A porra dos cachorros latiu alto ferindo os ouvidos dele, mas Vengeance ficou firme em sua postura ameaçadora.
"Eles querem ir na outra direção, Xerife." Um dia oficiais humanos disse, o Xerife o encarou, Vengeance decidiu que era hora de rosnar.
"Por que trouxe um lobo, Xerife, se seus cachorros davam conta?" Vengeance perguntou mostrando os dentes, o Xerife arregalou os olhos.
"É... É que... É o novo protocolo, senhor. Foi o seu próprio líder que ofereceu os serviços de vocês. E os cachorros também são obrigatórios numa busca."
"Ok. Quer seguir seus cachorros, ou a mim?" Vengeance ergueu uma sobrancelha, ele sabia que sua cara devia estar aterradora e até gostou disso.
O humano porém, deu alguns passos para trás, totalmente assustado, o cheiro de medo dele ardia no nariz de Vengeance. Vengeance rosnou quando percebeu o seu erro.
Era tarde demais.
Os cachorros, pressentindo o medo dos humanos enlouqueceram, um oficial correu, outro caiu ante a força do maior dos cachorros soltando a guia, o cachorro correu.
Não na direção de Vengeance, claro. O animal correu justamente na direção das duas fêmeas humanas, mandando o plano de Vengeance para o espaço.
Os oficiais humanos, o Xerife e os cachorros correram atrás, Vengeance suspirou e também correu. Pelo menos sua consciência estava limpa, ele tentou ajudar as fêmeas humanas, mas o faro dos cachorros era muito bom."Soph?"
Mesmo na névoa de dor em que se encontrava, Sophia se forçou a abrir um olho, o menos inchado.
"Sarah, preciso que faça uma coisinha para mim, tudo bem?"
Ante o aceno do rostinho de Sarah, Sophia lentamente ergueu o corpo até que estivesse parcialmente sentada e estendendo a mão segurou fracamente a mãozinha pálida da garotinha.
"Você precisa achar outro esconderijo."
"Mas, eu tô tão fraca!" Ela disse, o coração de Sophia doeu ao ver seu rostinho em formato de coração bem mais fino devido a perda de peso. Elas estavam a dois dias sem comer nada.
"Eu sei, mas temos de ficar escondidas até que venha a noite. Já estamos próximas da fronteira, falta pouco, monstrinha!"
Como Sophia sabia que ia acontecer, Sarah sorriu. Ela sempre adorou ser chamada de monstrinha desde que assistiram, escondidas no porão da casa delas, a um desenho animado protagonizado por monstrinhas.
Sarah então, saiu do grande buraco em que estava deitada sobre Sophia e se escondeu entre um grande arbusto e um tronco de árvore.
Elas estavam tão perto!
Tinham andado tanto mesmo depois que a caminhonete se mostrou com algum defeito e parou, mesmo depois da comida ter acabado!
Em outro Estado seria bem mais fácil continuar, não precisariam ficar nas margens das estradas, poderiam ficar algum tempo de cidade em cidade, mas para isso precisavam sair da Califórnia! Uma carona seria tão bem vinda! Elas estavam bem próximas da estrada principal já. Lá poderiam conseguir carona de um bom samaritano que não fizesse muitas perguntas.
Ela estava machucada, poderia dizer que estava fugindo de um pai adotivo abusivo, não era nem mentira, David e Rose não eram pais nem de Sophia, nem de Sarah, e David tinha mesmo batido nela.
Pensar em David e Rose a fez suspirar de frustração.
Ele teria deixado a caminhonete meio estragada de propósito? Ou seria apenas por que ele era um pão duro mesmo e não a arrumou?
A questão agora era que David e Rose poderiam posar de pais preocupados e toda a comunidade ficaria comovida com o desaparecimento das filhas adotivas deles. A igreja iria se empenhar em oferecer ajuda para as buscas, talvez até aparecessem na tv!
É claro que David não iria contar sobre a surra que deu em Sophia antes da viagem que ele e Rose fizeram!
Ela passou a mão no rosto, seus olhos estavam ainda inchados, seu lábio estava partido.
Todo seu corpo doía, reflexo de ter andado tanto com uma ou duas costelas quebradas e a canela meio torta.
Se elas voltassem, ela poderia ir para um hospital e Sarah iria se alimentar.
Mas voltar, depois de fugir seria um prato cheio para David e Rose a prenderem no porão e Sarah ficaria a mercê deles.
O que fazer?
Ela ouviu latidos de cães ainda ao longe e suspirou aliviada pela decisão ter sido tirada dela. Seu plano era um lixo desde o começo, ela não devia achar que podia cruzar o Estado e ir para Nevada estando tão machucada, até dirigir foi muito difícil.
Ela olhou para onde Sarah estava, tentou fazer um sinal para que ela continuasse escondida mas Sarah não a viu, Sophia se esforçou e saiu do buraco.
