— Existe uma boa razão para a necromancia ser considerada uma magia maligna — explicou o diretor. — A maioria dos magos que a dominaram utilizaram para fins nefastos. Geralmente eles adquirem tal habilidade após estudarem e praticarem por anos, mas não é o caso de Dan.
— Eu vou virar um cara mal? — Questionou o menino.
— Claro que não — respondeu Eliza. — Se alguém usa magia para o mal então a culpa é do carater a pessoa e não da magia em si.
— Suas palavras são sábias, Lady Arevidere, mas a questão ainda é preocupante. Não é comum que alguém possua aptidão inata em necromancia. Como eu já disse, só dois estudantes desta escola apresentaram características como as suas, Dan. Receio que o destino de ambos não foi feliz.
— O que houve com eles? — Perguntou curioso.
— Um morreu e o outro é um criminoso procurado.
— Eu não vou virar um bruxo do mal. Eu nunca mais vou usar magia, assim ninguém vai se machucar.
— Eu gostaria que fosse tão simples, meu jovem. Entretanto aptidões inatas costumam se manifestar não intencionalmente. Que tipo de fenômenos já ocorreram com você?
— Eu... eu... trouxe um passarinho de volta a vida por alguns instantes. Mas era estranho, ele se mexia meio esquisito. Parecia um boneco.
— Fantoche Morto, o poder de manipular os corpos dos mortos. Geralmente os movimentos são desajeitados e estranhos.
— Isso é ruim, não é?
— É algo que deve evitar, criança. Cadáveres não devem ser perturbados por respeito aos mortos.
— Então realmente é melhor eu não usar magia.
— Não devemos privar você de tudo. Só precisamos explicar bem para determinar suas habilidades, com a devida instrução e acompanhamento.
— Então eu não vou virar um bruxo do mal?
— Não enquanto eu for diretor desta acadêmia. Chamarei os maiores especialistas para ajudar você, com a devida permissão da sua irmã, é claro.
— Eu gostaria muito. Não quero que ele se sinta mal por ser como é.
— Mas antes eu vou precisar saber de algo que pode ser bastante incômodo. Quando foi a primeira vez que você manifestou alguma magia?
— Foi... no dia que a mamãe e o papai morreram. — Eliza olhou Chocada para o garoto. — Eles foram mortos por soldados que depois tentaram me pegar. Foi aí que um homem que já tinha morrido se levantou do chão e se atirou na frente. Depois outro fez a mesma coisa e depois outro e outro. Um monte de corpos me defendendo. Eu aproveitei e corri para o mais longe possível dali. Então eu... eu...
— Tudo bem, pode parar — tranquilizou o diretor. — Me desculpe por forçá-lo a se lembrar de algo tão terrível. Mas me parece que já sabemos o gatilho, a morte dos pais. Testemunhar a morte de alguém amado é um dos gatilhos mais comuns para despertar os poderes de um necromante.
— Então a culpa é minha por ter me atrasado a chegar naquele dia — disse Eliza.
— Não se culpe pela crueldade da guerra, minha cara. Não havia nada que pudesse ser feito. — Ele respirou fundo. — Muito bem, Dan irá para a lista de alunos especiais juntamente com Charlotte Corisco. Avisarei a vocês assim que estivermos prontos.
Horas depois Eliza aguardava em sua mansão. Tomava um pouco de chá na sala de estar enquanto refletia sobre os últimos eventos.
— Não vejo a senhorita tão preocupada desde o incidente do bruxo — disse um Matias adentrando o cômodo.
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A Saga de Arietis. Livro 2 - Heresia (Completo)
FantasyUm ano após o fim da guerra contra Antares o reino de Arietis tenta se reerguer aos poucos. A economia, a educação e o poder militar ainda estão precários e a paz ainda é mantida com dificuldade. Em meio ao estado delicado da nação Eliza se vê obrig...