Capítulo 6

7 2 0
                                    

A única coisa realmente boa que aquele lugar tinha era toneladas de água quente, muito quente. Eu ainda estava tentando lidar com o fato de essa água muito quente ser no banheiro feminino comunitário, no meio do corredor onde ficava meu quarto. Havia uma banheira funda com pés em formas de garras em um pequeno compartimento, cabines separadas com privadas e alguns chuveiros. Havia uma bancada com cinco pias alinhadas em uma parede, no estilo de colégios internos, e cada uma tinha seu pequeno espelho na parede acima. Não havia luz para maquiagem, nem espelho de corpo inteiro — nada de vaidade por aqui!

O que é uma coisa boa quando não se tem muitos cuidados pessoais há, digamos, várias décadas. Afundei na banheira, repentinamente transportada para outra banheira fabulosa que eu tinha conhecido, em uma casa velha, mas graciosa, onde morei por um tempo em Nova Orleans. Cabia um urso-polar naquela banheira. O agente imobiliário tinha me dito que ela havia sido feita para um juiz nos anos 1930 — ele tinha mandado juntar duas banheiras de tamanho normal, criando uma banheira gigantesca do tamanho de um mamute onde eu conseguia me deitar por inteiro.

Mas esta aqui não era ruim, apesar das luzes fluorescentes inadequadas que lançavam um brilho frio e cadavérico em tudo. A água estava fervendo, o sabonete era caseiro e áspero com pedaços de alfazema seca e havia uma pequena caixa de madeira cheia de ervas desidratadas. Como eu já estava lá, peguei um punhado e as espalhei sob a água que caía da torneira. Um vapor com o aroma delas encheu meu nariz e garganta enquanto me reclinei e fechei os olhos.

O vapor me fez lembrar de estar em Taiwan, nos anos 1890, uma das vezes em que o país estava sendo colonizado pelo Japão. Eu estava com tuberculose, e a tosse estava me enlouquecendo. Já havia experimentado vários remédios até que alguém me recomendou as águas curativas de Taiwan, na montanha Yangmingshan. Em um lado da montanha, o ar era repleto de vapor com cheiro de ovo, envolvendo a encosta verde como uma echarpe de seda fina e da cor de neblina. O cheiro de ovo podre era repugnante a princípio, mas em dois dias eu nem sentia mais. Duas vezes por dia eu me sentava em uma cadeira na beirada de uma fonte quente natural e inspirava o vapor aquecido por uma hora. Muitas outras pessoas estavam lá por diferentes motivos de saúde — a maioria relativa ao pulmão ou à pele. Eu observava como os residentes locais se agachavam na beirada rasa da fonte, onde a água borbulhava gentilmente pelo fundo arenoso. Eles levavam palitos de madeira e faziam cercas com eles, enfiando-os na areia em círculos. Depois colocavam alguns ovos dentro do círculo, onde eram cozidos pela fonte geotermal. Comer ovos cozidos assim era considerado muito saudável. Fiquei dois meses lá, aproveitando a beleza luxuriante de Taiwan e inalando gás sulfuroso. Minha tuberculose se curou.

Agora eu inalava vapor não sulfuroso, mais de cem anos depois. Fui lançada de volta ao presente. Havia se passado apenas dois dias desde que deixei Londres? Ontem? Inesperadamente, lágrimas fizeram meus olhos arder por baixo das pálpebras fechadas quando, mais uma vez, o rosto do motorista de táxi apareceu para mim. Será que ainda estava vivo? O que a família dele estava pensando, sentindo, fazendo?

Eu me sentei, a culpa grudada em mim como sabão sobre a pele. Peguei o xampu. Eu não tinha feito nada — quem fez foi Incy. Tudo que eu fiz foi... ir embora.

Lavei meu cabelo e entrei debaixo da água para enxaguá-lo. A água estava começando a esfriar um pouco, e peguei uma bucha de um gancho, ensaboei-a e a esfreguei pelo corpo, sentindo como se estivesse tirando a camada superficial da pele. Toda parte que eu esfregava ficava rosa e ardida, e me senti com a cabeça estranhamente clara, respirando livremente, vendo a água começar a escorrer pelo ralo. Eu me sentia limpa e com a pele macia e viva.

Idiota, hein?

Tive a sorte de voltar ao meu quarto sem ver mais ninguém. Encontrei minha cama arrumada e uma xícara de chá quente sobre a pequena mesa de cabeceira.

Amada ImortalOnde histórias criam vida. Descubra agora