Um cachorro enorme veio correndo na direção dela, Sophia correu para ficar a frente da moita onde Sarah estava com o resto de suas forças, ela olhou para o cachorro e fechou os olhos quando o viu saltar para cima dela.
Algo interceptou o salto do cachorro, Sophia abriu os olhos e viu que um homem extremamente forte tinha entrado na frente dela e provavelmente tinha lançado o cachorro longe. Ela olhou para o cachorro caído no chão e não soube dizer se agradecia ao homem ou se lamentava pelo pobre animal que estava apenas seguindo seus instintos.
O homem se virou, Sophia abriu a boca e esqueceu de fechar ante o assombro que as feições fortes e simétricas de seu rosto provocaram. Ele era incrivelmente bonito, mesmo não tendo um fio de cabelo sequer.
O rosto era perfeito, com maçãs altas, sobrancelhas negras bem feitas ainda que fartas e com um nariz achatado, mas muito bem desenhado. Os lábios eram cheios e vermelhos, a boca era grande, o queixo era quadrado, o rosto era anguloso.
E os olhos! Sophia pareceu ficar tonta enquanto mergulhava no resplendor das íris azuis claras, cheias de facetas brilhantes como se fossem diamantes azuis.
"Você está bem, fêmea?" Ele perguntou, Sophia cambaleou, ele a segurou pelos braços com mãos quentes.
"Eu..." Sophia ainda tentou falar, mas a dor, o susto foram mais fortes, ela desmaiou.Brass estava puto! Mas não podia negar um favor a Slade, então continuou batendo na porta de Vingeance. Dez minutos depois, perdendo a paciência, deu um murro, e a pobre porta não resistiu e caiu dentro da casinha com um estrondo. Segundos depois ele desviou seu rosto do enorme punho que o atacou pela esquerda e por centímetros não o acertou. Sorriu, o desgraçado era rápido, mas previsível.
"Você não fez o relatório, V."
"Nem vou." Se havia um Nova Espécie de poucas palavras, esse era Vingeance.
Brass esperou, mesmo sabendo que ele não diria mais nada, enquanto o via levantar a porta e avaliar o estrago. " Diga a Slade que quero uma porta mais grossa. Essa aqui, qualquer mocinha é capaz de quebrar."
"Diga você a ele, já fiz minha parte." Virando se brass caminhou para o jipe, mas antes de ligar a ignição ouviu o sussurro do grandalhão: "Elas estavam fugindo..."
"Sabe que não devemos nos intrometer. Pelo que o xerife disse elas foram sequestradas, e a mais velha tem problemas mentais."
Os olhos de Vingeance, sempre tão frios para os outros, não eram indecifráveis para Brass. Esse era seu fardo, pensou com amargura. Aquele azul turquesa não era frio, muito pelo contrário. Vingeance tinha tanto sofrimento dentro de si, que a raiva estava sempre na superfície, sempre presente. No entanto, Brass via algo mais hoje. Preocupação. Dado que Vingeance odiava os humanos, independente se homem ou mulher, Brass se sentiu incomodado.
"V..."
"Sinta!" Vingeance deu um passo na direção do jipe. Não era necessário, claro. Brass havia sentido o cheiro, assim que subiu os degraus da cabana. Rosas. Muito fraco, mas era um cheiro de rosas. Misturado com medo, muito medo.
Descendo do veículo, Brass passou por Vingeance, e voltando a cabana, passou pelo batente, agora sem a porta, e avistou a fonte do cheiro: um pedaço de tecido azul, parecido com o que as fêmeas humanas usam no cabelo ou no pescoço, Brass não sabia bem. Pegou, aproximou do rosto e tudo a sua volta sumiu!
Era como se ela estivesse ali. Ao seu alcance! Brass sorveu o cheiro como se tivesse passado horas debaixo d'água se afogando e ao emergir seus pulmões se inundassem não de oxigênio, mas daquele aroma, salvando o da morte. Era como se estivesse nascendo de novo, e aquele fosse o primeiro odor que sentiu na sua nova vida.
Ele podia vê-la. Não sua aparência exterior, mas sua essência. Ela era forte. Não fisicamente, mas ela não quebrava! Era orgulhosa também, constatou com um sorriso. Teimosa, corajosa, inteligente... um flash de luz iluminou coração dele, aquecendo, renovando e fazendo seu sangue correr mais rápido. Era isso, essa era a sua fêmea.
Encontrou o olhar de Vingeance e este apenas acenou. Sim palavras não eram tão necessárias assim, afinal.

VOCÊ ESTÁ LENDO
Brass
FanfictionSophia sempre pensou que sua vida nunca mudaria. Mas, quando teve diante de si os olhos marrons daquele gigante, que a olhava como se lhe pertencesse, descobriu que a vida sempre tem uma ou mais cartas na manga. Primeira história de uma série: Bras...