CAPÍTULO 7

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O Sol acaba de se pôr e todos já foram embora. Estamos apenas Andrea e eu… sozinhas. E eu tenho essa estranha sensação de que não é uma boa ideia.

Eu não a vi desde que chegou do hospital, espero que não esteja morta no quarto de hóspedes. A casa está finalmente calma e tranquila. Estou ouvindo uma melodia francesa, I Wish You Love, cantada em francês enquanto cozinho e cantarolo baixinho.

ANDREA - O cheiro está bom aqui.

Dou um leve sobressalto de susto e me viro, Andrea está encostado na porta de pijama, roupão e chinelos. Seu rosto limpo, sem qualquer maquiagem e um sorriso brilhante e terno. Sua presença me desarma. Não posso ficar sozinha com essa menina.

MIRANDA - Coq Au Vin… Frango cozido em vinho tinto.

ANDREA - Comida francesa... música francesa...

MIRANDA - Vivi muito tempo em Paris, adoro a França, não consigo me desprender da cultura de lá.

ANDREA - Parte do meu livro é em Paris.

MIRANDA - Como está se sentindo?

ANDREA - Bem, eu errei todo o caminho até aqui, apenas esbarrando em duas cadeiras e um pufe.

MIRANDA - Todo mundo esbarra naquele pufe.

Andrea me olha um pouco pensativa e por um momento me distraio olhando para seus olhos, brilhando como uma noite estrelada. Antes que tudo fique estranho, o telefone toca.

ANDREA - Ei, obrigada por me deixar ficar...

MIRANDA - Sim... está tudo bem.

Atendo o telefone.

MIRANDA - Olá. Sim, ela está.

Passo o telefone para Andrea. Para variar, a ligação não é para mim e para variar mais ainda, é uma mulher.

ANDREA - Olá. Ei docinho... Oh, você recebeu meu presente? Você gostou?

Isso é irritante. Ela está flertando com alguém na minha frente? Por que ela não vai para outro lugar, simplesmente? Não aguento isso. Coloco meus óculos e tento me concentrar no livro de receitas.

ANDREA - Ei, posso te ligar daqui a pouco? Diga a sua mãe para aguardar minha ligação… Okay... Te ligo daqui a pouco.

Ela desliga e devolve o telefone para o gancho.

MIRANDA - Olha, Andrea, não é como se fosse um esforço de imaginação saber que não acho você certa para a minha filha,  eu posso tentar lidar com isso, mas não gosto muito de ouvir você ao telefone com outras mulheres. É como se eu fosse uma cúmplice de sua traição, é...

ANDREA - Sua filha sabe que vejo outras mulheres.

MIRANDA - Ela sabe? Quer dizer, tudo bem, não é da minha conta... mas…

Tento abrir a garrafa de vinho mas minha irritação me deixa desconcentrada.

ANDREA - Ela sabe que não sou monogâmica e ela também não é... Já discutimos isso.

MIRANDA - Ótimo! E isso é o quê? Você está orgulhosa disso?

ANDREA - Não me orgulho. Apenas sou honesta. Sua filha disse que gosta disso em mim.

Ela pega o vinho de minha mão e abre com facilidade.

MIRANDA - Minha filha fica confusa quando se trata de relacionamentos.

ANDREA - Eu não a culpo. Estamos todos confusos, não?

Ela me entrega a garrafa de vinho aberta e sorri.

Alguém Tem Que Ceder (Mirandy - Intersexual)Onde histórias criam vida. Descubra agora