20º Capítulo

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Os meus sentidos foram voltando aos poucos com o tempo e o meu nariz sentiu um cheiro familiar. Matt. Levantei-me rápido para tentar encontrar a fonte daquele cheiro e não encontrei ninguém. O casaco do terno do Matt abraçava o meu corpo, era aquela a fonte do cheiro. Apertei os meus braços à volta do meu corpo numa tentativa falhada de diminuir o vazio do meu coração. Os meus olhos já estavam novamente molhados com as imagens que apareciam na minha mente.

- Matt? - chamei na esperança de ele responder-me mas nada aconteceu.

A porta abriu-se e o meu coração encheu-se de esperança mas fui empurrada para a realidade com o cabelo loiro do Chris.

- Olá, pequena. - a voz dele parecia cuidadosa, como se estivesse a controlar o tom de voz - Como é que te sentes? - sentei-me no sofá para dar espaço para que ele sentasse também.

- Estou bem. - acenei com a cabeça e tentei forçar um sorriso. O olhar do Chris entristeceu quando as lágrimas começaram a escorrer pelo meu rosto. - Onde é que ele está, Chris? - a minha voz saiu baixa e partida entre a respiração acelerada.

- Encosta aqui. - o meu corpo foi acolhido nos seus braços quentes e a minha cabeça repousou sobre o seu peito enquanto a sua mão fazia carinho no meu cabelo. Senti-me uma criança a ser acalmada pela mãe depois de ter o coração partido pela primeira vez. O meu coração realmente estava partido mas não tinha o colo da minha mãe.

- Obrigada. - disse fechando os olhos, aproveitando o conforto dos braços do loiro com o carinho que estava a fazer no meu cabelo.

A minha mente estava perdida com o tamanho da informação que recebia. O que é que aconteceu? Eu não entendia nada daquilo mas tinha as minhas suspeitas. Seria aquilo algum tipo de magia? Se bem me lembrava, nos filmes de lobisomens o romance era quase sempre feito entre dois da mesma espécie, excepto em Twilight. Seria aquilo algum tipo de imprint? Mas ainda assim não explicava o facto de nós conseguirmos estar em dois lugares ao mesmo tempo.

Não sabia se quando o Matt estava do meu lado, desaparecia do lado onde ele estava. Não sabia como accionar aquilo nem como sair. O Matt parecia entender mais daquilo do que eu. Chamei-me de burra mentalmente ao recordar-me que eu tinha acabado de saber da verdade sobre ele. Não tinha como eu saber mais do que ele.

- Como é que ele está, Chris? - perguntei mais calma mas sem sair de onde estava. Fez-se silêncio durante um bom tempo.

- Ele está bem, - fez uma pausa - agora. - continuei calada à espera que ele desse continuidade - Ele esteve onde não devia e as consequências seguiram-no. Mas não te preocupes porque nós saramos rápido, ele já está quase totalmente recuperado por agora.

- Mesmo com todos os ferimentos que ele tinha? - perguntei enquanto passava a mão pelos botões do casaco do Matt.

- Sim. - ele mexeu-se, puxou-me para endireitar e voltamos à mesma posição - A única coisa que não entendo é a parte em que tu entras nessa história. - okay, já entendi que eu sou a extraterrestre, obrigada Chris - Nunca ouvi falar de ninguém que conseguisse fazer o que tu fizeste, e aposto que o Matt está tão desconcertado com isso quanto tu.

- Mesmo na vossa relação, vocês não conseguem estar fisicamente um com o outro, como eu e o Matt?

- Não, nem partilhar a mesma dor como vocês partilharam. - a mão de Chris na minha cabeça parou, o que fez-me afastar e olhar para a sua face.

- O que?

- Vocês conseguem estar um com o outro mesmo longe? Digo, tocar no outro, ver e ouvir tudo que está ao redor dele?

- Sim, como se estivéssemos presentes. - Chris olhou cuidadosamente para mim antes de continuar.

- Tu tens certeza que queres continuar connosco, e saber tudo de nós? - eu acenei com a cabeça. Já estava dentro de tudo aquilo que eles eram e não me sentia no lugar errado, pela primeira vez em um bom tempo. - Então tem muito que vais aprender mas só com o tempo para não ficares com um desgaste emocional. - o loiro puxou-me para o seu peito novamente e continuou a fazer carinho. Passamos uns longos minutos em silêncio antes de eu dar voz aos meus pensamentos.

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