28º Capítulo

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AVISO: O presente capítulo possui cenas fortes de violência.

Fui recuperando os sentidos aos poucos e tentei recuperar as memórias que tinha dos últimos momentos da minha vida. O sabor das lembranças causou uma dor de cabeça incómoda, e gemi pondo a mão onde tinha batido.

- Já acordada? - a voz do Erik preencheu o carro e eu abri os olhos, decepcionada por aquilo não ter sido um pesadelo, e permaneci em silêncio.

Olhei à volta para ver se reconhecia o lugar por onde o carro passava mas só via árvores e mais árvores. O facto de ter desmaiado fez com que o meu sentido de orientação ficasse confuso demais para ter uma direcção concreta. O carro passava por uma estrada de areia que não reconhecia de lado nenhum.

O sol-nascente dava-me um banho de preocupação por saber que o Dean tinha um relógio na cabeça que fazia com que acordasse cedo. E por no dia anterior não ter comido à noite, fora o lanche antes da missa, acordaria cedo e com fome. Nesses dias ele gostava de comer antes de tomar banho, e em alguns dias ainda ficava a fazer mimo deitado no meu colo.

- O gato comeu a língua? Onde estão os modos, Ella?

- Deixas-me ligar para saber do Dean? - ele desviou o olhar da estrada para mim e riu.

- O que ganharia eu com isso?

- Eu num melhor humor. - ele sorriu de lado e mexeu-se para tirar um telefone pequeno e entregou-me.

- Não demora.

Peguei no objecto e disquei rapidamente o número do Matt. Ele atendeu no segundo toque.

- Matt. - o olhar do Erik pousou sobre mim e eu tratei de falar rápido antes que ele mudasse de ideias - