7º Capítulo

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— O quê? — Matthew e Christopher perguntaram.

— O quê? — eu perguntei fazendo-me de despercebida. Christopher riu e Matthew continuou a olhar para mim sério. Eu desviei o olhar para o candeeiro que estava preso no teto e podia valer mais do que a minha vida.

— Deixem-me falar até ao fim, okay? — perguntei e os dois concordaram com a cabeça e ficaram calados — Quando eu tinha uns dezasseis ou dezassete, conheci um rapaz que tinha acabado de chegar à cidade. Um turista que logo apaixonou-se pelo país e decidiu ficar — Matthew apertou o meu joelho, onde a sua mão estava e eu coloquei a minha por cima da sua — Ele era o rapaz mais bonito da minha cidade e todas as raparigas babavam, e eu achava ele bonito mas não pensava que teria uma chance com ele, afinal eu nunca tive uma beleza de destaque.

— Tu sabes que isso não é verdade, não sabes? — Matthew disse e Christopher deu um chute na sua perna para que ele calasse a boca. O mesmo reclamou e eu continuei.

— Quando nós nos conhecemos, eu estava no meio do meu primeiro ano do médio, e ficamos amigos porque ele namorava com a minha melhor amiga. Todos os dias que eles saíssem juntos eu tinha que ir para que a mãe da minha amiga não desconfiasse de nada, sendo que eles ficaram juntos por um ano e alguns meses e mesmo sendo ignorada pela minha melhor amiga, eu continuava a fazer o meu papel de amiga. — fiz uma pausa para respirar — Então, quando estávamos a acabar o penúltimo ano, eles acabaram o namoro e a minha amiga, melhor amiga, parou de falar comigo e eu fiquei sem saber o porquê. Eu fiquei muito triste por um tempo mas ignorei e continuei a vida como sempre. Dois meses depois, ele pediu-me em namoro. — fechei os olhos com força e engoli o nó que se formava na minha garganta — De princípio eu não queria aceitar porque ele era ex da minha amiga mas logo lembrei que ela já não queria saber de mim então aceitei. Nós andávamos juntos em todos os lugares e a minha família não gostava dele, e muito menos o meu irmão. Danny sempre foi muito protector e nunca aceitou que eu namorasse. — eu sorri ao lembrar do meu irmão e brinquei com as minhas mãos com o olhar atento dos grandalhões — Então a nossa relação começou a evoluir muito rápido e ele queria fazer coisas que eu não queria mas ele revirava a minha mente e dizia que estava tudo bem.

— Que tipo de coisas? — perguntou Matthew rapidamente começando a apertar o meu joelho novamente.

— Sexuais. — sussurrei olhando para as minhas mãos — Mas ele não conseguia porque Danny interrompia sempre e ficamos nesse impasse até quando eu ia entrar para o meu último ano. Ele convenceu-me a sair de Cabo-Verde e vir para Nova-Iorque estudar e viver com ele, como um casal, e eu aceitei. — eu revirei os olhos pelo tamanho da minha burrice — Os meus pais e o meu irmão não queriam e proibiram-me de falar com ele, foi aí que começou a minha rebelião. Eu saía sem avisar e por vezes voltava só no dia seguinte altamente bêbada, e o meu irmão tomava conta de mim. Eu estava tão perdida em amores que não reparei que estava a entrar na toca do lobo mau. — falei tentando rir mas aquilo doía demais para conseguir fazer alguma piada — Mas nós tivemos uma ideia: virar o jogo para que os meus pais aceitassem com mais facilidade. Durante um bom tempo, eu não saía de casa, ou saía pouco, fazia tudo que eles pedissem, voltei a conviver com a minha família, estava em todos os almoços e não discutia com eles. Isso tudo tinha sido mais minha ideia do que dele, porque eu sabia que quando eu saísse de casa, não teria volta. Um dia antes do meu baile de finalistas, o meu irmão entrou para o meu quarto, sem bater à porta e encontrou ele comigo, enquanto eu experimentava o meu vestido para o dia seguinte.. Nesse dia eu gritei com os meus pais e ele bateu no meu irmão que dizia que aquela não era eu e que não podia amar aquilo que eu me estava a tornar e eu, de coração partido, arrumei as minhas coisas e saí da casa dos meus pais com apenas dezoito anos e decidi que era tempo de viver a minha vida como adulta. — eu ri com as lembranças — Eu vim para os EUA com o meu namorado e na esperança de formar uma família com ele. Nós vivíamos num apartamento lindo no centro da cidade e eu amava a vista que tinha do nosso quarto, e não via a hora de começar a estudar. Estava encantada com o homem que tinha e não consegui ver mais nada além daquilo que ele permitia e tudo era perfeito, ele era perfeito. Até o dia que ele queria fazer sexo comigo e eu não queria. Ele surtou e quase bateu-me, mas eu não ia dar à ele o que ele mais queria. Foi aí que começou, ele gritava e batia-me todos os dias quando chegasse do trabalho, porque sim ele trabalhava, mas eu continuava firme e mesmo assim não daria o gostinho de ele ter-me. — abanei os ombros olhando para os dois e voltando a olhar para as minhas mãos que estavam por cima das mãos de Matthew — Aquilo tinha virado rotina e eu não conhecia ninguém ali que me pudesse ajudar, estava sozinha naquele inferno com um psicopata, porque é isso que ele é. — fechei os olhos para conter as lágrimas — Eu passei vários dias a tentar arranjar um plano para conseguir fugir, e no dia que consegui eu não esperava que ele tivesse contratado alguém para certificar-se que eu não o faria. — apertei as mãos de Matthew — Nós estávamos no escritório dele e o segurança tentava apanhar-me e eu sabia que se aquele dia passasse, ele ia conseguir o que queria e ficaria feliz e eu nunca mais ia conseguir sair dali, então enquanto tentava escapar, eu encontrei uma arma debaixo da mesa e peguei na mesma e atirei. — as minhas lágrimas estavam a molhar as minhas bochechas — E-eu não olhei antes e quando apercebi-me ele estava na chão com uma bala no peito e a pedir que eu o ajudasse e-e-e eu tentei mas não conseguia fazer ele parar de sangrar. Eu- eu tentei mas quando apercebi-me ele já não respirava e não conseguia sentir a sua pulsação. — larguei as mãos de Matthew e tapei o meu rosto — Eu não tinha um telefone e não encontrei nenhum então não consegui chamar uma ambulância, apenas deixei o corpo do homem ali e fugi.

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