— Livro narrado na primeira pessoa com excepção ao presente capítulo. —
O som do despertador fez-se ouvir pelo cómodo e Ella esticou a sua mão para desligá-lo. Ainda com muito sono, por ter dormido apenas às duas da manhã devido às insónias, levantou-se e arrastou-se até à casa de banho. Olhando para o seu rosto cheio de olheiras e o cabelo numa juba de leão, Ella riu e começou a fazer a sua higiene pessoal. Imagens do dia anterior passaram pela sua mente e suspirou ao lembrar do azar que a rapariga tivera. Chegara atrasada ao serviço porque o autocarro avariou e o seu chefe fez questão de fazê-la ficar até o local fechar e como castigo teria que chegar mais cedo durante o resto da semana e sair mais tarde, tendo que esperar o dono da loja para fechar a mesma e então voltar para casa. Ella sabia que esse não foi o contrato, mas sem escolhas, apenas baixou a cabeça e aceitou o que o patrão tinha para dizer ou estava desempregada novamente.
Correu, ainda de toalha, para vestir-se no quarto e escorregou na casa de banho, projectando todo o seu peso para uma das ancas. Levantando do chão rapidamente, sem tempo para queixar-se da dor na sua perna, Ella continuou a andar, ou mancar, até ao pequeno guarda-roupa que tinha e rapidamente tirou um vestido solto azul com bolinhas brancas, já antigo que chegava aos seus joelhos e colocou por cima da cama enquanto passava o creme pelo corpo e vestia a roupa interior. Depois de vestida sentou-se na sua cama e calçou os seus ténis pretos também antigos e levantou-se para pegar na sua bolsa que continha coisas importantes, como o seu casaco fino, a carteira onde estava algum dinheiro que precisasse em caso de emergência e um creme de mãos. Ella correu para sair de casa, não que a sua casa fosse grande, já que era um T1, mas sim pela pressa de chegar ao serviço e seu patrão ter que esperar. Depois de fechar a porta, Ella correu até à paragem do autocarro que estava prestes a chegar. Olhou em volta tentando respirar normalmente devido à correria. A paragem estava vazia pelo simples facto de serem apenas cinco e trinta da manhã, e toda a gente começava a sair apenas às seis e trinta para o terceiro autocarro do dia, enquanto Ella precisava apanhar o primeiro daquele momento adiante. Com um suspiro, encostou-se no vidro da paragem, não se deixando ceder ao desejo de sentar e cochilar durante os minutos restantes.
Os seus olhos fecharam-se quase que automaticamente e a sua mente voltou para o seu passado, quando ela abandonou tudo por uma simples pessoa que tanto assombrava os seus pensamentos. Envolvida numa tristeza repentina, deixou ser abraçada pela solidão e pelo medo de ser apanhada e viver aqueles momentos novamente. Os pensamentos de Ella são interrompidos com o barulho dos pneus contra o asfalto húmido da chuva da madrugada e do motor barulhento ao fundo da rua. Abriu os olhos marejados e preparou-se para limpa-los quando viu um movimento estranho nas árvores do outro lado da estrada. Os seus olhos colaram em duas pérolas azuis que mexiam devagar, como dois olhos em um corpo, e o seu sangue parou de correr em suas veias e o bocado de frio que a fazia abraçar os seus braços desapareceu rapidamente com o arrepio bom que passou pelo seu corpo todo. O ar parecia parar naquele momento e Ella conseguia sentir a respiração quente de quem estava do outro lado da estrada, começando a duvidar da sua sanidade mental quando sentiu borboletas no estômago e as suas pernas a falharem. A pessoa, ou coisa, que estava no meio da floresta deu uns passos para frente e Ella assustou-se por não ter ficado com medo do grande lobo que estava a olhar para ela naquele momento. O seu olhar dizia muitas coisas ao mesmo tempo e Ella podia entender um 'finalmente' daquele olhar que por algum motivo não conseguia quebrar. Ella deu um passo para frente e conseguiu sentir o aroma que pairava no ar, algo exótico e quente, como se fosse uma colónia humana, o que fez questionar-se sobre a sua sanidade mental outra vez. O lobo aproximou-se mais um pouco de Ella, pondo uma pata na estrada e Ella iria ao seu encontro, se não fosse o barulho do autocarro ao seu lado.
VOCÊ ESTÁ LENDO
Ella
RomanceMatthew David Williams, um lobo solitário que vivia somente pela carne, conhecido em qualquer lugar que fosse seja por humanos ou mundanos e que desprezava qualquer um que se metesse no seu caminho. Mas, como toda gente tem um ponto fraco, o dele ap...