Duas vezes Você [✓]

25. HAUTE COUTURE

Haute Couture vulgo Alta Costura

Desde que aprenderá a andar, compreender as primeiras palavras e o mundo que a cercava, Emilia se viu aficionada pelo glamorosos mundo dos tecidos –dos mais variados—, pedrarias, bordados, botões, apliques, tesoura, lápis e a folha de papel para esboçar qualquer coisa que sua mente pudesse imaginar.

Jamais se vira em outro mundo ou talvez a necessidade de seguir os passos de seu pai a impediu de ver o mundo a fora, longe dos tecidos e tesoura. Não ignorava as outras formas de arte ou profissões, afinal se encantava pelo ballet, admirava quem era capaz de salvar vidas, suspirava diante da adrenalina que a vida sobre um tablado de teatro poderia causar, aplaudia a maravilhosa dicção e habilidade de convencimento dos defensores dos mais oprimidos ou menos necessitados, mas jamais – nunca— imaginara sua vida longe daquele lugar, sem um lápis, papel, pedaço de tecido, tesoura, fio, pedrarias e um molde, era tudo em sua vida – era onde tudo tomava sentido.

O encanto pela bela articulação das modelos, maquiadores, fotógrafos e todos que trabalhavam para criar um mundo que existiria apenas por alguns minutos ou um pouco mais de uma hora. Admirava o que consciente ou inconscientemente era capaz de criar. Suspirava diante daquele público à espera de algo que seus dedos foram capazes de desenhar e inúmeras mulheres a darem vida ao que havia imaginado, aplaudindo estas com tanto louvor, que agradecimento era pouco. E a adrenalina, ali estava a adrenalina, diante daquelas luzes – que alguém que detestasse poderia dizer que estava cego – o aroma de perfume, maquiagem, laque e entre outros que se alastravam pelo ambiente. O zumbido de inúmeras vozes que se mesclava com a do público a fora, poderia parecer que estavam discutindo em alguns momentos, mas no final era apenas a exaltação da alegria.

Habilidosos, os dedos de Emilia, furava o tecido de lá – da bela saia—  com a média agulha presa em um fio preto, um ajuste a mais de última hora, afinal quem iria prever que uma das modelos ficaria doente e teria que ser substituída de última hora. Diferente da última vez, que parecia necessitar fugir, pois aquele palco anterior havia sido armado por seu pai, naquele momento queria fazer parte do espetáculo que ela criara e não para superar seu mentor que sempre dissera:

Alta costura deve ser feita a mão, mas é a alma do estilista que deve ser deixava em cada traço, detalhe e botão pregado.

Não estava ali para superar Germano. Não porque não poderia — simplesmente não queria – mas estava ali, naquela noite, para que ele se orgulhasse de si e soubesse – a cada apresentação de uma nova roupa – que seus passos estavam sendo seguidos, regras ouvidas e conselhos guardado com tanto carinho em um cantinho que talvez apenas compartilhasse com alguém que tivesse o mesmo amor que ela por aquele mundo.

— Pronto — arrebentado o pedaço do fio com os dentes, liberou a morena alta, que permanecera imóvel durante longos minutos.

Em pé, vislumbrou a agitação, atrás de um palco que a aguardava, de um público que a julgaria e um sonho que se realizaria ou arruinaria. Mas sinceramente, ela pouco se importou no que estava por vir, pois naquele momento queria fazer parte daquela agitação. Escutar os gritos dos cabelereiros, ver estrelinhas com os intrusos fotógrafos que capturavam a imagem de cada moça, espirrar com a mescla de aromas e sorrir com Leticia , que agia como uma carrasca ao gritar quantos minutos restavam.

Enchendo os pulmões com ar, sentiu a necessidade de entrar em ação, afinal contra si o ponteiro do relógio corria, mas seus lábios eram contraditórios, pois se curvavam com alegria.

— Vamos lá pessoal — elevando o tom, bateu uma palma contra a outra, buscando ser ouvida — Faltam dez minutos. Quero as primeiras modelos em fila — ordenou.