DEZESSEIS

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#MentaEcanela


                As botas pesadas afundavam-se na neve branca e volumosa que cobria toda a grama do bosque. Seus passos pesados acompanhavam os cães farejadores que corriam por entre as árvores, uivando e latindo.

Hoseok olhou para o lago congelado, a memória do corpo do garoto boiando naquelas margens lhe veio à cabeça. Sentiu um calafrio, um mau pressentimento preencheu seu peito, uma agonia sem explicação.

Sentiu medo.

Esfregou ambas as mãos nas luvas de couro negro, as aquecendo. Olhou para Park um pouco mais adiante, abraçando o próprio corpo e resmungando quando uma rajada de vento cortou por eles, balançando as árvores e os fazendo tremer de frio.

Já seu irmão, Jimin, parecia imbatível e imune ao frio. Ele puxava fortemente a guia de um dos cachorros, assobiando e tentando conte-los.

Eles chegaram na parte de trás da escola, os muros pichados e dois enormes contêineres de lixo. Os cães enlouqueceram, escaparam das mãos dos oficiais e latiram com toda força para as lixeiras, batendo suas patas dianteiras no metal.

– Ah, meu deus... – murmurou o rapaz ao seu lado.

Jung respirou fundo, assistindo Jimin e outros dois homens se aproximarem dos contêineres. Os cadeados estavam quebrados, eles ergueram as tampas e viraram os rostos, apertando os olhos.

Não era bom. Não era nada bom.

Jihyo tomou a frente, apoiando as mãos cobertas por luvas nas bordas e olhando diretamente para dentro. Ao contrário dos demais, ela não esboçou nenhuma reação.

– O que tem aí? – questionou um deles.

Ela se afastou, de cenho franzido e lábios cerrados.

– Crianças.

O silêncio foi instantâneo. Nenhum ruído foi ouvido, sequer o som das respirações se podia escutar. Os homens se olharam em ar de duvida, mas nenhum deles teve coragem de conferir com os próprios olhos.

Hoseok sentiu o coração disparar, a imagem deles lhe veio a mente e desejava, por tudo o que é mais sagrado, que estivesse errado.

Passou pelos oficiais, inclinando-se sobre o contêiner e seu estômago revirou. O ar escapou de seus pulmões e pôde sentir seu coração apertar.

No fundo do contêiner estavam os gêmeos irmãos de Woojin. Embrulhados em mantos azuis como bebês, usavam cachecóis de lã e toucas. Seus rostos estavam azuis feito gelo e seus lábios possuíam um tom roxo.

Era como se estivessem dormindo, e por um segundo, Hoseok imaginou que houvessem sido deixados ali para morrerem congelados.

Entretanto, seus semblantes demonstravam a mais pura serenidade. Era de fato, como se houvessem sido colocados para dormir, embrulhados em cobertores grossos, descansavam feito pequenos anjos.

Como prometido, a menina bonita voltou para busca-los.

– Não era isso o que eu pretendia encontrar – ouviram Jimin resmungar atordoado.

– Não sei se teria sido melhor ou pior encontrarmos pedaços de um corpo... – um deles balbuciou.

– Ligue para a perícia, Park – Hoseok começou a dar ordens, se afastando dos contêineres – Isolem à área em um raio de cinco quilômetros. Ligue também para o médico legista.

A mulher o fitou em indignação, mal podia acreditar que estava recebendo ordens em sua própria força tarefa e sentiu-se estremecer de raiva, quando os homens começaram a se mover em obediência.

Quando Os Anjos DormemOnde histórias criam vida. Descubra agora