30. Condições

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— Quando a guerra começou eu lecionava na Príncipe Julius há três anos. Era o professor de Magias Defensivas, uma das disciplinas mais importantes. Minhas habilidades foram consideradas boas o suficiente para que eu me destacasse e isso gerou alguns olhares enciumados da nobreza.

— Você não seria o primeiro a chamar atenção assim.

— Imagino que não. Bem, como deve saber, eu sou um simples plebeu que chegou até onde estava com bastante dedicação e estudo, algo raro de acontecer. Quando fui promovido para um cargo maior no lugar de outro professor, que possuía sangue nobre, me vi cercado por inimigos. Eles usaram das táticas mais baixas possíveis para me prejudicar até que me acusaram de ser um filho bastardo de um Cavaleiro Elemental com uma prostituta, justificando assim meu "talento" com a magia.

— E você é?

— Minha mãe realmente trabalhava em um bordel e eu não faço ideia de quem seja o meu pai. Mas durante o meu julgamento alguém conseguiu convencer o juri de que meu pai era Colin Ignis. Se não me engano ele foi o Cavaleiro da Sabedoria antes de Silas Vant, não é? Foi bem conveniente apontarem um homem que já havia morrido há sete anos como meu suposto pai e a lei era bem clara sobre o que devia ser feito de mim.

— Mas você não foi executado.

— E nem acolhido pela família, receio — disse ele debochando. — Imagine eu me chamando Idris Ignis, seria bem engraçada a sonoridade — comentou rindo irônico.

— Diga logo a razão de você ter matado seus companheiros.

— A rainha Laila veio até mim em segredo e me sugeriu uma proposta. Eu iria para a guerra como um mago do exército para que assim o reino se aproveitasse de minhas habilidades para obter vantagem. É claro que ela me disse que era apenas uma desculpa para me salvar da execução e me ordenou a fugir no meio da batalha assim que possível. Até me pagou uma passagem para Australis.

— Mas você não fugiu, não é?

— Eu teria fugido, mas descobri que alguns dos meus alunos haviam ingressado no exército. — O semblante dele tornou-se sério. — Aquelas crianças foram ludibriadas pelos discursos dos militares na academia e se dirigiram à linha de frente acreditando que seriam heróis. Eu não pude deixar que meus pupilos lutassem naquela guerra, então tentei convencê-los a voltarem para suas casas, mas foi em vão. Decidi protegê-los enquanto durasse a guerra, mas o inevitável aconteceu e comecei a perder meus alunos um por um, todos das formas mais terríveis — Ele a encarou com os olhos emanando fúria. — Mas o meu limite foi quando um comandante do nosso próprio exército matou uma das minhas alunas a sangue frio depois que ela poupou um soldado inimigo que havia se rendido. Ele e todos os oficiais começaram a rir dela e quando uma amiga caiu de joelhos ao lado de seu corpo aos prantos, eles a espancaram. Eu não pude me conter e matei todos eles sem nenhum remorço.

— Então você aplicou a justiça em nome daquela jovem estudante?

— Justiça? Não existe justiça na guerra, Lady Blodbrand. Só existe a matança insana e desenfreada. Pessoas boas descobrem o pior que existe dentro delas e não percebem quando se tornam monstros desalmados.

— Eu lamento pelo que você passou, mas a guerra acabou e agora é sua chance de recomeçar de onde você parou. Você terá uma vaga no corpo docente da Príncipe Julius com todos os benefícios possíveis.

— Não vou simplesmente retornar para e fingir que nada aconteceu.

— Ouça, a academia corre perigo, entendeu? O único homem com culhões para encarar os nobres corruptos de frente e intimidá-los está do outro lado do mar e eu estou sozinha lidando com tantas questões burocráticas que não conseguoria manter vigilância constante sobre eles. Então eu preciso que você seja meus olhos e ouvidos lá dentro. O que eu posso fazer para convencer você a aceitar?

A Saga de Arietis. Livro 2 - Heresia (Completo)Onde histórias criam vida. Descubra agora