Não conseguia achar o maldito mapa. Não conseguia lembrar como voltar para a estrada que levava a Boston. Meu café da manhã agora pesava no estômago como chumbo batizado com ácido quando parei rápido demais no estacionamento em frente à MacIntyre's Drugs na rua principal da cidade. Havia uma rua principal e pronto. Meu Deus, me tire daqui.
Para piorar a sensação de nervos à flor da pele, sentia um desconforto, quase um pânico, por falta de palavra melhor, que parecia aumentar a medida que eu me afastava de River's Edge. O que estava acontecendo? O que era aquele peso? Pelas últimas 24 horas, parecia que meu colapso nervoso tinha dado uma trégua. Mas agora, estava de volta com força total — era como um grito no meu cérebro que alertava: se esconda. Meus dedos tocaram minha nuca, para ter certeza de que o cachecol estava lá.
Alguns adolescentes da cidade, vestidos com roupas pretas góticas e fumando cigarros, estavam sentados junto ao prédio em uma viela larga entre a farmácia e a loja ao lado, Early's Feed and Farmware. Um dos adolescentes, uma garota com mechas verdes no cabelo e uma argola prateada no nariz, decidiu provocar a estrangeira. Ela gritou:
— Você não pode estacionar aí. É para deficientes.
Os outros riram.
Mostrei o dedo do meio para ela sem responder e entrei na farmácia, ouvindo-os rir de novo lá fora. Uma olhada rápida ao redor mostrou óculos de sol baratos, um estande de iscas para pescaria e um freezer antigo com ISCAS VIVAS escrito na lateral. Uma garota alta e magra estava atrás do balcão, ajeitando caixas de despertadores antiquados em uma prateleira. Um espanador estava enfiado no avental. Ela se virou, já rindo, mas hesitou quando me viu.
— Posso ajudar?
— Você tem mapas pra vender? — falei bruscamente. — De Massachusetts ou do nordeste?
— Claro que tenho — disse ela, saindo de trás do balcão.
Ouvimos mais risadas vindas do lado de fora e depois o som de vidro quebrado. A garota levou um susto, olhou para fora e mordeu o lábio, não querendo criticar os delinquentes juvenis da cidade.
— Hum, bem aqui. — Ela me levou até um estande de arame, a tinta amarela descascando e deixando a ferrugem à mostra. — Este é de Massachusetts. E este é da região norte à beira do Atlântico.
A garota parecia sem cor, o cabelo castanho-claro pálido quase da mesma cor da pele e dos olhos.
— Meriwether! — A voz alta e áspera fez a garota dar um salto.
— Estou aqui, pai.
— Por que não está atrás do balcão? — gritou o homem, aparecendo.
Ele tinha o rosto vermelho, com cabelo grosso e preto e costeletas longas e fora de moda. Braços grandes e peludos saíam das mangas dobradas e ele usava suspensórios de verdade.
— Só estou mostrando a esta... moça os mapas — disse a garota, Meriwether. Estava óbvio que ela era cautelosa com o pai, isso se não tivesse medo. Talvez fosse medo mesmo.
O pai dela me olhou de cima a baixo, depois pareceu me classificar como o mesmo tipo de escória que estava vagabundeando lá fora.
— O que você quer?
Encarando-o, ergui os dois mapas que Meriwether tinha me dado e os coloquei em cima do balcão. Meriwether correu até o outro lado e começou a passá-los na registradora, digitando os preços à mão. Meu olhar caiu em uma pilha de energéticos e acrescentei quatro latas à minha compra. E algumas barras de chocolate.
— Certo — disse Meriwether sem fôlego. — É tudo de que você precisa?
— É. Muito obrigada por sua ajuda — falei deliberadamente. — Você foi muito gentil.

VOCÊ ESTÁ LENDO
Amada Imortal
Teen FictionQuando se vive por mais de quatrocentos anos , não é fácil se emocionar. Tudo é embotado, visto através de uma lente suja pelo tempo. Pelos erros. Pelas perdas... Nastasya passou as últimas décadas vivendo no limite. A próxima festa, o próximo gole...