UM

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#mentaEcanela

         – Detetive Jung do departamento de homicídios – a voz grave e o rostinho bonito atraiu os olhares dos oficiais que atenderam a chamada.

Das orbes escuras do homem para o distintivo que este ergueu rapidamente, os oficiais assentiram com a cabeça para em seguida tomarem a frente, marchando em passos rápidos em direção a fita amarela.

Hoseok transmitia um ar de superioridade por onde passava. Era algo que muitos almejavam ter algum dia, porém inalcançável para grande parte deles.

Eles achavam que Hoseok tinha sorte. Sorte por ter conseguido chegar onde chegou. Por ter o que tem. Por ser reconhecido pelo o que faz.

Mas, será que seria certo, chamar de sorte todo o caminho que fora forçado a percorrer para chegar até ali?

Não, seria uma baita injustiça apagar todo o passado doloroso que precisou enfrentar. Seria como desconsiderar cada cicatriz que a vida marcou em sua alma.

Resumir toda a sua vida em sorte, significaria menosprezar cada inferno que precisou suportar.

Hoseok tinha tudo, menos sorte.

Ele puxou as mãos para fora do bolso da calça, para por as luvas brancas que lhe foram entregues no minuto em que passou pela linha amarela.

Olhou em volta, o vento gélido cortou o seu corpo agitando tanto os fios de seu cabelo quanto a grama alta que começara a cobrir seus tornozelos.

Respirou fundo, e o cheiro permanecia forte, ainda que estivessem ao ar livre, o que somente fortalecia o fato de que o corpo estava ali à dias.

Adiante, um tanto longe da estrada, pode ver a lona preta que a cobria.

Atentou-se brevemente à cada investigador forense que circulava pelo local, vestidos em seus uniformes brancos, carregando maletas grandes e prateadas, comunicando-se em sussurros. Pegando tudo o que supunham ser importante.

Os dois homens fardados o guiaram até o corpo, onde o comandante da investigação forense o aguardava. As mangas de seu macacão branco estavam dobradas na altura dos cotovelos, enquanto mantinha seus os olhos fixos na prancheta que segurava em suas mãos, cobertas pelas mesmas luvas brancas que Jung usava.

– Espero que tenha um bom motivo para ter me tirado da cama às cinco da manhã, Min – ele diz, e o perito o encara, não esboça sorriso algum, somente maneia o olhar entre ele e os oficiais e finalmente responde:

– Eu tenho. E você não vai gostar nenhum pouco.

O cientista tomou a frente, e Hoseok não deixou de notar o incomodo dos oficiais atrás de si no instante em que ele se abaixou, e puxou a lona.

Revelando um corpo pequeno.

Uma menina, que Hoseok supôs ter entre sete e dez anos. Usava um vestido azul, e uma bota rosa no pé esquerdo enquanto o direito estava descalço.

Em seus braços encontravam-se hematomas vermelhos, marcas de dedos. E em sua cabeça, um saco plástico escondia seu rosto, mas deixava escapar as mechas lisas e escuras de seu cabelo.

O silêncio era angustiante.

A cena em si era dolorosa.

Hoseok engoliu em seco, e pôde sentir seu coração apertar um pouco mais a cada segundo em que a analisava.

Um dos oficiais se afastou, talvez abalado pela cena ou quem sabe fosse o cheiro que estava o deixando enjoado. Mas não importava realmente.

– Vá em frente – Hoseok pediu.

Quando Os Anjos DormemOnde histórias criam vida. Descubra agora