NOVE

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#mentaEcanela


– Está dizendo que o meu filho se afogou?

Ela perguntou uma segunda vez, como se precisasse disso para ter certeza do que acabou de ouvir.

– Há quanto tempo ele estava desaparecido?

– Cinco dias.

– Você só registrou o desaparecimento um dia depois?

– Não, foi no mesmo dia.

– Então ele estava desaparecido há quatro dias?

– Não... eu... – ela grunhiu, escondendo o rosto entre as mãos – Eu não sei.

Hoseok manteve os olhos nela, esperando. A casa estava uma bagunça, havia um cesto de roupa recém lavadas no sofá e manchas tanto nos estofados quanto nos tapetes. Brinquedos estavam espalhados por todos os cantos, e na estante ao lado da televisão, duas garrafas de vodca, uma pela metade e outra vazia.

– Ele sumiu no dia dezessete – responde o menino mais velho, usando um macacão da oficina mecânica onde trabalha – Logo depois que saiu da escola, ele pegou a bicicleta e saiu pra brincar com os garotos da rua.

– Como era a bicicleta?

– Era vermelha, eu dei à ele no mês passado.

– E vocês só registraram o desaparecimento por volta das onze da noite?

– Esperei para ver se ele voltava – seus olhos agora fixos no tapete – Ele estava sempre na rua arranjando confusão – sorriu fraco – Bati de porta em porta, e todos os amigos dele já estavam em casa para jantar. Só ele ainda não tinha voltado.

– Isso já tinha acontecido antes?

– O quê?

– Ele sair de casa e só voltar horas depois.

– Não, ele sempre voltava antes de escurecer – respondeu a mulher, erguendo o rosto outra vez – Eu dizia à ele que se não estivesse em casa para jantar antes do sol se pôr, o deixaria trancado do lado de fora.

Hoseok arqueia as sobrancelhas, passa o olhar da mulher para o filho mais velho e assente.

– Como era o comportamento dele em casa?

– Woojin era teimoso, ele não me obedecia – esfrega os joelhos – Mas garotos são assim, não é? Ele era como você – encara o mais velho – Igualzinho a você.

O garoto vira o rosto para o lado contrário, os olhos vermelhos, as mãos tremendos. Estava com medo.

– E como ele era na escola?

– Terrível. Ele batia nos garotos pequenos, furava eles com um lápis e gritava com os professores – resumiu – Deve ter herdado isso do pai.

– Ou de você – grunhiu o outro.

– O que está querendo insinuar com isso, moleque?

– Woojin tinha medo de você!

– Eu sou a mãe dele, por que ele teria medo de mim?

Ele riu, enxugando o rosto rapidamente.

– Quem nessa casa não tem medo de você, mãe?

– Ele não tinha medo, ele tinha respeito.

Ele riu ainda mais, negando com a cabeça. As lagrimas escorrendo pelo rosto, e as mãos tremulas em seu colo.

– A culpa é sua – murmurou – É tudo culpa sua.

Quando Os Anjos DormemOnde histórias criam vida. Descubra agora