DEZ

5.8K 938 2.2K
                                    

#mentaEcanela


           Havia de ser considerado perigosamente astuto.

Aprendera rapidamente a conseguir o que queria quando começou a atuar no ramo jornalístico. Sabia usar cada uma das armas que possui, e uma delas era sem sombra de dúvidas o seu charme.

Olhos bonitos, sorriso atraente e o tom de voz barítono. Ele sabia muito bem o efeito que causava, e se isso não bastasse, se garantia na lábia.

– Bom dia – escorou-se na bancada, sorrindo simpático – Gostaria de falar com a legista Lee.

– O senhor seria? – arqueou as sobrancelhas confusa.

– Kim Taehyung, trabalho para a revista RM.

– Certo, me acompanhe – ela deu a volta no balcão e guiou Taehyung pelos corredores do Instituto de criminalística.

Passaram por salas de laboratório, onde era possível ver profissionais enfiados em seus jalecos, concentrados em seus telescópios.

Taehyung atentava-se a prestar a atenção em cada detalhe, desde os nomes nas placas douradas de cada sala aos inúmeros folhetos pregados nos murais de avisos que complementavam os corredores brancos.

A moça deu duas batidinhas na porta onde o nome "Dra. Lee" estava gravado. Esperou e logo a voz ecoou do lado de dentro lhe dando a permissão para entrar.

A mulher entrou primeiro e Taehyung logo em seguida.

– Outro repórter – anunciou e o Kim não soube disfarçar a surpresa e até mesmo a pitada de ofensa que sentiu, ao ter sido apresentado dessa maneira.

– Ah... – a mulher o olhou nenhum pouco surpresa, estava de pé, empilhando uma série de pastas que maneavam entre as cores azul, amarelo e vermelho, sobre sua mesa – Como posso ajudá-lo senhor...?

– Kim Taehyung – tomou a frente, trocando olhares rápidos com a moça que o guiou até ali, esta que entendeu o recado e logo deixou a sala lhes dando privacidade – Sou jornalista da revista RM.

– Sei... – riu soprado – É sobre o caso do garoto do rio?

– Sim, eu...

– Você quer uma cópia do laudo da autópsia.

– Sim, mas...

– Não.

Ele respirou fundo, colocando as emoções no lugar antes de prosseguir.

– Escute, doutora – tomou a liberdade para se sentar em uma das cadeiras – Entendo que já tenha sido importunada vezes demais por repórteres, curiosos e tabloides...

– Isso. Gente como você – apontou – Gente sem caráter que só se preocupa em lucrar em cima de um fato terrível. Não é a primeira vez que tenho gente da sua laia no meu encalço, já vi coisas absurdas demais serem ditas com base em uma morte. Tratam pessoas como se não fossem nada, pessoas que sequer estão aqui para se defenderem. E senhor Kim Taehyung, pessoas como você, me enojam.

Ele balança a cabeça em concordância, se deixa pensar. É veterano em entrevistas, já fora ofendido de maneiras muito mais cruéis do que esta. E por esse mesmo motivo, também sabe bem como andar em um campo minado sem ativar uma bomba.

– Não invalido a sua raiva, conheço profissionais exatamente como os que a senhora descreveu, não vou negar – sorriu fraco – Existem de fato pessoas mau caráter o suficiente, para tratar uma vítima de assassinato como um pedaço de carne que acaba de ser tirado da geladeira. Como se nunca houvesse existido vida ali... – e suspira – Mas eu não estou aqui para isso.

Quando Os Anjos DormemOnde histórias criam vida. Descubra agora