#MentaEcanela
Um acidente. Quando lemos sobre esse tipo de coisa na internet não costumamos pensar na possibilidade de algo parecido nos acontecer.
Mas a vida é tão frágil.
Pessoas costumam sentir-se protegidas, algumas pela fé, outras por algum tipo de força maior. Na qual as livram de qualquer mal.
No entanto, essas coisas ruins, acontecem com qualquer um, à qualquer momento.
E Hoseok, mesmo vendo coisas ruins acontecerem com outras pessoas, a cada dia de trabalho, nunca sequer pensou na possibilidade de ser ele a vítima em vez do policial. Porque essas coisas ruins só acontecem com as outras pessoas.
Isso até sentir aquele frio na barriga. O medo. A sensação de ter o chão aos seus pés se desfazendo. E então, despencar.
Esta havendo um incêndio.
Ele confere as horas em seu relógio. São quatro e cinquenta e seis. Uma ambulância passa ao lado da viatura, a sirene alta confunde seus pensamentos.
Ele escuta o endereço soar seguido por um chiado no rádio. Seu coração aperta dentro do peito. Ele sabe onde é. É onde ele mora.
O corpo de bombeiros já foi acionado.
O ar foge de seus pulmões, ele encara o oficial sentado no banco do passageiro. E sem que seja preciso pronunciar uma palavra, ele muda a rota, pisa no acelerador, seus dedos apertam o volante.
O sentimento que corre pelas suas veias é quase primitivo, o mais puro medo e terror invadem seu corpo ele se sente tentado a gritar até que não sobre um fio de voz sequer.
O fogo escapa pelas janelas, a fumaça negra sobe pelo céu azul e se desvaira no ar. Ele vê a construção se desfazer em chamas.
Ele vê um caminhão dos bombeiros. Ele vê homens fardados correndo de um lado para o outro. Ele vê vizinhos preocupados em seus jardins. Ele vê socorristas. Mas não vê sua mulher. Assim como também não vê a sua filha.
Ele mal percebe o momento em que sai do carro, tão pouco nota quando já está em frente a casa.
Com lágrimas nos olhos ele se aproxima das ambulâncias. Nada. Ninguém além dos enfermeiros que tentam acalma-lo.
Leva as mãos até a cabeça, seus dedos se prendem ao emaranhado de seus cabelos, suas pernas parecem fracas demais para sustentar o peso de seu corpo.
Ele se vira, encara a casa, o fogo, a fumaça, os gritos, um cenário de terror que se embaça conforme as lágrimas se formam em seus olhos.
Hoseok dá um passo em direção a casa, dá outro, e no terceiro começa a correr.
Diante da porta, ele sente o calor absurdo que emana da construção, seu corpo é arrastado para longe. E mesmo que grite, que implore para que o deixem entrar, ninguém parece ouvi-lo realmente.
Afinal, não é a casa deles. Não é a família deles.
Os segundos passam como se fossem minutos, a dor consome seu coração como ácido, ela o corrói. Hoseok sente a vida deixar o seu corpo, ele fita suas mãos trêmulas em seu colo, tremor este causado pela sensação de impotência e medo.
Ele sente a morte, sente a respiração mórbida dela contra a pele de sua nuca, arrepiando os seus pelos. Sente sua presença assombrosa, um pesar em seu coração. Sugando sua vida, uma morte lenta e dolorosa.
Acabou. Ele pensa. Sua vida havia acabado ali.
E é quando ele os vê.
O homem atravessa com cuidado a janela do que antes fora a sua sala de estar. Suas botas pretas e pesadas esmagam os cacos de vidro ao deixar a casa.
VOCÊ ESTÁ LENDO
Quando Os Anjos Dormem
Fanfiction[CONCLUÍDA] Após o corpo sem vida de uma menina ser encontrado à beira de uma estrada, o detetive de homicídios Jung Hoseok, sequer imaginava que aquele era apenas o primeiro dos muitos que ainda viriam. Crianças começam a serem encontradas mo...