, a pegadinha era para mim, mas Ryan me apoiou e se mudou comigo. Ainda tem algumas fotos dos pais de Ryan, mas a maioria já é apenas nossas coisas, nossas fotos, nossas medalhas e nosso troféu.

Vou até a sacada, está chovendo. A melhor decisão que fiz, foi comprar a maioria das minhas roupas aqui. Descobri que precisaria de muitas jaquetas térmicas, blusões, moletons, calças de frio, meias e sapatos se eu quisesse sobreviver na Inglaterra.

Começo a rir, então meu riso se torna um choro, um choro que eu nem sei o motivo. Não sei se é saudades. Não sei se é ódio por eu me deixar ser atingido. Não sei se é porque Nicholas não me manda mensagem a um dia. Não sei se é porque as coisas não deveriam ser assim – e eu tenho uma certa tendência a ser controlador. Mas aqui estou, chorando junto com a Inglaterra.

Meu telefone começa a tocar, olho quem é. É Nicholas, automaticamente meu coração começa a ficar acelerado e batucar, como bateria de samba brasileira. Atendo com as minhas mãos trêmulas.

— Nich… – eu digo, implorando para escutar a voz dele, mas ele não diz nada. — Tá dando tudo errado – eu digo, rindo. Começo a andar por todo o apertamento.

A minha cabeça começa a martelar com todos os comentários maldosos que já me foram dito. E eu começo a chorar mais ainda.

— Primeiro, ingleses não são nada simpáticos – constatei. — Segundo, eles fumam direto. Sério, principalmente em público. Nunca fumei maconha, ou coisa do tipo, mas é só andar um pouco pela rua, que é capaz de eu virar fumante nível experiente, ou então o maior maconheiro de todos – continuei com minhas constatações. 

Me lembro de uma vez que pedi para o homem fumar em outra direção, e ele continuou fumando na minha cara, então eu meio que – em português e espanhol – mandei ele enfiar o cigarro quente no cu, depois rodopiar no fígado dele e implorei para deus explodir a nicotina na córnea do olho dele, e ele me mandou deixar de ser babaca – em português, espanhol, francês, mandarim e alemão.

— E Nich… – respirei, fundo. — Eu estou tão sozinho – admiti, as lágrimas caindo no meu rosto, a voz embargada.

— Abre a porta – a voz calma, rouca e grossa de Nicholas me transportou para um lugar mais sereno. A voz dele é minha calmaria, não posso negar.

— Que porta? – perguntei. Ele riu. Céus, eu senti tanta saudades da risada rouca dele.

— A do apartamento.

Andei, a passos apressados, até a porta de madeira. Respirei fundo e abri.

Ele está ali. Na verdade, Nicholas está aqui. Bem na minha frente. Ele está mais lindo que nunca, se é que é possível. Olho para os braços tatuados dele carregando um buquê de flores, girassóis para ser mais exato. Olho para baixo, três malas. Respiro, relaxado. Não são malas para passar uns dias.

— Acha que Inglaterra tem espaço para nós dois? – ele perguntou, com um sorriso lindo.

Meu coração erra as batidas, quando ele pisca para mim e entrega o buquê para mim.

— Se não tiver, eu crio um agora – respondi. Nicholas deu um passo para frente, tocou meu rosto.

Céus, como eu senti saudades do toque dele. Começo a tocar o braço dele, coberto por um sobretudo curto, a pele dele é tão macia. Inalo o enebriante perfume dele. Sinto cada parte do meu corpo mais viva, mais acelerada, mais disposta, mais cheia.

— Eu te amo – ele disse, descendo a mão para a minha nunca. — E estava morrendo de saudades – o lábio dele tocou os meus suaves, ainda não foi um beijo, nem muito menos um selinho, foi apenas uma degustação do que está por vir. — Não podia esperar mais.

Nem eu, não posso esperar mais.

Pulo no colo dele, minhas pernas entrelaçam a cintura dele. Colo a minha boca na dele, e me sinto completo de novo, sinto meu sangue fluir mais quente, meu coração bater mais intensamente. As mãos de Nicholas percorrem todo o meu corpo, tateando minha bunda, minhas costas, meu pescoço, como se ele estivesse se certificando de que ali realmente fosse eu.

Mordo o lábio inferior dele, prestes a finalizar o beijo dele, mas Nicholas não deixa, ele me puxa de volta para um beijo mais quente e necessitado. A ereção dele roçando na minha bunda, um dos toques que mais senti saudades. O gemido rouco dele na minha boca é uma melodia perfeita.

— Acho que vamos ter muito o que fazer essa noite – sussurrei, gemendo. Nicholas está devorando meu pescoço. Ele me tira do colo dele e tira o sobretudo.

Nicholas não está usando nada por baixo do sobretudo, além de uma cueca box branca e meias. Me perco na visão escultural que é meu namorado. As tatuagens, os piercings – ele dessa vez colocou mais um, no mamilo que estava faltando –, os músculos, as coxas grossas, o pênis que me proporciona os melhores momentos de todos.

— Uau – foi tudo o que eu consegui falar, meu tesão não deixa eu formular muito as palavras.

— E tem mais – ele puxou uma das malas dele, uma preta e jogou os objetos no chão. Chicote, amarras, cordas, vibradores, óleos, máscaras, apenas uns exemplos do que ele tinha trago.

Finalmente, a Inglaterra vai se tornar interessante.

O Intercâmbio - Livro 2 | Off Campus (LGBT) - COMPLETOOnde histórias criam vida. Descubra agora