Capítulo 5

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Finalmente o jantar acabou. Eu estava prestes a correr para o "meu" quarto para me encolher em posição fetal na cama e sentir pena de mim mesma, mas uma das alunas perguntou se eu ia me juntar à caminhada noturna.

Minha expressão deve ter revelado minha falta de entusiasmo, porque ela riu enquanto vestia um colete e enrolava um cachecol de lã em torno do pescoço.

— Saímos para caminhar quase toda noite depois do jantar — disse River com aquele tom de voz lindamente modulado. Ela colocou uma boina vermelha sobre o cabelo prateado e sorriu para mim. — Faz parte da atividade de prestar atenção ao mundo... Observamos as estrelas, a Lua, a sombra das árvores.

— Tem pássaros diferentes à noite — disse um dos alunos, o italiano atraente. Lorenz? — Aprendemos sobre seu canto e hábitos distintos.

Concordei com veemência, pensando: você deve estar brincando.

— Nessa época do ano, quase todas as árvores já perderam as folhas — disse Nell; ela estava linda e pronta para o passeio usando um trench coat da Burberry. — Você vai aprender os padrões: qual delas perde as folhas primeiro e se isso acontece rápido ou devagar.

Só se for por cima do meu cadáver, pensei. Sim, até os imortais usam essa expressão. Tem um quê a mais para nós.

— Quando a Lua está cheia, lá fora fica tão iluminado como se fosse dia — disse Solis. Seus olhos castanhos pareciam me observar atentamente, como se ele estivesse tentando descobrir por que afinal eu estava ali. — Hoje a Lua está crescente, e isso tem sua beleza própria.

Aceito a palavra dele sobre isso.

— Você quer pegar um casaco e vir conosco? — perguntou River. Os olhos dela brilhavam de expectativa. Ela estava se divertindo com a situação. Será que era um teste? Se fosse, eu ficaria feliz em ser reprovada.

— Não, obrigada — falei com polidez.

— Ah, que bom — disse River, parecendo aliviada. — Quem ficar em casa vai ajudar na limpeza. A cozinha fica bem ali — apontou.

Olhei para ela.

Ela estava praticamente rindo quando saíram pela porta larga pintada de verde.

Placar? River 1, Nasty 0.

Dada a minha idade avançada, é mais do que natural que eu tenha parado de tentar agradar as pessoas há uns 440 anos. Eu não teria problema algum em simplesmente ir para o andar de cima, me deitar em posição fetal na cama conforme planejado e deixar o que tivesse que acontecer, acontecer.

Mas...

Parecia mesmo que River tinha marcado um ponto contra mim. Aposto que ela tinha certeza de que eu não iria fazer a caminhada noturna com eles. Ela sabia que eu pularia fora e que deveres de cozinha me aguardariam quando eu fizesse isso. Que irritante. Agora River estava, sem dúvida, esperando que eu simplesmente fosse para o andar de cima e deitasse em posição fetal na cama — como se ela me conhecesse profundamente. Era muito irritante.

Trinquei os dentes e andei até a cozinha. Estou aqui porque quero, falei para mim mesma. Estou aqui porque não consigo suportar mais estar em outro lugar. Estou aqui porque não consigo diferenciar o certo do errado, o claro do escuro. Estou aqui porque não consigo suportar ser eu. Estou aqui porque não quero que ninguém saiba onde estou.

A cozinha era grande e mal-iluminada. Devia ter sido muito eficiente por volta de 1935. Não havia uma lavadora de louças industrial fazendo jorrar água na louça suja a cada dois minutos, nem bancadas de granito ou portas de vidro nos armários. Havia prateleiras altas de madeira cheias da louça pesada e branca que usamos no jantar. Vidros de massa, arroz, grãos, feijões e cereais estavam alinhados em outra prateleira. Grandes janelas mostravam a escuridão lá fora e refletiam a luz inadequada do teto.

Amada ImortalOnde histórias criam vida. Descubra agora