36. Sangue Real

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— Há muito tempo eu servi como maga da corte do rei Gregory e da rainha Izabela — disse Tatiana. — Meu papel era aconselhar e orientar os monarcas para guiar nossa nação a um caminho de prosperidade. Nosso país vivia tempos de paz e minha alegria aumentou ainda mais quando eu soube que a rainha estava grávida. Comecei a imaginar como seria aquela criança, que coisas eu lhe ensinaria como tutora, como ela cresceria e se tornaria alguém brilhante e amada. Mas, infelizmente, aquela bênção se tornou a nossa maldição.

— Já imagino o que aconteceu — disse Tim.

— Quieto! — disse Peter repreendendo o anão. — Deixe a moça falar.

— Izabela adoeceu e a gravidez se mostrou arriscada — continuou ela. — Conforme a época do nascimento da criança se aproximava o rei se via cada vez mais preocupado. Ele me pediu para que eu descobrisse uma forma de salvar sua esposa e a criança. Pela primeira vez aquela não havia sido uma ordem, mas sim a súplica de um marido e futuro pai. Usei todos os meus conhecimentos para tentar salvá-las, todas as ervas, todos o elixires, todas as magias, todos... inúteis. — Ela abaixou a cabeça com um uma expressão de tristeza. — Foi frustrante perceber que eu não conseguiria fazer nada.

— Todos temos nossas limitações — disse Maxwell tentando confortá-la.

— Foi naquele momento, quando a esperança parecia perdida, que um homem apareceu — disse Tatiana voltando a erguer o rosto. — Ele se dizia um profundo conhecedor das artes místicas e um estudioso da magia Espacial. Seu nome era Cornélios e a promessa que ele fez ao rei foi a de que conseguiria abrir um caminho para o reino divino de onde espíritos celestiais, enviados pelo próprio Predecessor, desceriam até Eclíptica e realizariam um milagre, salvando Izabela e seu bebê. Sim, parece surreal e improvável, mas um homem em desespero dificilmente pensa racionalmente.

— Sei como é ser impulsivo, mas ainda não cheguei ao nível de me envolver em rituais sugeridos por estranhos de índole duvidosa — declarou Theomar.

— Fale de suas impulsividades em outro momento, Theo — disse Nicolas.

— Eu estou falando, cavalheiros — disse Tatiana incomodada.

— Perdão — disseram ambos.

— Eu tentei alertar Gregory de que aquela era uma má ideia — prosseguiu. — Eu podia sentir a aura sinistra que emanava de Cornélios. Sabia que algo de errado estava acontecendo, mas meus avisos foram completamente ignorados. Durante uma noite de lua nova o suposto ritual divino foi conduzido pelo próprio Cornélios, utilizando o sangue da rainha como catalizador. Isso se deve ao fato da família real viriana ser conhecida como possuidora de um sangue especial.

— Harry comentou algo do tipo — disse Theomar. — Essa história é verídica?

— Não sei se é, mas o sangue funcionou. Eu agi para tentar impedir o ritual, mesmo contra a vontade do meu rei. Lutei contra Cornélios, mas acabei sendo derrotada. Quando a cerimônia acabou um vórtice escuro surgiu na sala e dele saíram sete sombras medonhas que logo tomaram a forma de sete demônios superiores. Aquelas criaturas nefastas viram a rainha como uma oferenda e, sem uma gota de remorso, a devoraram junto com a vida que ela carregava. Só então Gregory entendeu a tolice de suas escolhas.

— Percebeu muito tarde — comentou Tim.

— De fato — concordou ela. — Uma vez libertos neste mundo os demônios começaram a assolar Vir. Houve grande destruição e morte até que eu consegui reunir sete guerreiros cheios de virtudes que conseguiriam contrabalancear o poder demoníaco. Felizmente deu certo. O trabalho dos Sete Virtuosos levou à ruína dos Sete Pecados. Seus corpos foram destruídos, porém seus espíritos logo tomaram posse dos corpos dos vencedores. Os demônios se aproveitaram de algumas falhas de caráter dos heróis faz nação para possui-los e em pouco tempo os efeitos daquela possessão começaram a aparecer.

A Saga de Arietis. Livro 2 - Heresia (Completo)Onde histórias criam vida. Descubra agora