23. Penumbra

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Dias se passaram desde o encontro com Sudin Frop. A tripulação do Galope do Hipocampo não encontrou outros obstáculos como aquele pelo resto da viagem e ao amanhecer do décimo oitavo dia após o início da viagem eles avisaram terra firme.

— O capitão não estava brincando — comentou Theomar para Nicolas. — Chegamos na metade do tempo estimado para uma viagem normal.

— As habilidades dele com magia de água são mesmo muito boas — disse o grandalhão. — Você pediu a ele algumas dicas, não foi?

— Sim e espero que sejam úteis.

— Se vão me elogiar então faço questão de estar presente — declarou Jask, se aproximando da dupla.

— Capitão, o você não deveria estar no leme? — perguntou Nicolas.

— Coloquei o Jofrey lá — ele notou um visível semblante de preocupação no rosto dos dois. — Mas fiquem tranquilos, pois hoje é um dia em que ele está sóbrio. — Ambos suspiraram aliviados. — Espero que gostem de Australis, senhores. Devemos chegar em poucas horas. A propósito, onde está o príncipe Edward?

— Duelando novamente com a sua filha — respondeu Theomar. — Eu nunca pensei que eles fossem gostar tanto de duelar.

— Você lembra do placar atual? — questionou Nicolas.

— Vinte e cinco para o Edward e vinte e seis para a Emilly. Ele está tentando empatar antes de chegarmos ao porto.

— Rapaz corajoso, considerando que minha filha não joga limpo.

— Ela não consegue duelar de forma normal?

— Eu a criei no mar em meio a piratas — respondeu. — A vida de ladrão e trapaceiro foi o que me manteve vivo por muito tempo até eu conhecer o rei Cael.

— Você era um pirata?! — surpreendeu-se Nicolas.

— Da pior qualidade, receio. Hoje trabalho como o líder dos corsários a serviço do rei. Não é muito diferente de ser um pirata, mas ao menos estou servindo a algo maior que a mim mesmo.

— Mesmo assim pilham e saqueiam outras nações.

— Apenas uma nação, na verdade. Só atacanos navios cancrinos.

— É claro, as desavenças de Australis e Cancri são lendárias — comentou Thromar. — Eu deveria ter imaginado. Há quanto tempo essa richa existe?

— Mais de cem anos.

— E eu pensando que nossos dez anos de guerra eram dureza.

— Não é uma guerra aberta, se me permite dizer. Vivemos em um constante estado de atrito e pequenos conflitos ocorrem com certa frequência nas fronteiras entre as duas nações.

— Que ótimo, mal saímos de uma guerra e já vamos nos meter na guerra dos outros.

— Vocês não vão se meter em guerra nenhum, quer dizer, a menos que esteja rolando alguma invasão quando chegarmos.

— Isso é realmente animador, capitão — disse Theomar irônico.

Logo o navio chegou ao porto e o grupo desembarcou. Edward, que conseguira seu empate no placar de duelos com Emilly, se viu admirado pela quantidade de raças diferentes que ali circulavam. Orcs robustos carregavam mercadorias pesadas ao lado de elfos que orientavam anões sobre os valores das mesmas. Por um momento pensou ter visto um homem com cabeça de lagarto passar por trás de uma carroça. O momento de admiração do príncipe foi interrompido por Jask que lhe deu um tapinha nas costas.

— Bem-vindo a Kaus, alteza. Nossa capital recebe a todos com alegria. Sinta-se em casa, mas não ande pela zona oeste depois das oito da noite, pois é quando uma galera da pesada costuma aparecer. — Ele se aproximou para cochilar em seu ouvido. — E fique longe dos anões que usam três tranças na barba. Eles são problema.

A Saga de Arietis. Livro 2 - Heresia (Completo)Onde histórias criam vida. Descubra agora