Capítulo 79 - O Estopim

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Narração On
Tonō havia paralisado, mal sentia seus pés no chão, seus olhos estavam congelados, e ele se sentia preso, incapaz de se mover ou pronunciar uma palavra, seus lábios tremulavam em uma feição desacreditada e suas mãos estavam menos firmes do que jamais estiveram, ele sentia o coração bater rápido e então sem se aguentar, colocou suas mãos em seu rosto e se ajoelhou no chão, tentando conter as lágrimas.

Todo o medo de Rin e Sekki sumiu naquele momento, a preocupação se tornou prioridade, os dois se afastaram da multidão e foram correndo até o homem, que já soluçava.

S: Sr. Togami, o senhor está bem?? — Perguntou Sekki sem saber como ajudar, Rin estava mais afastado sem parecer confortável naquela situação, e também sem saber o que dizer, ele apenas permaneceu em silêncio.

Tonō enxugou suas lágrimas em vão, pois não paravam de sair de seus olhos, e em meio ao seus lamentos pronunciou as seguintes palavras:

T: O sorriso...fazia tanto tempo que não o via sorrindo desse jeito...

As lágrimas do pai aumentaram, Rin sentiu o coração congelar, aquelas palavras não pareciam fazer sentido, seu pai jamais havia sido carinhoso consigo, logo não deveria estar tão emocionado.

S: Me desculpe, acho que não entendi...

Tonō se levantou, o que fez Sekki dar um passo para trás, mas o homem parecia inofensivo, ele continuou falando:

T: Quando Rin era criança, antes de tudo aquilo...sorria desse jeito quando ficava genuinamente feliz com alguma coisa, depois de tudo que eu causei...eu jamais havia visto ele sorrir deste modo de novo... — Naquele momento, Tonō não havia visto suas crenças sendo desrespeitadas, naquele momento Tonō não havia visto um rapaz mimado e preguiçoso, naquele momento, Tonō havia visto seu filho, feliz, realmente feliz, de um modo tão belo que ele nunca havia visto, e ele se sentiu contagiado...ele pensou, mesmo que só por um momento, que algo que fizesse seu filho tão feliz...não poderia ser tão ruim assim.

Tanto Rin quanto Sekki não sabiam o que dizer, poderiam esperar qualquer coisa daquele homem menos aquilo, não estavam preparados para uma coisa assim, Rin por si só estava travado, sem saber como reagir, poucas foram as vezes em que havia visto seu pai chorar, e honestamente não conseguia se lembrar de cabeça.

T: Se vocês dois se sentirem confortáveis...podem me acompanhar? Preciso mostrar algo ao Rin em casa... — Falou o homem finalmente se recompondo, Rin arqueou a sombrancelha um pouco desconfiado, mesmo que ele estivesse agindo daquele modo, Rin não sentia ainda que podia confiar nele, não depois de tudo que ele havia lhe causado, destruído seus sonhos e o afastado de seus amigos.

Rin ia negar, não voltaria para casa com ele, porém sentiu uma mão segurar a sua, ele virou seu rosto e viu Sekki, seu rosto estava sério, mas era como se o dissesse que ficaria tudo bem. Rin se acalmou e pensou um pouco, o festival já estava em seu fim pois os fogos eram a última atração, os dois já voltariam para casa de qualquer modo, então talvez fosse melhor dar uma chance, mesmo que ele não achasse que seu pai merecesse uma.

Já estava tarde na noite quando os três caminhavam pela rua, Sekki se mantinha instintivamente a uns passos a frente de Rin para protegê-lo, Rin encarava o chão um pouco preocupado e perdido, sem saber o que poderia acontecer quando chegassem em casa, depois de alguns minutos os três chegaram, Sra. Kyoshi esperava na porta com um olhar preocupado, que se cessou quando viu os três voltando sãos e salvos, ela os cumprimentou e os deixou entrar.

T: Se vocês puderem esperar aqui...eu volto em um segundo. — Falou Tonō apontando para o sofá, os dois se sentaram sem entender qual era o rumo que aquilo estava levando, o pai de Rin foi em direção ao porão, ele usava como seu próprio espaço, Rin se lembrava de quando seu pai brigava com ele por entrar ali, já que era sua zona pessoal, geralmente onde ele e os outros adultos assistiam televisão e bebiam cervejas, depois de um tempo o garoto perdeu a vontade de entrar ali, nunca foi muito apegado a aquele tipo de situação social.

