Capítulo 7

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No café da manhã, várias pessoas sorriram ou disseram oi, e as que não fizeram isso pareceram apenas não estarem dispostas tão cedo, e não que já me odiavam. Não comi muito, me senti cheia rápido demais, mas o pão torrado com manteiga estava surpreendentemente gostoso, e o bacon tinha muito mais sabor do que o habitual — salgado e suculento e crocante de tanta gordura frita.

Depois de ter cumprido meu dever de levar meu prato vazio até a cozinha, River disse:

— Venha comigo.

Peguei minha jaqueta preta de couro surrada e fui atrás dela para o ar frio de outono. Ela me levou para além de um grupo de árvores, bordos que deixavam o chão vermelho como sangue graças às suas folhas escarlates. Vários cachorros correram até nós, e olhei-os com cautela até River fazer carinho em suas cabeças.

— Sim, Jasper; sim, Molly; bons meninos.

Um longo e estreito celeiro ficava na diagonal da casa, e suas grandes portas duplas estavam fechadas. River me levou para dentro por uma porta de tamanho padrão na lateral da construção e, depois que entramos, vi que não havia animais, nem feno, nem tratores. Em vez disso, janelas altas deixavam que o sol invadisse o local inteiro. Ele era dividido em cômodos grandes que davam todos para um corredor no meio. Pessoas já estavam entrando, acendendo aquecedores a gás, colocando cadeiras no lugar. Ali era a parte escolar de River's Edge.

River me levou para a terceira sala à esquerda. Solis estava lá, sentado em uma almofada achatada no chão gasto e não encerado. Ele olhou para cima, na direção de River, e houve uma comunicação que não consegui interpretar. Então River me deu um último sorriso e saiu, sem fazer som algum.

Algumas pessoas — Jess, o coroa; Daisuke, o japonês sorridente; e Brynne, que era negra e linda e tinha os cabelos trançados desde a base da cabeça — entraram e penduraram os casacos em ganchos na parede. Olharam para mim com curiosidade, mas tomaram seus lugares ao redor da sala, abrindo livros gastos. Droga, estou em Hogwarts, pensei, e então Solis fez sinal para que eu me sentasse ao lado dele. Eu fui, sem tirar meu casaco e com o cachecol ainda enrolado no pescoço.

— Nastasya — começou ele, falando tão baixo que só eu podia ouvi-lo. — River quer que eu te dê aulas. Ela me pediu. Mas não posso aceitar você como minha aluna. Não quero.

Isso me pegou de surpresa, e fiquei sentada em silêncio. Eu já estava mesmo querendo ir embora. Mas...

— É? Por quê? — Tentei manter a voz baixa, mas meu tom saiu agressivo. Minhas bochechas ficaram quentes quando registrei as palavras de Solis.

Solis parecia triste e gentil, como um guarda-costas californiano pensativo, e senti vontade de estrangulá-lo.

— Você não está comprometida — disse ele simplesmente, sem enrolar. — Talvez tenha tido uma crise. Talvez tenha achado que precisava de uma mudança. Se lembrou de River e achou que aqui seria um bom lugar para dar um tempo. Mas você não está aqui de verdade, não para ficar. Seu coração não está presente. Você já está com um pé do lado de fora da porta. Não quero... Não quero perder meu tempo.

Várias frases se amontoaram no meu cérebro, todas tentando sair ao mesmo tempo. Surpreendentemente, a que saiu foi:

— Como você sabe onde meu coração está? — Eu parecia uma punk de rua.

Solis piscou, a luz do sol acima de nós iluminando seus curtos cachos de cabelo louro-escuro.

— Bem, eu sei — disse ele, como se eu tivesse perguntado como ele sabia que o sol nasceria amanhã. — Posso sentir.

Fiquei sem graça, humilhada na frente dos outros alunos. Uma expressão sarcástica tomou meu rosto.

— Ah, tá — falei com nojo, ficando de pé. — Você que sabe. Está certo, não quero ficar aqui. Não vou desperdiçar seu tempo. Nem o meu. — Abri a porta da sala de aula, ciente dos olhares curiosos pousados nas minhas costas. — Você que sabe — falei de novo, olhando para trás.

Então fechei a porta com força demais e saí batendo os pés pelo corredor, minhas botas fazendo o chão tremer. Bati a porta do celeiro e praticamente me choquei com Sua Santidade, que esticou as mãos para me segurar.

— Me larga, idiota — rosnei, recuperando o equilíbrio. — Você venceu. Pode ficar com sua Xanadu toda pra você de novo. Vou embora.

Reyn me lançou um olhar intenso. Eu tinha conseguido surpreendê-lo de novo. Ponto pra mim. Puxei meus braços das mãos dele e me virei. Solis não tinha me expulsado da casa — sem dúvida River me deixaria ficar de qualquer jeito. Mas ele tinha se recusado a me dar aula. Quem precisa disso? Cinco minutos depois, eu tinha arrastado minha mala onde caberia um pônei morto escada abaixo até meu carro alugado. Estava praticamente chorando de raiva e frustração tentando enfiar a maldita coisa no porta-malas, mas eu explodiria antes de pedir ajuda a alguém.

Finalmente me afundei no banco do motorista, engatei a marcha e dei uma arrancada, espalhando pedrinhas por onde passei como a adolescente rebelde que eu era.

Que fossem todos para o inferno.

Amada ImortalOnde histórias criam vida. Descubra agora