MIRANDA
O dia está no fim e Andrea e eu estamos caminhando à beira da água. Nós somos as únicas duas pessoas na praia e estamos conversando sobre nossos gostos literários. Ela está provando ser mais conhecedora da literatura inglesa, do que eu.
ANDREA - Jane Austen?
MIRANDA - Orgulho e Preconceito, claro.
Olho para ela e seus lábios carregam um lindo sorriso, seus olhos castanhos brilham intensamente para mim.
MIRANDA - "Em vão tenho lutado comigo mesmo; nada consegui. Meus sentimentos não podem ser reprimidos e preciso que me permita dizer-lhe que eu a admiro e amo ardentemente."
Ela suspira e desvia o olhar.
ANDREA - Humm, Darcy disse isso.
MIRANDA - Touchê!
ANDREA - "Por mais amável que seja o seu gênio, seu coração não é dos mais fáceis de atingir".
MIRANDA - Acho que está na carta que ele escreveu.
ANDREA - Estou impressionada. É uma fã?
MIRANDA - Não exatamente, mas li algumas vezes, quando me sentia triste demais em minha vida amorosa.
Não sei devia ter mencionado isso. O clima fica ligeiramente estranho e ficamos em silêncio por alguns segundos.
MIRANDA - Okay, Shakespeare.
ANDREA - A Tempestade.
Ela responde rapidamente.
MIRANDA - Sério? Achei que diria Romeu e Julieta.
Reviro meus olhos e ela sorri, negando com a cabeça.
ANDREA - De maneira alguma. Muito exagerado. A Tempestade é especial para mim.
MIRANDA - Eu não me recordo muito bem.
ANDREA - Havia uma personagem chamada Miranda, ela estava sendo cortejada por Ferdinand, filho do rei.
MIRANDA - E o pai dela quis dificultar para ele pois "vitória muito fácil desmerece o prêmio".
ANDREA - Exatamente. Lembro-me de uma fala do Ferdinand para ela, "Admirada Miranda, o máximo da admiração, merece o que há de melhor no mundo! Já olhei muitas damas com interesse e mais de uma vez a harmonia de suas palavras cativou meu ouvido atento. Por diversas virtudes, apreciei várias mulheres, mas nenhuma com alma tão plena que não tivesse algum defeito que afrontasse a mais nobre graça que possuísse, sobrepujando-a. Mas você, ah você! Tão perfeita e sem igual, foi criada do melhor de cada criatura."
Ela citou, com clamor, olhando em meus olhos, e senti minha respiração parar por um momento. Esse efeito que ela tem em mim, me deixa completamente vulnerável e confusa, sinto um impulso em beijá-la, mas não posso e pela primeira vez, é como se me doesse. Por que ela tem que ser tão sensível e intensa às vezes? Desvio meu olhar tentando fugir e volto a caminhar.
MIRANDA - Você decorou isso tudo?
ANDREA - Apenas minhas partes favoritas.
MIRANDA - Sim, eu entendi. Sabe, eu pesquisei você no google. Você cresceu em Ohio, onde eu achei que ninguém crescesse. Você foi assistente da melhor, mais linda e perfeita editora do país, trabalhou em alguns jornais até os vinte e sete, quando publicou seu primeiro e até então único livro, se estabeleceu como colunista do The New York Post, é professora de mini-cursos e palestras e tem um fã clube considerável.
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Alguém Tem Que Ceder (Mirandy - Intersexual)
Hayran KurguAndrea é uma mulher fechada aos relacionamentos por medo de se machucar, e acaba não se apegando a ninguém com quem sai. Sua vida é resumida ao trabalho, breves encontros, sexo e diversão. Miranda acredita que seu tempo para amar e ser amada já acab...