Capítulo 4

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SÃO FRANCISCO, CALIFÓRNIA, 1967

- Venha, quero uma foto de nós duas — disse Jennifer, puxando a manga da minha túnica.

Joguei meu cabelo comprido louro-mel por cima do ombro.

— Claro que quer.

Juntas, Jennifer e eu fizemos uma pose na larga escadaria e sorrimos para a Polaroid de Roger. Na sala de estar abaixo, as pessoas riam aos gritos. "Eight Miles High" estava tocando no caro aparelho de som. Havia velas e incenso queimando, e a nova máquina de luz projetava padrões psicodélicos nas paredes.

Minha aparência era incrível, eu sabia: meus olhos maquiados com Kajal egípcio, um batom bem claro, a túnica de seda que eu tinha comprado na Índia coberta de cores espiraladas. Por segurança, eu usava um lenço de seda Peter Max amarrado no pescoço. Eu estava amando os anos 1960. Os anos 1940 tinham sido tão deprimentes, tudo cinzento e desarrumado e autossacrificante. E eu tinha odiado os anos 1950, quando todo mundo acreditava no rígido sonho americano e nos automóveis com para-choque de foguete do tamanho de elefantes.

Mas os anos 1960 eram perfeitos para nós, imortais, meus amigos e eu. Tudo era permitido, todo mundo era louco, qualquer um que não concordasse ou aprovasse era rotulado de quadrado. E as festas. A última vez que tinha mergulhado numa atmosfera festeira tão intensa tinha sido em Long Island, Nova York, logo antes da grande quebra da Bolsa de 1929.

— Hope!

Alguém colocou uma taça de champanhe na minha mão e beijou minhas bochechas. Depois sumiu, o paletó de veludo roxo desaparecendo na multidão.

— Humm.

Tomei um grande gole de champanhe enquanto a câmera de Roger continuou a piscar. Em um determinado ponto ele trocou o flash, jogando a unidade usada para trás. Ela caiu no chafariz que pingava no saguão, e nós rimos.

— Hope.

— Oi, Max — falei, sorrindo. Eu estava me sentindo em êxtase e flutuante e linda e deliciosa.

— Você tem idade o bastante para beber isso? — Havia quase, quase uma intenção séria por trás das palavras dele. Max produzia filmes em Los Angeles. Ele era um grande astro. Não imortal. Só havia poucos de nós naquela festa.

— Está com medo de batida policial, de ser preso por servir álcool a menores? — perguntei, atrevida.

Pisquei e senti minhas pálpebras muito pesadas de repente. No momento seguinte, aquela situação se tornou a coisa mais engraçada que eu já tinha vivido, era histericamente engraçada, tão, tão, tão engraçada, e eu era a pessoa mais feliz do mundo. Aquela era a melhor festa do mundo.

— É por aí — disse Max, ajeitando os óculos no rosto e olhando para mim.

— Ah, Deus — disse ofegante, olhando para as bolhas do champanhe flutuando lentamente acima do líquido dourado. — Deus, consigo ver todas as borbulhas. É lindo.

Max tinha dito alguma coisa que eu precisava responder? Eu não sabia. Naquele momento era de importância vital que eu observasse cada bolha de champanhe até que estourasse na superfície. Se eu pudesse realmente me imergir totalmente naquilo, todos os segredos do universo seriam revelados. Eu tinha certeza disso.

— Merda — murmurou Max. — Roger? Rog! Alguém batizou o champanhe?

Roger riu, tirando minha atenção da bebida. Ele continuou a tirar fotos, e isso fazia quadrados cinza com moldura branca se acumularem no chão. Os quadrados cinza lentamente adquiriam rostos e sorrisos e cores. Era mágico.

Amada ImortalOnde histórias criam vida. Descubra agora