23° Capítulo

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— Mamã. — uma voz que vinha do fundo da minha consciência chamou-me. Acho eu. Tentei abrir os olhos mas eles pareciam pesados. Fiz um barulho que nem eu reconheci e voltei a forçar os meus olhos para abrirem-se.

— Olá, meu amor. — abracei o Dean puxando-o para cima de mim. Espalhei beijos pelo seu rosto e estranhei não ouvir a sua gargalhada. Levantei-me da cama e prestei atenção aos seus olhos. Espera. Como assim cama? Olhei à volta e notei que estávamos no quarto do Matt.

— Eu e o tio Matt viemos trazer-te para aqui. — voltei a prestar atenção ao meu pequeno.

— Obrigada, meu anjo. — voltei a sentar-me na cama quando veio uma tontura forte por ter levantado rápido demais. — O que se passa? Como é que correu o fim-de-semana? — os seus olhos estavam tristes.

— Não foi bom, mamã. — ele sentou-se na cama ao meu lado com os olhos cheios de lágrimas.

— Porquê? — o meu coração já estava todo mole com as suas lágrimas. Ele começou a mexer as mãos enquanto tentava explicar.

— Eu não senti-me bem com o Theo. Ele passou o tempo todo a dizer que queria estar em casa dele com os amigos e não comigo ou com a tia Mia. — ele levantou os olhos para mim — Eu não queria pedir para ligar para ti para não fazer a tia Mia ficar chateada comigo. — o meu coração apertou-se e o meu cérebro não gostou do que ouviu.

— Não faz mal, pequeno. — penteei o seu cabelo com a mão — Quando eu liguei para a tia Mia, como é que te sentias?

— Estava com muito sono mas a tia Mia queria acabar de ver o filme com um amigo, então eu e o Theo estávamos a ver também.

— E de que falava o filme? Comeram pipocas e chocolates? — desviei um pouco do tópico pesado para aliviar um pouco.

— Comemos pipocas doces e o filme era de dois irmãos que foram para a floresta e encontraram uma senhora muito má. — O QUÊ?! Espero estar a desconfiar errado — O nome deles era Hansel e Gretel.

Eu ia matar a Mia. Como é que ela deixou as crianças verem Hansel e Gretel?

— Eu e o Theo não conseguimos dormir à noite porque ficamos com muito medo e ao meio da noite começamos a ouvir barulhos estranhos em casa. Parecia alguém a gritar de uma forma estranha e a bater na parede. — olhei atenta para ele que estava com lágrimas a escorrerem pelas bochechas vermelhas. O meu cérebro armazenou a raiva que estava a sentir da Mia e concentrei-me no pequeno que chorava aflito.

— Vem aqui, meu anjo. — puxei-o para sentar no meu colo e ele agarrou-me com força, deixando tudo sair.

Ele chorou muito, ao ponto de começar a soluçar e eu deixei ele desabafar, sentindo-me a pior mãe do mundo. Eu não devia ter deixado o meu pequeno ir só assim e devia ter ido apanhá-lo muito mais cedo mas confiei no que a Mia dizia. Os meus olhos estavam molhados e abri-os quando vi uma sombra na porta. O Matt olhava para mim encostado à porta e abanou a cabeça.

— Algo está muito errado. — ele mexeu os lábios sem emitir nenhum som.

— Eu vou matar ela. — toda a raiva que estava a sentir subiu novamente pelas minhas veias mas eu controlei-a. Não era o momento certo para usá-la.

Acendeu-se uma luz na minha cabeça e o meu sexto-sentido começou a gritar tão alto que foi impossível de ignorar. As coisas juntavam-se tão rápido que senti-me com uma dose de adrenalina nas veias.

— Meu amor. Podes dizer-me como era o amigo da tia Mia? — perguntei quando ele ficou mais calmo.

Aos poucos ele ia dizendo as características do homem e quando ele acabou eu levantei o meu olhar para o Matt que demorou dois segundos para ler o que eu transmitia pelos olhos. Arregalou os olhos e pegou no telefone, desaparecendo pelo corredor.

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