Quando Os Anjos Dormem

DOIS

#mentaEcanela      

           Se formar em jornalismo sempre esteve em seus planos. E mesmo quando esses planos foram interrompidos de um dia para o outro, nunca deixou de ser algo com o que Taehyung se preocupava.

Aos vinte e dois anos, quando lhe faltava apenas um semestre para se formar, recebeu a notícia de que sua namorada estava grávida.

E como o esperado, isso abalou completamente o rumo que sua vida estava tomando. Uma estrada certeira e firme se desfez diante de seus olhos. Foi como se a luz houvesse se apagado. Como se caminhasse no escuro, perdido em uma floresta de espinhos. Continue. Apenas continue. Encontre a luz. Encontre estabilidade.

Descobriu-se então que eram gêmeos.

Chega a ser surpreendente, como um pequeno deslize pode mudar completamente as nossas vidas.

Era uma noite de fim de semana, ela estava bonita naquele vestido vermelho e Taehyung ainda se lembra bem disso. Eles beberam bem mais do que deveriam naquela noite, eles dançaram e eles fizeram sexo no carro.

Gozar fora não adiantou afinal.

Dois meses depois, com o teste de gravidez marcando positivo em mãos, a garota chorou.

Ela tinha vinte e um anos e estava gravida. Ela tinha uma carreira de modelo em progresso e isso estava arruinado. Ela tinha pais conservadores demais para entenderem o seu lado. Sua vida e seus sonhos foram arrancados de si no segundo em que aqueles bebês começaram a se desenvolver.

Poderia ser considerado egoísmo de sua parte não querer aquelas crianças?

Ela pensou por dias, em só fazer o aborto e não contar a ninguém sobre isso. Fingir que jamais aconteceu. Deletaria esse momento inoportuno de sua vida.

Entretanto, criada em uma família católica e conservadora, a ideia de um aborto pesava em sua consciência. Sentia-se cruel, sentia-se uma assassina.

Mas, pensando bem, será que não teria sido melhor acabar com aquilo enquanto era apenas um feto em formação, do que simplesmente deixar dois recém nascidos para trás e fingir que todos aqueles nove meses nunca houvessem existido?

Será que não teria sido menos cruel dessa maneira?

Ela nunca quis ser mãe afinal.

Não havia motivos para se culpar por não ter sido mais responsável, por não ter se lembrado do preservativo, por não ter tomado a pílula. Culpar-se por isso não mudaria o seu presente.

Ela passou dias, semanas, torturando-se com a dúvida. Aceitar, ou simplesmente acabar com aquilo?

Contar à Taehyung, ou não? Céus, ela sequer sabia o que esperar dele.

Ela via mulheres grávidas felizes por estarem gerando uma vida, via mães com seus bebês sempre tão dedicadas.

Mas ela não se sentia assim. Ela não se sentia feliz, na verdade, ela não sentia nenhum sentimento bom em relação a aquelas crianças.

Cada minuto em que se pegava pensando naquilo, uma dor pesava em seu coração. Ela odiava estar gravida.

E se perguntava o que havia de errado com ela. Por que não sentia-se feliz ou animada com aquilo? Por que ela não podia ser como as outras?

Quando tomou a decisão de contar a Taehyung e este lhe perguntou o que ela gostaria de fazer, a garota se desfez em um choro que estava sendo abafado por dias.

E doía tanto, porque ela sabia que Taehyung jamais entenderia o que ela estava sentindo. Era apenas ela, sozinha tendo que enfrentar tudo aquilo.

Assim que souberam, seus pais a fizeram aceitar – mesmo que por um mês ou dois – a gravidez. Quando percebeu que de fato, não era aquilo que queria para a sua vida, era tarde demais.