"A Queda"

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17 de Dezembro, 1991

- Ouvi que é hoje... - Yelena enrolava o cabelo no dedo. 

- Ele já trouxe o soro. - Terminava de ajustar minha trança. - Que ideia genial... Criar soldados como ele... Mas em larga escala? Que bobagem...

- Eles podem se tornar errático como Niko... Mas nem alterado geneticamente ele era. - Belova olhava pela janela como uma adolescente trancafiada. - Você o ama, né?

- Que pergunta! Mas é claro que sim! - Sento ao lado da jovem. - Ei, você tem certeza que não quer fugir comigo? 

- Estou bem... Quero acabar o programa para depois fugir. - Seus olhos estavam vidrados em meu colar. - Assim como Nat... Agente dupla... Tripla, quádrupla... Você não deveria estar usando isso.

- É perigoso, eu sei... Mas foi Bucky quem me deu... - Meus dedos encostam na pedra vermelha da rosa, minha flor favorita. - Em nossa primeira missão no exterior.

- Se você fugir no caminho para a KGB, como pretende salvá-lo? 

- Acho que sempre é mais fácil pensar quando se está fora de uma situação. - Me posiciono perto da porta. - Vou sentir falta de ter você se infiltrando aqui.

- Só colocando meus aprendizados teóricos em prática. 

Minhas botas ecoavam pelo corredor. Sentia o ar gelado dos sub níveis conforme me aproximava da passagem subterrânea entre as instalações da HYDRA e da Sala Vermelha.

Abri as portas metálicas e me reportei para dois oficiais que me escoltaram até o centro de minha antiga casa. 

- Bem-vinda de volta, Soldado Invernal. - O General me aguardava ansioso.  - A injeção do soro em nossos escolhidos já foi concluída. Estão prontos.

Entro na jaula que costumava treinar anos atrás. Nada mudou por aqui. 

- Sentido! - Haviam cinco deles. Que loucura e irresponsabilidade. - Sou a Soldado Invernal que treinará vocês até saírem do nível básico-intermediário. 

- Com todo o respeito, já somos soldados treinados. 

Me apoio na parede ao meu lado, pego seu braço, rolo no chão, me apoio em seu pescoço e parto para derrubar os outros quatro.

- Não, não são. Sentido!

Isso vai me dar dor de cabeça.

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17 de Fevereiro, 1992

- Muito bem, soldado. - Dreykov deu alguns tapinhas em minhas costas. - Você os deixou prontos em dois meses. 

- Agradecemos por seus serviços. - Madame B. me entregou uma bolsa com poucas roupas que eu tinha. - Dispensada.

- Você tem duas horas para se mandar da Sibéria. Estaremos te monitorando. - O Médico-verme me entregou uma chave de moto. - Um carro te levará até Moscou assim que chegar na fronteira. 

- Sem despedidas. - O General falava de Bucky. - Já tiveram muitos momentos juntos.

Sai sozinha, sem escolta ou olhares curiosos. 

A carona estava esperando em um local abandonado, longe de olhares curiosos.

"Me desculpem".

Abri minha bolsa e atirei nos dois homens dentro do carro. Coloquei-os no acostamento e peguei um dos celulares em seus bolsos. 

- Senhorita? 

- Senhora? - Era Romanoff. 

- Localização? 

- Palácio. 

Significando aguardar na frente do Kremlin. 

Jogo o aparelho no chão e quebro-o com meu pé. Ligo o carro e dirijo o mais rápido possível. Chego em um aeroporto e compro uma passagem. Amarro o cabelo e o cubro com pano para não ser reconhecida. O voo dura quatro horas. 

- Senhorita? - Paro atrás de uma figura de coturno e sobretudos pretos. O cabelo ruivo se destaca na multidão.

- Senhora. - Natasha parece surpresa em me ver após dez anos. - Vamos andando?

Caminhamos por algumas horas até entrarmos em um apartamento velho e pouco mobiliado. A agente tirou o casaco e sentou no sofá.

- Precisamos conversar. - Ela apontou uma cadeira. - É sobre James.

Isso não era bom. Por que ela está chamando ele de James?

- Nós voltamos a treinar enquanto você estava congelada... - Suas pernas demonstravam inquietação. - E nos tornamos próximos... Mas não como vocês eram... Ainda era o Soldado Invernal falando comigo...

- Vai direto ao ponto, Nat. 

- Consegui quebrá-lo... Descobri algumas coisas que podem ser chocantes sobre o programa. - Romanoff evita me encarar. - Você foi selecionada a dedo para se tornar quem você é, mas não descobri quem te indicou... E além de criarem outra como ele, queriam algo bem específico: um soldado com DNA alterado em 50% como o dele e 50% como o seu...

- Natasha... Você quer dizer... Que seria apenas uma reprodutora? - Levantei furiosa. - Queriam que eu tivesse um filho? 

- Calma, Helena... - Ela segura meus braços. - James não sabia disso... Não era para ele se apaixonar e vocês iniciarem um relacionamento... Ele te ama e, por favor, acredite em mim!

- Mas ele não foi doutrinado a isso? Seguir missões? - Por que eu estava duvidando dele? Eu sei que ele me ama mas... - Eles podem ter implantado...

- Chega! - Romanoff me joga no sofá. - Ele não ficou com você por instinto ou como parte da missão! Ele te ama e muito! Mas doutrinaram ele para se tornar carnal e te esquecer... Me perdoa...

- O que isso significa? Que ele não lembra de mim?

- Ele lembra, mas o doutrinaram para sentir atração física como forma de te suprimir no inconsciente dele... 

- Falou bonito, mas isso significa que ele dormiu com outra?

- É, no caso, eu...

Sua bochecha ficou vermelha e suas mãos me soltaram, bem lentamente. 

- Certo, certo... Como você pode? 

- Tive que aceitar... Era a missão dele e a minha, para a KGB, era conseguir informações dele... E suas...

- Ah, por favor!! - Me aproximo dela. - Por que então quer se aliar a mim? Por que me chamou aqui então?

- Porque eu sou uma agente dupla, Helena. - Natasha puxa um arquivo de uma gaveta. - E sei que isso vai ser interessante para você.

Abro a pastinha e vejo alguns nomes grifados: James, HYDRA, Madame B., Dreykov, General, Médico e Yelena. 

- Você quer ver um império cair? - Os olhos de Romanoff brilham.

- Destrua-o de dentro para fora, removendo as peças essenciais e gerando conflito interno. 

- Aprendi com a melhor. 

- Aprendeu mesmo. 

Não estava cem por cento confiante, mas sei interpretá-la e acredito que esteja falando a verdade. Meus dedos encostam no pingente que Bucky me deu. 

"Ah meu amor, o que foi que fizeram com você? O que EU fiz para você?" 

Cavaleira das Trevas • Bucky BarnesOnde histórias criam vida. Descubra agora