Rin ficou pensando nisso até ouvir passos apressados voltando para a sala de estar, Tonō havia voltado com algo em mãos e os rapazes não estavam entendendo o que era, o homem se aproximou dos dois e então estendeu a mão revelando algo, na hora Sekki não entendeu, tudo que viu foi um livro com uma capa chamuscada, mas Rin, Rin ficou pálido, seu coração começou a bater mais forte, ele pegou o livro com as mãos trêmulas.

R: C-como você ainda tem isso? Eu pensei que... — Os olhos de Rin lacrimejavam enquanto ele folheava as páginas, com suas pontas queimadas e o papel amarelado, mas não estava tão danificado, ao menos não tanto quanto Rin esperava, e o que ele esperava era jamais ver aquele livro de novo.

T: Me desculpe... Foi o único que pude salvar... — Sekki estava confuso, no livro só haviam alguns desenhos e ele não conseguia entender o que aquilo poderia significar, por sorte Tonō explicaria. — Depois que me acalmei naquela época...eu voltei para o local onde sua casa na árvore costumava ficar, eu vi papéis espalhados pelo chão, papéis de desenhos...eram seus desenhos Rin, as roupas que você fazia, eram realmente incríveis e nunca pude te dizer isso na época...meu orgulho não permitia, eu vasculhei por horas mas este livro foi o único que pude achar que poderia ser recuperado...eu sinto muito...

Tonō mal sabia o que aquele livro significava para ele, aquele foi seu primeiro caderno de desenho, seus primeiros modelos, onde toda a sua jornada havia começado, aquele era seu início, um início que ele achou que estaria perdido para sempre. Rin encarou seu pai com lágrimas nos olhos, tentava dizer algo mas sua voz falhava e nada saía, ele se sentia tão confuso, com emoções misturadas em seu peito, e tudo era tão difícil que ficava preso em sua garganta sendo incapaz de sair.

T: Eu não sou uma pessoa fácil, sei que fiz coisas horríveis tanto no passado quanto em sua volta, filho... Eu já sou um homem de velha guarda e cabeça dura, é difícil mudar o jeito que eu penso, mas... Eu vi como este rapaz te faz feliz, e jamais pensei que veria essa felicidade em seu rosto novamente, por minha culpa, eu tirei isso de você... — Tonō colocou sua mão no ombro de Sekki, que ficou um pouco assustado. — Por favor, cuide dele... Se você puder continuar fazendo-o feliz como agora, eu serei eternamente grato a você...

Tonō parecia falar sério, e para um homem daquele modo era difícil dizer tais palavras, e ele não mudaria seu pensamento facilmente, mas as coisas haviam começado a ser mais toleráveis em sua mente e isso definitivamente era um avanço. O homem então se virou para Rin, que encarava seus joelhos enquanto suas mãos se apoiavam, as mãos ainda tremiam, e ele tentava ser forte, aqueles palavras o acertavam em cheio e ele jamais pensou que isso poderia acontecer, Tonō se ajoelhou e encarou Rin em seus olhos, dizendo com um tom calmo:

T: Rin...eu não tenho direito de te pedir para me perdoar, não depois do que fiz a você, mas...eu quero reparar os meus erros, e acima de tudo, quero reparar nossa relação... Se você puder me dar uma chance... — Tonō inclinou um pouco seus braços simulando um abraço, um gesto que simbolizaria tudo pela frente, Rin não podia perdoa-lo, ou ao menos não conseguiria fazer isso tão rápido, eram sequelas que jamais foram esquecidas.

Porém outro lado seu pensava, vendo que seu pai havia guardado seu livro durante todo esse tempo, vendo o homem arrependido diante de si, e vendo que ele havia aceitado Sekki e a si mesmo, Rin sentia falta de um pai, como um filho, sentia a necessidade de tê-lo por perto e, pela primeira vez em toda a sua vida, tinha a oportunidade de abraça-lo. Rin começou a chorar ainda mais sabendo que demoraria para superar tudo que havia passado, mas sabia que aquele ódio que o corrompeu por dentro por tantos anos, agora poderia ir embora, ele correspondeu o abraço em meio a soluços e disse a frase mais sincera de sua vida:

R: Eu vou tentar... — Tonō sorriu emocionado e uma lágrima escorreu de seu rosto, jamais pensou que alguém como ele pudesse receber outra chance, e então percebeu que o que sua esposa sempre lhe disse era verdade, Rin era um garoto muito gentil, e pela primeira vez, ele se sentia grato por isso.

➷ ᴍᴇᴜ ᴄᴏʟᴇɢᴀ ᴅᴇ qᴜᴀʀᴛᴏ ➹ Onde histórias criam vida. Descubra agora