26. CAPÍTULO SECRETO

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Oh, natureza, o que houve no inferno. Se ao coroar a fronte de um demônio, usaste carne tão celestial!

Que moreno assim tão sórdido já teve. Capa tão linda!

Dramaturgo e poeta, William Shakespeare, cativante e icônico com suas obras, jamais dissera palavras tão verdadeiras por meio de sua personagem mais marcante – entre os românticos – Julieta Capuleto.

Aos doze anos, quando como uma jovem – a procura do homem sobre o cavalo branco, tão heroico quanto seus atos – Emilia achou '' Romeu e Julieta'' – ou teve— tal obra como sua aspiração de vida, ou seja, seria capaz de morrer por seu amado, caso contrário não duvidava da possibilidade de morrer de amor.

Porém, aos vinte anos – em uma noite chuvosa e entediante – relendo aquele texto shakespeariano, chegou a óbvia e pratica conclusão: jovens tolos, Romeu e Julieta, tão precipitados, como seu amor imaturo. Rindo diante daquele amor utópico – sem sentido e razão – tão imaturo quanto a idade dos protagonistas, que pouco haviam vivido para entender sobre o amor – pois poderiam eles terem se deixado levar pela efêmera paixão – naquela noite –a alguns anos atrás— ela riu diante dos jovens, tendo a certeza que o amor não poderia levar alguém a morte.

E mesmo não estando em uma de suas paixões literárias, aquelas palavras ressoaram em sua mente, com o simples movimento de seus olhos, ao fitar aquele jovem homem, parado diante de si – tão belo e diabólico – como a descrição do poeta.

Enquanto voluntariamente ou não, o ar se prendia em seus pulmões, analisou o tecido da camisa branca – tão firme – que escondia os músculos que apenas se tornavam visíveis com o movimento dos pulmões daquele ser, os cabelos desarrumados pareciam algo proposital, mas os pelos – em sua face – ameaçando nascer – junto com o dia que em poucas horas se anunciaria – era a evidencia de que ele queria transparecer tão casual como seu sorriso masculino: curvado apenas em um dos lados de seus lábios, enrugando as expressões abaixo dos olhos que reluziam sem cansaço. Mesmo com seu corpo, tão relaxadamente, recostado no batente branco da porta.

E o demônio, possuía uma bela capa, algo perturbador para aquele noite.

Concluiu, enquanto seus finos dedos seguravam a porta, sem esconder seu corpo, como se aquela analise tivesse ocupado horas de seus dias e não os poucos segundos que o levou encarando, até ser capaz de encarar a realidade.

Mas naquela noite, Emilia já tinha uma certeza, que aqueles olhos desconheciam: ali ele não permaneceria.

Infelizmente, não possuía nada acessível para agredi—lo, como imaginará, minutos antes.

Poderia fechar a porta.

Sim, poderia.

Caso – estrategicamente ou não – ele não estivesse parado exatamente no batente a fazendo se perguntar em que momento dera um passo capaz de impedi—la de bater aquela reta madeira contra sua face. Afinal uma tentativa, apenas o machucaria, porém não colocaria a distância necessária que ela ansiava – creia fielmente ansiar ...

E todos – absolutamente – todos seus pensamentos foram roubados quando reconheceu algo naquele olhar: lascívia.

Pura, desejosa, cálida e contagiante lascívia, que apenas acompanhava o movimento daqueles globos oculares que se limitaram em descer e subir sem pressa alguma pela estatura de seu corpo – principalmente no que pareceu ser na direção de suas pernas – seu corpo aqueceu. Inapropriadamente sentiu—se quente demais para alguém que estava com uma leve vestimenta.

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