O2 - Perdido na Floresta.

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Bello carregando dentro de sí todos os sentimentos confusos e doloridos que lhe cabiam, agarrou o livro que segurava ainda em um abraço para aliviar sua tristeza, ainda encostado na porta em silêncio.

Em seu coração ele buscava respostas do porquê da cidade o tratar daquela maneira, e mais que isso, lhe machucava ouvir a forma rude como falavam de seu pai.

Mas ele sempre sorria, ignorando, o garoto acreditava que às vezes fingir estar tudo bem dava calma e tranquilidade ao seu pai.
Ele desencostou da porta começando a caminhar até a sala da aconchegante casa, alí ele pode ver de costas seu pai sentado numa cadeira de frente para a mesa terminando de arrumar qualquer coisa que pudesse ser.

Max o cão ficava ao lado no chão abanando o rabo em ânimo enquanto olhava Maurício trabalhando.
O garoto foi se aproximando aos poucos até seu pai notar que ele estava presente no cômodo, o senhor estava pouco nervoso e estressado por não conseguir finalizar o concerto de uma caixinha de música.

─ Eu realmente desisto, isso aqui não tem concerto. É tão antigo... Talvez eu realmente não sirva para essa profissão.

Murmurou o homem com tristeza na voz, ele sabia que não tinha mais idade para arranjar um trabalho fixo que fosse melhor que o que ele já fazia.

Bello como sempre, abraçou seu amado pai por detrás e esboçou um sorriso reconfortante para ele contornando seu corpo ao o soltar. O mais novo não deixava ele desistir de maneira alguma e faria de tudo para apoiar o pai em tudo o que ele fizesse.

─ Papai, o senhor sempre diz isso. Mas é assim que me deu tudo o que tenho desde criança.

─ Mas agora é diferente, meu filho. E você diz como se eu tivesse lhe dado tudo do bom e do melhor. Realmente eu queria que fosse assim, mas infelizmente eu não pude... - respondeu desapontado o homem que suspirou colocando a caixinha sob a mesa.

─ Mas e quem disse que não? Sei que o senhor trabalhou todo dia sem parar, que ouviu coisas ruins. Eu não trocaria nem de vida e nem de pai, pois tenho ambas as coisas melhores do mundo. - Bello afirmou sem deixar de sorrir enquanto pegava novamente a caixinha de música cor-de-rosa e estendia ao pai com êxito. ─ Sei que é capaz de tudo papai, e vai se tornar o inventor mais famoso da cidade grande!

─...Você acredita mesmo meu filho?

─ Eu sempre acreditei.

Maurício respirou fundo sentindo-se confiante e pegou a caixinha que foi logo dando jeito em concertá-la.

Enquanto ele realizava esta ação, seu filho se sentou em uma cadeira perto à ele com uma expressão perdida nos pensamentos, diferente da animação de segundos atrás. O garoto levou a destra até seus emaranhados castanhos escuro junto de um suspiro pesado e quente.

Bello não queria incomodar seu pai com esses assuntos, ainda mais sabendo que ninguém nessa cidade mudaria do dia para a noite. Porém, era inevitável não sentir algo desagradável no peito.

─ Papai... Me diga. O senhor me acha, bom, estranho de alguma forma?

─ Estranho?! O meu filho estranho?! - respondeu em confusão e espanto o homem.

─ Obviamente que não. De onde tirou uma coisa absurda como essa?

Bello se levantou de onde estava sentado e começou a caminhar pela sala sendo acompanhado por Max, ele respirou fundo mais vezes que se podia contar antes de responder com sinceridade a pergunta de seu pai.

Ainda sem direcionar o olhar ao mais velho o garoto admirava os retratos no armário, e uma foto única de sua mãe cujo ele sempre tocava com os dedos procurando alguma maneira de sentir o calor daquela que lhe deu a vida e hoje já não estava mais presente.

The Inner Beast. Vol 1. [EM RETA FINAL]Onde histórias criam vida. Descubra agora