Capítulo 27

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Em casa, River, Asher, Solis e Anne me trataram com normalidade incrível. Foi estranho. Eu tinha que executar tarefas. Meu nome estava no quadro. Pelo que percebi, todos os quatro professores sabiam da história sórdida completa, mas nenhum dos alunos parecia me tratar ou olhar para mim de maneira diferente.

Vi Reyn pela primeira vez no jantar.

Ele entrou pela porta da cozinha, segurando uma sopeira pesada. Meus sentidos estavam perfeitamente direcionados a ele e o examinei com atenção, tentando vê-lo com cabelo comprido sujo de sangue e o rosto pintado. Ele me viu e contraiu o maxilar. Minha imaginação o visualizou parado, impressionado e apavorado, depois de uma torre de relâmpagos consumir a família e os soldados dele.

Tanto ele quanto eu estávamos sérios, e não voltamos a nos olhar. O interessante foi que, quando levantei o olhar para pegar pão, vi os olhos de Nell presos aos meus como lasers azuis. Eu a ignorei. Reyn estava sentado em um lugar onde eu não podia vê-lo com facilidade, e não falei uma palavra durante o jantar.

Depois da refeição, Anne ficou de pé e disse:

— Gostaria de trabalhar com alguns de vocês explorando pedras preciosas e cristais. Rachel?

— Ah, eu adoraria — disse Rachel.

— Charles? — perguntou Anne.

— Excelente, obrigado — disse Charles, levando o prato para o carrinho de louça.

— Reyn? — disse Anne. — E Nastasya.


Silêncio.

Nós dois esperamos que o outro desse para trás. E esperamos. E esperaaaaaamos...

— Ótimo — disse Anne. — Vejo vocês todos na sala verde em dez minutos.

— Posso me juntar a vocês? — Nell parecia ansiosa demais. — Estou doida pra trabalhar mais com pedras preciosas.

Anne hesitou por um momento, depois concordou.

— Certo, tudo bem.

Nell se desmanchou num sorriso.

Olhei nos olhos de River com mau humor. Ela parecia solidária, mas também parecia estar me desafiando a pular fora. Fiquei de pé e levei meu prato para a cozinha.

— Você não está se concentrando. — A voz de Anne estava paciente. Paciente demais.

Abri meus olhos. Eu estava em uma sala com alguém cuja família tinha matado a minha. Alguém cuja família tinha sido morta pela minha. Estávamos na sala juntos, tentando criar uma ligação com pedras. Eu estava sentada o mais longe possível de Reyn, e, é claro, Nell estava grudada nele como cola. Ainda parecia surreal, quem ele era, o que ele tinha sido na minha vida. As mesmas lembranças e experiências que eu tinha tentado bloquear na minha mente nos últimos quatrocentos anos estavam sentadas a 2 metros de mim, ao vivo e em cores. Era como me confrontar com o monstro debaixo da minha cama, só que amplificado mil vezes. Ali estava ele: o monstro. Meu pior pesadelo estava usando uma camisa de flanela xadrez verde-escura, jeans e tinha cheiro de sabão em pó e ar fresco de outono.

Amada ImortalOnde histórias criam vida. Descubra agora