16 de Novembro, 1973
Se eu disser que me lembro do que estava fazendo no momento em que tudo aconteceu, estarei mentindo. Não consigo formar o rosto de meus pais, os cômodos da minha casa ou que roupas usava.
Uma batida. Sim, começou com uma batida na porta. Consigo sentir o arrepio que percorreu minha coluna e o calor transmitido da tigela de sopa que estava em minhas mãos.
Alguns homens entraram, e isso eu tenho certeza, armados. Estavam de preto, encapuzados e pareciam um esquadrão enviado pela morte. Eles mataram meus pais. A sangue frio e queima roupa.
Escorreguei na sopa e no sangue assim que eles me arrastaram para fora.
Honestamente, não sei onde morava ou onde nasci. Também não lembro meu sobrenome e nunca ouvi um nome que soasse familiar para presumir que fosse dos meus pais.
Meu nome é Helena, e sei a data do meu nascimento. Me chamam de Agente55, por enquanto. Sei que me levaram dois dias antes do meu aniversário de 18 anos, no ano de 1973. Isso é tudo que sei além de alguns poucos hobbies e gostos, e minha aparência.
No momento estou no chão, tremendo de medo, raiva, fome e frio. Acordei com uma dor no pescoço, onde devo ter sido atingida com um tranquilizador. Estou tendo espasmos, e minhas mãos estão doloridas porque devo ter sido arremessada contra este piso de cimento batido.
Escuto vozes masculinas, gritos e murmúrios. Acho que tem uma goteira aqui perto, o que explica a umidade absurda e o cheiro de cachorro molhado e mofado. Eles estão falando em... russo, talvez?
E estão se aproximando.
- Levanta! - Um homem de farde verde, boina vermelha e coturno. - Agora!
A porta da cela abriu, e ela parecia surrealmente pesada. O homem atrás dele deu um passo a frente e balançou um par de algemas.
- Levanta!
Embora eu tentasse com todas as minhas forças, meu corpo não aguentava e cedia. Bati no chão três vezes, até que na quarta consegui me ajoelhar. Estendi as mãos para que ele colocasse aqueles círculos metálicos gelados em meus pulsos avermelhados. Avermelhados? Devo ter sido amarrada, e amordaçada, o que explicaria minha garganta seca.
Outro homem se aproximou, mas dessa vez entrou na cela e me pegou pelos braços. Fui arrastada até o corredor, onde outro soldado o ajudou a me carregar.
- Nós não entramos nas celas. - O líder vinha atrás, explicando superficialmente algumas regras. - O único momento em que ficará relativamente sozinha.
O lugar todo era frio, metálico, solitário, estressante, úmido e cheio de soldados. Me jogaram em uma gaiola metálica, com bancos nas laterais e painéis de acrílico fechando os vãos das barras da caixa. Me amarraram em uma cadeira largada no centro e me plugaram em alguns fios, tubos e amarras.
- Geralmente ela não fica aqui, mas hoje é um dia especial. - Um homem de jaleco branco e roupas civis entrou checando seu relógio. Uma prancheta estava em seu braço esquerdo, que estava enfaixado e ensanguentado. - Bem-vinda, Srta. Helena.
- Onde estou? - Honestamente me surpreendi que pudesse falar.
- Olha, faltam doze horas para seu aniversário de 18 anos... - Ele se aproximou e checou alguns monitores ao meu redor. - Seu nome por enquanto é Agente55.
- O ano que nasci...
- Ora ora, você se lembra de algumas coisinhas.
- Quem é você?
- Dr. Merkell. - Uma agulha entrou em meu braço. Gosto de pensar que era algum sedativo o vacina. - Vou cuidar de você e monitorar seus avanços.
- Onde estou? - Comecei a puxar meu braço, mas as travas eram feitas de metal. Que ideia genial a minha.
- Bem-vinda à Sibéria, minha cara. - Aquele homem me dava medo. - Sou o General Markov.
Não tinha percebido, mas o lugar estava cheio. Um círculo de soldados armados até os dentes mirava em mim.
- Você será parte da mudança que o mundo precisa. Será nosso punho, 55. - Um balde de água foi jogado em mim. Colaram alguns eletrodos em minhas têmporas e me forçaram a abrir a boca. Um protetor bucal preto encaixou perfeitamente em minha arcada superior. - Bem-vinda à HYDRA.
Alavancas e chaves foram acionadas. Senti um pulso elétrico surreal percorrer cada pedacinho do meu corpo, e alguns entravam diretamente em minha cabeça. Perdi o controle de meus músculos e me debatia. O curioso é que ainda estava consciente. No momento dos choques consegui formar uma imagem de meus pais, minha casa e meus amigos. Me lembrei de algumas coisas de meu passado e me atei a elas.
Não, eles não fariam uma lavagem cerebral em mim ou qualquer coisa do gênero. Não sem obter explicações do que diabos era HYDRA e o que estava fazendo aqui no fim do mundo.
- Ela aguentou, senhor. Mais do que ele. - O médico parecia chocado, assim como o General. - Ela é realmente a melhor para o programa.
As vozes sambavam em minha cabeça, e não conseguia entender muito bem o que as palavras significavam.
- Amanhã começaremos o treino dentro do projeto. - Markov se afastou lentamente, me encarando. - Isso é sigiloso. Sem alterações genéticas nem nada..., bom, se atenha ao arquivo.
- Sim, senhor. - Merkell se aproximou checando o conteúdo de uma seringa. - Amanhã você receberá um presente por seu aniversário, Agente... Bons sonhos na Sibéria.
Acho que é óbvio que apaguei depois disso.
![](https://img.wattpad.com/cover/248752757-288-k43782.jpg)
VOCÊ ESTÁ LENDO
Cavaleira das Trevas • Bucky Barnes
FanfictionUma jovem selecionada foi designada para ser a dupla do maior soldado da história: o Soldado Invernal. Mas após anos de tortura, será que eles ainda se lembram um do outro? RANKING: #1 in Espionagem - 10.04.2023 #2 in Espionagem - 03.04.2023