- O quê? Arrumar um... emprego? Um emprego de verdade? Por quê? — perguntei.
No dia seguinte ao negócio da meditação, Solis concordou em me dar aulas de feitiços de verdade, em vez de se limitar aos nomes das coisas do mundo maravilhoso que nos cerca. Eu ainda estava irritada por ele ter se recusado a me dar aulas antes, e ainda não podia dizer que estava cem por cento comprometida com essa coisa toda..., mas tinha me ocorrido que saber mais sobre esses lances, minha magick, meu poder, seria melhor do que não saber. Se eu soubesse, poderia controlá-lo, protegê-lo, escondê-lo. Não saber não tinha funcionado muito bem para mim. Mas era difícil me convencer, porque eu tinha fugido durante séculos de tudo exceto feitiços menores. Agora eu sentia a atração, a sedução disso tudo, embora ainda me assustasse.
Mas... um emprego?
Solis sorriu.
— Faz parte do programa. O trabalho diário, de certa forma. Comparecer todo dia. Se encaixar em uma equipe. Se dar bem com os outros. Literalmente fazer um bom trabalho em alguma coisa fora daqui.
Não tentei disfarçar minha insatisfação.
— Estou fazendo um monte de coisas aqui. Tenho sido escrava de todos vocês desde que cheguei!
— E é claro que nós apreciamos isso — disse Solis, achando graça. — Mas ter um emprego lá fora é um passo importante para se integrar ao mundo real, e não estou falando de um mundo de tempo,dinheiro e amigos ilimitados, tão superficial e egocêntrico quanto o seu.
No mundo ideal, eu teria protestado com vigor, mas no mundo real, não tinha o que questionar. Cerrei os dentes.
— Você já trabalhou antes, não trabalhou? — perguntou Solis.
— Já, é claro — falei. Se você incluísse gerenciar um bordel na Califórnia nos anos 1850. Eu tinha ganhado uma fortuna. Ou quando fui modelo para um estilista francês em Paris, nos anos 1930. Mas um emprego... de verdade?
Tentei outra tática.
— Eu estava com esperança de que vocês pudessem, sabe, sacudir uma varinha e me tornar uma pessoa melhor.
Solis riu.
— Parece que você tem habilidades extraordinariamente fortes, Nastasya. É muito importante que aprenda o que fazer com elas.
Pensei em dizer "ai que saco" ou algo do tipo, mas eu estava tentando controlar a onda de ansiedade e orgulho que se misturavam e tomavam conta de tudo dentro de mim.
— Estou disposto a ensinar você — prosseguiu ele —, mas terá que fazer do meu jeito. Não por eu ser controlador, mas porque a experiência me mostrou que esse é o melhor jeito de ensinar o que você precisa aprender. Então sim, você tem que arrumar um emprego lá fora, assim como todo mundo que chega aqui. De preferência de salário mínimo. Algo modesto, um trabalho que seja feito por si só, e não por um grande salário ou para inflar o ego. Ouvi falar que a biblioteca precisa de alguém para ajudar a colocar livros nas prateleiras.
Olhei para ele, desanimada.
— Agora vá — disse ele.
O tom dele era gentil, mas os olhos estavam atentos. Talvez eu tivesse mostrado possuir um poder meio estranho, mas eu ainda era um pé no saco e ele ainda tinha muitas dúvidas sobre mim. Não me permiti pensar que eu tinha ficado tão incrível de repente que ele me aguentaria reclamando e protestando. Embora Deus saiba que isso já funcionou com outras pessoas.
Suspirando, saí da sala de aula e voltei para a casa. Asher me deu uma lista de compras com coisas que eu precisava trazer na volta, então peguei-a e fui até meu carro.
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Amada Imortal
Teen FictionQuando se vive por mais de quatrocentos anos , não é fácil se emocionar. Tudo é embotado, visto através de uma lente suja pelo tempo. Pelos erros. Pelas perdas... Nastasya passou as últimas décadas vivendo no limite. A próxima festa, o próximo gole...