45. Libertação

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— Devo admitir que a subestimei — disse Asmodeus. — Sua determinação é louvável.

Eliza puxou sua foice para cima com toda a força, cortando a carne do demônio. A intensidade do golpe fez a lâmina rasgar o peito da vítima e sair pelo ombro direito, quase partindo Asmodeus ao meio. Ele, porém, permaneceu imóvel.

— Confesso que isso doeu um pouco — disse ele. — Havia bastante raiva no seu ataque — disse ele soltando Nicolas.

A ruiva tentou acertar outro golpe, mas dessa vez seu alvo desviou. Era como se seu corpo não ostentasse ferimento algum e logo foi possível perceber que nem uma gota de sangue saiu de seu corpo.

— Como pode ainda estar vivo?

— Ah, então você realmente atacou na intensão de matar? — A ferida se fechou como se nada ocorrera. — Pensei que estava tentando coçar minhas costas com essa coisa pontuda aí.

— Me deixa eu coçar de novo — disse ela investindo novamente contra ele.

No momento em que a Senhora das Sepulturas atingiria o demônio, o mesmo desapareceu de vista. Ela olhou ao redor, esperando por um ataque, mas sentiu mãos quentes lhe tocarem as bochechas por trás com ternura.

— Não se sinta tão zangada, minha Eliza — disse ele. — As rugas do ódio não combinam com seu belo rosto.

— Me solta — disse ela se virando e tentando acertá-lo em vão mais uma vez. — Não toque em mim, seu devasso.

— Ah, não se preocupe — garantiu. — Teremos muito tempo para brincar depois que as coisas se acalmarem por aqui, mas eu não deveria ser a sua prioridade.

— O quê?

— Há alguém bem mais problemático que eu ali dentro — disse indicando um grande vórtice negro que flutuava sobre um cálice de prata a poucos metros. — Te vejo em breve, minha querida.

Antes que Eliza pudesse pensar em algo para dizer, Asmodeus converteu seu corpo em uma fumaça negra que se dissipou no ar.

— Onde ele está? — perguntou-se Eliza. — Nicolas, você está bem?

— Só com o orgulho ferido, mas vou viver — disse se levantando com dificuldade. — O que é aquela coisa? — disse apontando para o vórtice negro.

— Não faço ideia, mas não pode ser coisa boa. É melhor destruir antes que...

Outro pilar de luz se projeto para o alto a partir do vórtice e depois alguém saiu de dentro dele. Tinha algumas semelhanças com Asmodeus, como o cabelo, só que um pouco mais comprido, e trajes pretos elegantes. Diferenciava-se, porém, pelo cavanhaque e pelos olhos cujas íris pareciam bolas de fogo.

— Bem melhor agora — disse a figura. — Ah, você acordou, Eliza? Eu achava que suas aventuras ilusórias durariam mais tempo. Bem, não importa.

— Quem é você?

— Não se lembra de mim? Sou eu, Belfegor.

— O quê?!

— O ritual está completo, ao menos para mim. E que maravilha é me libertar sob a luz passiva do crepúsculo que dá lugar à escuridão.

Eliza tentou atingir o demônio com sua foice, mas a arma parou a milímetros do pescoço do mesmo. Ele começou a rir e a bateria palmas.

— Voraz, agressiva, sem dúvidas. Admirável, pequena homúnculo. Deve ter enfrentado seus fantasmas com bravura na ilusão que criei com os poderes de Solomon. O que fez com os camponeses dos seus pesadelos?

A Saga de Arietis. Livro 2 - Heresia (Completo)Onde histórias criam vida. Descubra agora