VINTE E DOIS

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#mentaEcanela

Para Taehyung, o céu nunca esteve tão bonito. Não era um clima melancólico, por mais que sentisse um pesar imenso em seu coração.

Estava uma manhã bonita, apenas.

Suspirou, encarando o nome dela gravado na lápide. Sua mãe havia feito questão de fazer o enterro em Daegu, onde a família inteira estava. E isso para Taehyung não era de todo ruim, ele até preferiu que fosse assim apenas para não ter que olhar para o corpo sem vida dela.

Tornaria tudo aquilo mais real, e ele não queria ter contato com nada que tornasse aquela dor mais intensa. Ele ainda estava em negação.

Se ajoelhou, colocando o buquê de rosas amarelas que havia trago junto das inúmeras flores que ali descansavam.

- Desculpa, mana - murmura, enxugando a única lágrima teimosa que escorre pelo seu rosto.

Sempre que achava que já não tinha mais lágrimas para chorar por isso, seu corpo o surpreendia dessa maneira.

Ele se levanta, e com um suspiro pesado caminha para fora do cemitério. Sendo forçado a parar quando passa pelo túmulo dele.

Como um imã ele é atraído para ele, com o coração batendo forte e os olhos arregalados. E seus pés pesaram, como se dar um passo para frente exercesse dele uma força sub-humana. Eram suas correntes outra vez.

E como se houvessem mesmo correntes em seus tornozelos, o prendendo ao solo como se seus pés fossem parte dele. Como raízes, embrenhando-se pela terra e fincando-se naquele exato lugar.

Taehyung sentia a energia pesada que emanava daquele solo. Claro, estava em um cemitério, entretanto o que sentia era mais forte e avassalador do que qualquer outra coisa, era medo.

Ele estava morto, enterrado à mais de sete palmos do chão e Taehyung ainda sentia medo.

Não conseguia evitar, era um misto de respeito e medo que por muitos anos fora instruído a ter por ele. Algo quase que programado em sua mente, e que aos poucos vinha sido substituído por ódio e mesmo depois de anos ainda estava ali. E ainda o fazia sentir um garoto, estúpido e fraco.

Mas ele não era mais um garoto, fora afastando aquela onda de medo que lhe atingiu, deixando que uma onda ainda maior de ódio se erguesse e engolisse à outra, devastando tudo dentro de si.

Tragou o cigarro, soltando a fumaça entre um suspiro. Atirou a bituca em frente à sua lápide e continuou sua caminhada até os portões.

Era estranho para si andar por aquelas ruas, havia passado uma pequena parte de sua infância naquela cidade pequena. Mas olhar para cada árvore, cada placa e cada estabelecimento é como voltar aos seus sete e oito anos de idade. Porque tudo permanece exatamente como ele se lembrava.

Eles sempre estavam se mudando, era de Daegu para Seul e em vice-versa. O tempo todo.

Da última vez que foram para Seul, engravidou sua namorada. Da última vez em que foram para Seul, seu pai sofreu um infarto. Da última vez que foram para Seul, suas vidas começaram de verdade.

Todas as suas irmãs escolheram voltar para Daegu quando seu pai morreu, para fazer companhia à sua mãe. E também, as coisas sempre foram mais tranquilas no interior, ao menos para quem vê de fora.

Assim que chegou em frente de casa pode ver as crianças correrem no quintal, brincando com bexigas de água aproveitando extremamente bem o início da primavera.

Fez apenas sorrir para os gêmeos quando acenaram, com sorrisos largos lhes bordando os rostos. Sempre sentia-se melhor quando sabia que seus filhos estavam bem, estavam felizes. Era como se aqueles sorrisos entorpecessem a dor dentro de si.

Quando Os Anjos DormemOnde histórias criam vida. Descubra agora