O4 - A Fera.

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A escuridão da sala ampla cobria a face do homem em sua frente, Maurício sentia o coração bater mais que em toda a sua vida. Ainda não haviam palavras, mas ele podia sentir o olhar frio e sem vida da figura monstruosa sobre sí.

O homem alto caminhou até o senhor que se levantou assustado com a aproximação.

── Quem é você e o que está fazendo dentro da minha casa?! ─ falou pela primeira vez o homem em uma voz grossa carregada de fúria.

── E-eu... ─ gaguejou Maurício. ── Eu me perdi na floresta e...

── Você não é bem-vindo aqui! interrompeu a Fera que em um único movimento segurou a poltrona onde antes o mais velho estava sentado e lançou para longe.

Maurício estava tão apavorado quanto surpreso que existia realmente um "homem fera" e que este vivia naquela mansão praticamente abandonada.

O homem que antes estava pouco curvado analisando o senhor, se ergueu notando que este o olhava nitidamente amedrontado, porém conseguia pouco vê-lo devido ao escuro.

── O que você está olhando?! ─ indagou o mais alto para o velho.

── Oh. Nada! Por favor, perdoe-me esse incidente.

── Então você veio ver a Fera, não veio?!! ─ rosnou o homem já perto o suficiente do senhor que estava visivelmente trêmulo devido ao medo do que lhe podia acontecer.

── Não não! Eu só queria um lugar para ficar, é só isso, eu juro!

── Oh, é?! Pois bem. Eu lhe darei um lugar para ficar, até amanhã quando eu dar uma maneira de colocar você na cadeia por invadir a minha casa!

Maurício não teve tempo nem de se explicar ou até mesmo tentar correr, sabia que a fera seria muito mais rápida em fazer alguma coisa.

As mãos grandes e gélidas do homem fera tomaram Maurício pela roupa, e o puxaram para fora daquela sala levando o senhor até o último andar da casa onde o trancafiou em um dos quartos abandonados.

Maurício se encolheu no canto junto a objetos quebrados e outros cobertos por panos brancos, sabia que este era seu fim, e seria preso.

O que seria de seu filho? Era a única coisa que ele conseguia pensar naquele momento. A poeira do lugar começou a lhe fazer efeito, se manifestando com tosses e espirros. Internamente ele apenas pedia aos céus que Bello estivesse bem.

{...}

Ajoelhado no jardim, as delicadas mãos de Bello terminavam de repor toda a terra da horta cujo seu maior admirador tinha feito questão de pisar antes de se retirar de sua residência.

O entardecer repousou na pequena cidade e o garoto ainda tinha esperanças de que ao menos uma correspondência do pai chegasse dizendo que estava tudo bem, uma ligação no telefone fixo, um sinal de fumaça que fosse.

Seu pai não costumava fazer suas viagens e não lhe avisar onde estava e quando voltaria, porém, o rapaz logo teve o início de suas respostas quando pode ouvir se aproximando os latidos de Max que adentrou o singelo jardim indo de encontro a Bello que com surpresa envolveu o cão nos braços.

Bom, então o pai voltara mais cedo. Mas, se ele estava alí, onde estava seu pai?
Bello se levantou as pressas e andou até as ruas da cidade, não avistou Maurício e muito menos ouviu os rangidos e estalos do carro dele.

O garoto correu de volta para casa sentindo a flor do desespero desabrochar em seu estômago.

── Max! Meu Deus! Onde está papai? Porque você está sem ele? ─ Bello perguntou ao cachorro como se ele realmente pudesse responde-lo. ── Tudo bem, leve-me até ele. Vamos!

The Inner Beast. Vol 1. [EM RETA FINAL]Onde histórias criam vida. Descubra agora