Sophia acordou em uma sala estranhamente cinza. Devia estar num hospital, mas as paredes dos hospitais não eram brancas? Que idiota! O que importava a cor das paredes?
O que realmente importava era a ausência da dor. Não só não sentia dor, como se sentia bem e disposta. Mas que droga lhe deram, afinal? Estava viva, disposta e estranhamente feliz. Tentou mover a cabeça, mas estava tão relaxada que não conseguiu. Então sorriu. Seu ouvidos captaram um resonar baixinho e ficou curiosa pra saber quem velava por ela. Rose sempre aproveitava pra fazer suas cenas de mãe perfeita e dedicada, então deveria ser ela. Mas Rose roncava. Alto. E o perfume dela provocava vômitos em um avestruz de tão forte. Não. Não era Rose. Se ao menos pudesse se levantar...
"Não se levante" ouviu uma voz sussurrando." Sou a doutora Trisha North e estou aqui pra te ajudar. Você teve um traumatismo craniano grave e precisa ficar com o pescoço imóvel por mais um tempinho. Se precisar de qualquer coisa basta me pedir." A doutora era muito bonita, com cabelos louros e olhos azuis que lhe fizeram lembrar de Sarah. Sarah precisava dela. Ela não podia falhar com Sarah, mas olhar no olhar de bondade daquela doutora, sabendo que estava ali para prejudica-la.. doía demais e Sophia sentiu as lágrimas quentes deslizando por suas bochechas. Logo um polegar enorme parou uma lágrima e ao olhar pro dono do polegar, Sophia esqueceu porque chorava, esqueceu da chantagem de Rose e até mesmo de Sarah. Olhos marrons como chocolate derretido a encaravam. Sophia teve certeza que ele podia vê-la por inteiro. Ele sabia. Sabia que ela não tinha nenhum problema mental. Que ela vivia com medo de morrer e Sarah ficar a mercê de Rose e, Deus a livre, de David. Ele soube que ela nunca havia sido beijada. Que, e a onda de vergonha que sentiu a poria de joelhos se estivesse em pé, ela roubava. Ela mentia. Era como se ele estivesse vendo cada mentira, cada pecado, cada roubo, que Sophia havia cometido na vida.
Mas ainda assim, Sophia sentiu uma onda de carinho tão forte naqueles olhos! Lhe diziam sem palavras que tudo ficaria bem. Mesmo sabendo que não ficaria, Sophia sorriu. E o sorriso ficou pequeno. Então ela sorriu mais, o máximo que o seu rosto entorpecido permitiu.
Quando ele sorriu de volta, o alívio foi tão grande que ela voltou a dormir. Tão satisfeita quanto o gato que comeu o canário.

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Brass
FanfictionSophia sempre pensou que sua vida nunca mudaria. Mas, quando teve diante de si os olhos marrons daquele gigante, que a olhava como se lhe pertencesse, descobriu que a vida sempre tem uma ou mais cartas na manga. Primeira história de uma série: Bras...