03. ENCURRALADA

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Necessitadamente suas narinas inalaram o ar que tanto ansiava seus pulmões, mas todavia aquele órgão não estava disposto a receber oxigênio, certamente era evidente a falta de circulação sanguínea em seu corpo, uma vez que mesmo não sendo capaz de fitar sua expressão sentia que a palidez havia assumido sua expressão.

Ligeiramente seus olhos buscaram uma constatação de brincadeira na face daquele homem, todavia para seu desespero ela permanecia inalterável, inexpressível e seria o suficiente para temer que tais palavras fossem verdadeiras.

—Não – roucamente escapou de seus lábios – Não – repetiu em uma necessidade de proferir com melhor clareza suas palavras, uma necessidade que obrigou a limpar sua garganta que inesperadamente encontrava—se obstruída pela falta de palavras ou excesso, mas de palavras inapropriadas— Não acho graça nenhuma nessa brincadeira – conseguiu proferir finalmente a frase que formara seu consciente.

Estaticamente seus olhos encaravam aquela face masculina, inalterada, mas relaxada, Field  ansiava por uma gargalhada irônica, seguida de palavras cafajestes que a repreenderiam por ainda ter devaneios românticos com ele, contudo aquela cena permaneceu apenas em seu inconsciente.

—Não é brincadeira – garantiu em um tom perturbadoramente sério – É uma proposta conveniente para ambos – vociferou em um tom de negócios – Afinal, aposto que está disposta a fazer o que for necessário para me ter longe dos seus negócios e da sua vida – concluiu com as palavras embargadas de certeza, acompanhadas de um suave movimento em seus lábios.

Confusa, Emilia encontrava—se confusa, uma confusão que acentuou—se com aquele discreto sorriso que mascarava a satisfação que aquele homem sentia por suas palavras serem embargadas de solida razão, algo perturbador, quando sua própria razão lhe falhava e consciente e inconsciente a abandonavam em uma súbita covardia de se arriscarem a cogitarem qualquer possibilidade.

Porém o despertar foi inevitável, assim que seus olhos tiveram sua atenção roubada com um movimento daquele corpo desvantajosamente maior que o seu, um movimento ameaçador onde Tobias  em movimentos suaves afastou seu corpo da mesa e ameaçou suprir a distância entre ambos.

— A não ser que ainda minha presença seja perturbadora – insinuou em um tom de curiosidade, mesclado com certo divertimento – E a faça ter receio que possa despertar sentimentos que prefere negar– constatou, enquanto seus passos supriam a distância entre ambos.

Obrigando suas funções a se normalizarem, consciente ser tomado por razão e palavras se prepararem com uma fulminante defesa capaz de pôr fim a aquela irracional proposta e dialogo, ciente da necessidade de fuga, pois mesmo não sendo capaz de reconhecer sabia que uma proximidade não faria bem a sua sanidade.

—Não seja ridículo – disparou, rumando para o lado oposto da sala, extinguindo qualquer possibilidade de proximidade entre ambos – Não me sinto atraída por você, Tobias  – garantiu, encontrando uma peculiaridade naqueles olhos verdes que a fitavam com uma desnecessária e incomoda atenção.

—Ótimo – vociferou enfaticamente – Então não há motivos para recusar minha proposta— insistiu.

—Nem para aceita—la – repôs, defensivamente, obrigando que nenhuma parte de seu consciente cogitasse tal insana proposta.

Satisfeita por finalmente haver recuperado seu autocontrole, o encarou sem temor, mas não era tarefa fácil sustentar o olhar, quando aquele homem parecia buscar analisa—la com tamanha atenção, não o compreendia, tão pouco queria faze—lo, apenas necessitava dele fora de sua sala, vida e quem sabe, com sorte, de sua história.

—Se aceitar – cogitou em um tom persuasivo – Estarei fora de sua vida em um prazo máximo de um ano – revelou.

—Não – replicou efusivamente.

Duas vezes Você [✓]Onde histórias criam vida. Descubra agora