As mentiras mais cruéis são frequentemente ditas em silêncioRobert Louis Stevenson
Diante de seu fraco com os cálculos, Emilia quando jovem preferiu dedicar—se a algo em que se saia melhor – ou que talvez compreendesse melhor – e a literatura era esse contra preso a suas dificuldades.
— Estas son las mañanitas que cantaba el rey David. Hoy como es tu cumpleaños te las cantamos a ti. Despierta, mi bien, despierta; mira que ya amaneció. Ya los pajaritos cantan la luna ya se escondió. Qué linda está la mañana en que vengo a saludarte. Venimos todos con gusto hoy placer a felicitarte. [...]— em um ritmado coro, as dezenas de pessoas que ocupavam a grande sala enfeitada, do quarto andar, cantavam em torno da morena sorridente.
Inconscientemente batendo as palmas da mão, a mulher de cabelos castanhos estava com seus pensamentos distantes da realidade diante de seus olhos. Naquele momento seu amor por literatura a perturbava e as palavras do escritor inglês – Stevenson – ecoavam em sua cabeça, talvez fosse melhor recordar todas as páginas de ''O médico e o monstro'' e ter a certeza que o ser humano era capaz de ter dois lados, mas não, era uma simples frase sobre mentira que a perturbava naquele final de tarde.
— Faça um pedido — gritou Leticia , arrancando Emilia de seus devaneios a luz do dia.
Tragando a saliva, a mulher desatenta forçou um sincero sorriso em seus lábios, olhando o delicioso bolo no meio da enfeitada mesa com toalha colorida, alguns docinhos, guardanapos, copos e bebidas, ateve—se a atenção nos curtos pavios que queimavam das pequeninas velas.
— Parabéns amiga — abrindo os braços, a loira envolveu Francesca em um forte abraço enquanto seus lábios se ocuparam a proferir sinceros desejos.
Em um curto espaço de tempo, Field se viu incumbida da mesma tarefa, algo que momentaneamente a obrigou gostar da realidade afastando os problemas. E alargando os lábios, envolveu a amiga – quase irmã— em um abraço tão sincero quanto as palavras que escaparam de seus lábios.
E sequencialmente todos os presentes seguiram o mesmo metódico ritual, a alegria estava espalhada pela sala de alguns metros quadrados, porém o melhor presente era o sorriso sincero de Francesca ao comemorar mais um ano de vida.
Entre abraços, palavras, presentes, comida e bebidas, Emilia se viu parada em um canto da sala, segurando um copo de suco entre suas mãos, com os olhos atentos à movimentação a sua frente – porém com seu consciente e inconsciente roubando toda sua atenção ao leva—la para longe dali – perdida em seus pensamentos e explanações indefinidas, somada com o ódio e a vontade de castrar aquele que se dizia seu noivo, ela levou o copo de plástico vermelho até seus lábios, sentindo toda a textura do grosso suco de frutas, rangeu os dentes uma vez mais.
Cretino! Maldito! Desgraçado! ... Idiota, você é uma idiota Emilia Field
Como um ensaiado mantra aquelas palavras repetiam—se sequencialmente em sua cabeça, evitando cerrar as pálpebras, pois se o fizesse a cena daquela tarde se repetiria na escuridão de sua mente, frustrada expirou com fúria o ar para fora de seus pulmões, tremendo suas pequenas narinas. Indesejavelmente o incomodo em seu estomago não a deixava, um aperto no peito e aquela ignorada necessidade de posse sobre um ser humano que odiava a estava inquietando de uma forma irritante, que somente algo ensaiado era capaz de afastar a profundidade daquelas sensações.
— Problemas no paraíso? — um tom envolvente, mas discreto ecoando próximo a o ouvido de Emilia, a arrancou de seus pensamento.
Ligeiros, seus olhos encararam a loira sorridente, porém com um olhar triste contemplar inexpressivamente as pessoas que preenchiam aquele espaço, enquanto seus lábios abocanhavam a borda do copo, saciando um sede que parecia não existir.
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Duas vezes Você [✓]
RomanceQuantas vezes uma pessoa tem o direito de invadir a sua vida e destruir tudo? Emília Field tem a resposta para essa pergunta na ponta da língua: 2x ou duas vezes. Duas vezes é o número exato que teve Tobias Nash como protagonista em sua vida. Her...