42. Ramos do Desejo

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O mundo diante de Eliza pareceu se fechar. A escuridão voltou a tomar conta de tudo por um breve momento, mas logo deu lugar a um salão vazio repleto de espelhos nas paredes, chão e teto.

— Que lugar é este? — perguntou ela.

— O lugar perfeito para você se lembrar do passado — respondeu Solomon.

O espelho no chão logo à frente dela começou a brilhar e ao se aproximar, Eliza viu a imagem da quimera que a atacara na floresta há um ano.

— Sou eu — declarou perplexa.

— Em um de seus vários momentos de inutilidade.

— O quê?

— Assim como você não conseguiu fazer nada para ajudar ser irmão, também foi incapaz de se salvar daquela vez. — A imagem passou a se mexer e a figura de um homem de armadura  surgiu, lutando contra o monstro. — Uma donzela em perigo mais uma vez, sendo salva por seu cavaleiro de armadura brilhante. Indefeza e incapaz.

— Cala a boca! — gritou tampando os ouvidos.

— Não posso me esquecer do Torneio Esmeralda — comentou ele ao apontar para um espelho na parede que mostrava a luta dela contra Theomar, disfarçado como Vals. — Que campeã fajuta você foi, não é? Venceu apenas porque seu namoradinho e os amigos dele simpatizaram com você. Tudo manipulado para garantir sua vitória. Ah, também houve aquela vez em que você só não morreu por causa do familiar do príncipe Lucas que te concedeu aquela defesa de diamantes durante a luta contra Alyssa. — Outro espelho no chão mostrou a imagem do espantalho. — Como sempre, você nunca consegue as coisas por mérito próprio.

— Vai embora — bradou ela tentando socá-lo mais uma vez, porém o golpe o atravessou novamente como se o mesmo não estivesse ali. — Por que você não me deixa em paz?

— Paz? Você nunca concedeu paz a si mesma, mas espera que eu conceda? Você que ainda é uma garotinha assustada com saudades do papai e da mamãe? Tão desesperada em reaver uma família que se agarrou ao primeiro homem que a confortou como uma pulga se agarra a um cão. Será isso uma tentativa desesperada de criar uma nova família para substituir aquela que morreu por sua causa?

— Para de falar!

— Ainda não acabamos. — Ele apontou para um espelho na parede que mostrava uma imagem de Rosnoc lutando contra Eliza em Ferdet. — Você foi uma tola. Uma amadora com treinamento incompleto lutando contra alguém muito mais experiente. Não me adimira que tenha perdido. Se fosse uma humana, teria morrido e nem mesmo conseguiria invocar a deusa que resolveu toda a disputa.

— Eu sou uma humana! — protestou.

— Parece que não prestou atenção na minha explicação. Você é uma mera casca vazia, um homúnculo. Nem mesmo seu coração é um coração de verdade, mas sim um núcleo mágico igual ao dos golens.

— Mentira!

— Ah, não. Essa é a mais pura verdade. Não acha estranho que você não tenha morrido após ser transpassada por uma espada? Isso só aconteceu porque seu núcleo fica no seu peito, mas o golpe foi na lombar. Ainda há uma cicatriz lá, não é?

— Quer dizer que a história da família real viriana ter um vínculo maior com divindades era mentira também?

— Se fosse verdade, eles não teriam se envolvido com demônios — respondeu ele. — Ah, essa é minha favorita.

Todos os espelhos passaram a mostrar imagens de pessoas gritando furiosas.

— Aquela bruxa acabou com a lavoura! — disse a voz.

A Saga de Arietis. Livro 2 - Heresia (Completo)Onde histórias criam vida. Descubra agora