24. Marcas Douradas

16 5 25
                                    

Eu era o herdeiro dos Dingarel, uma família da nobreza de Arietis. Meu pai, Victor Dingarel, era o chefe da família e um homem bastante regrado. Ele assumiu o posto de Cavaleiro do Poder quando eu era muito pequeno e levou seu papel muito a sério. Não posso dizer que ele tenha sido um mal pai, mas é claro que isso prejudicou um pouco nossa relação. Ele não aparecia muito em casa e sempre era chamado para resolver problemas ao redor do país. Em minha imaturidade da juventude eu pedi para acompanhá-lo em uma de suas missões.

— Prometo que vou ser útil, pai — insisti. — Eu sou muito bom com a espada. Treinei desde pequeno para isso.

— Garoto, você sabe que o que faço não é tão fácil quanto os seus treinos de espada.

— O senhor sempre diz que um homem precisa aprender a lutar por si mesmo. Eu já tenho quinze anos e ainda não tive uma experiência real de batalha.

— São tempos de paz, filho. Por que você busca conflito?

— Eu só... quero lutar ao seu lado.

— Está bem — concordou ele suspirando. — Você vai comigo, mas siga as minhas ordens, está bem?

— Sim, senhor — respondi animado.

Nunca minha mãe havia me visto tão empolgado com algo. Ela me ajudou a fazer as malas e dias depois eu estava cavalgando com meu pai até a entrada da Vila Branca, local onde nasceu a primeira Cavaleira da Justiça, Aquila Barla. O local estava sofrendo devido a um ataque de um grupo irritante de goblins. Encontramos o esconderijo e acabamos com eles rapidamente. Com o problema resolvido nós decidimos retornar para casa. Viajamos por uma estrada ao sul até chegarmos ao porto de Botein. Como meu pai sabia que eu nunca havia viajado de navio antes ele achou que seria divertido completar a viagem pelo mar, pois o navio permaneceria não muito longe da costa, até chegar a Argos e de lá seguiriamos rumo à capital.

— Isso é muito legal! — gritei empolgado ao ver uma baleia saltando ao longe. — Eu poderia virar um marinheiro.

— Tenho certeza que seria um dos bons — disse ele rindo.

Deveríamos ter chegado em dois dias, mas durante a noite fomos atacado por piratas. O ataque ocorreu enquanto eu e meu pai estavamos dormindo, então, quando nos demos conta do que estava acontecendo, nos vimos obrigados a resistir. Com minha espada lutei contra os piratas, sendo aquela a primeira vez que tirei vidas humanas. Pensei que me sentiria mal por aquilo, mas só o que senti foi alivio por não ter sido eu a morrer. Estávamos nos saindo bem, mas os piratas tinham usuários de magia em sua tripulação e quando eles agiram nosso navio ardeu em chamas. Em meio ao caos do fogo e das espadas eu e meu pai nos perdemos um do outro e logo a embarcação naufragou. Eu me vi a deriva no mar flutuando em um pedaço de madeira e lutando para sobreviver a todo custo. Permaneci daquele jeito até desmaiar.

— Ele está vivo. — Foi a primeira coisa que ouvi quando minha consciência retornou. — Parece saudável, talvez tenha algum valor.

Ao abrir meus olhos percebi que eu estava dentro de uma cela e, pelo balançar do lugar, em um navio. Um homem pálido apalpava meu rosto e, no susto, recuei, me arrastando para o canto da parede.

— O que está acontecendo?! — gritei assustado. — Onde eu estou?

— Acordou — disse o homem, aparentando estar satisfeito.

— Eu disse que ele não ficaria dormindo para sempre — comentou um segundo homem, que estava atrás do primeiro. — Ao menos agora vai poder ser útil.

— Quem são vocês? — inssisti na pergunta.

— Já que ele fala bem talvez saiba escrever também — disse o primeiro homem. — Você sabe escrever, garoto?

A Saga de Arietis. Livro 2 - Heresia (Completo)Onde histórias criam vida. Descubra agora