P R Ó L O G O

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"Ela acreditava em anjos e, porque acreditava, eles existiam." – Clarice Lispector.

             É outono e as árvores ao seu redor apresentam folhas secas que alternam entre tons de amarelo e laranja.

Uma rajada forte de vento corta seu corpo, movimentando as mechas compridas de seu cabelo.

Pôde ver as folhas serem arrancadas de seus galhos e levadas pela corrente de ar, sobem, descem e descansam sobre a grama seca.

Descansam ao lado do corpo pequeno que ali fora deixado, entre a grama alta e quase sem vida, que parecia quase engoli-la.

O crepúsculo decrescia lentamente aos seus olhos, os tons alaranjados do céu davam espaço para a escuridão da noite. E o silêncio era tranquilizador, seus músculos relaxavam, enquanto uma paz absoluta reinava em seu âmago.

Pelos lábios finos escapou um fio de fumaça, que logo se dissipou no ar frente aos seus olhos.

Com o corpo apoiado no carro, olhava diretamente para onde havia à deixado. Esperava que se mexesse, que despertasse de um sono profundo e então, poderia colocá-la para dormir novamente.

Como uma mãe nina seus bebês, cantarolando baixinho uma canção infantil enquanto passa os dedos pelos fios lisos da criança, e o observa fechar os olhinhos enquanto o sono o embala, até que finalmente durma.

Prendeu o cigarro entre os lábios, tragou e soltou. Fechando os olhos por um instante. Reviveu cada detalhe em sua mente, abrindo um sorriso de satisfação sem sequer perceber.

Deu uma última olhada no pequeno corpo, e soltou o ar devagar. Sabia que estava fazendo a coisa certa, que estava à devolvendo para a terra, para que sua alma pudesse descansar no paraíso, de onde jamais deveria ter saído.

A menina agora dorme, em seu sono mais profundo, sua alma viaja até o céu e pode finalmente dizer que está em casa, enquanto seu corpo é devolvido à terra. Do pó veio e para o pó retornará.

Descartou a ponta do cigarro e dirigiu-se de volta para seu carro. Entrou, e respirou fundo, envolvendo o volante com seus dedos cobertos por um par de luvas de lã vermelha.

Encarou sua imagem no retrovisor, enxugou a única lágrima que ousara escorrer pelo canto de um de seus olhos e sorriu.

Agora, mais um anjo dorme.

Quando Os Anjos DormemOnde histórias criam vida. Descubra agora