31. SENTENÇA AO PECADOR

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É hora de cada um seguir seu caminho.

Obrigado por tudo!

                                                 Emilia

Aquelas simples palavras queimavam em sua mente como uma recordação vivida. E quando aquele punho cerrado acertou a lateral de seu olho – sem que ele se desse conta— a dor não se comparou com a dor daquelas palavras.

Caído sobre o piso de madeira, apoiado pelos cotovelos, enquanto o caos se formava diante de si, ele tinha certeza que nenhuma outra dor poderia ser produzida em seu corpo maior do que aquelas palavras lhe causaram.

— Seu moleque ridículo — aos berros a voz daquele homem furioso ecoou entre as paredes — Vou destruí—lo — garantiu, enquanto seu corpo que era segurado por dois homens, se debatia.

Já me destruíram

Diante da ironia seus lábios se curvaram, o que deixou o homem diante de si mais irritado.

— Você vai afundar essa empresa

— Não mais do que você pretendia — rebateu o velho, muitas vezes calado e humorado.

Tobias  não precisava olhar para saber que aquela voz era de seu tio. Muito menos podia deixar de reconhecer o ressentimento para com seu – agora— não mais sócio, afinal por culpa dele – e divergências de ideia – Beto havia se afastado de um posto que havia recebido com tanto carinho a anos atrás.

Pelo bem da empresa

Sempre dizia, para justificar sua saída e a permanência de Nicolas.

A colônia de Diogo  invadiu suas narinas, quando dois braços o ajudaram a levantar do chão, trazendo sua realidade à tona. Tobias  se pôs em pé enquanto o alvoroço não era maior devido a presença da polícia – ou dos dois oficiais que seguravam Nicolas – sérios e decididos.

— Tirem o daqui — gritou um dos velhos do conselho.

— Vocês vão me pagar — gritou audivelmente o homem enquanto era arrastado para fora.

Apoiando na cadeira a sua frente, Tobias  encarou a cena, ainda meio apático. Não esperava que aquele anuncio, a apresentação das provas e a presença da polícia – que já tinha todas as provas— fossem causar aquele alvoroço.

— Tobias  — aquele voz roubou sua atenção

Encarando o velho advogado – amigo da família e consultor – o observou manter a mesma expressão séria com a que entrara naquela manhã, já sabendo sua missão.

— Até novas eleições cabe a você a presidência — anunciou, assim que os demais se calaram.

Umedecendo os lábios, encarou o velho homem, sem vontade alguma inspirou o ar – sentia—se morto – seu olho não doía, apenas seu peito.

—Eu não quero — se surpreendeu ao se ouvir dizer aquilo, afinal por anos esperara e ansiara pelo cargo.

— Como? — algumas vozes soaram em sua direção.

Passando a mão em suas despenteadas madeixas, olhou para os olhares confusos ao seu redor, a sala estava extremamente iluminada, o Sol da manhã invadia as grandes janelas, porém sentia—se em uma noite eterna.

Tombando seus ombros, encarou os negros olhos ao seu lado direito, de um amigo que apesar de compreende—lo não soube esconder a surpresa e do outro o velho olhar de um homem sábio, que sabia tanto de si como do mundo, sua única família. E por um momento – breve – ele soube o que fazer.

Duas vezes Você [✓]Onde histórias criam vida. Descubra agora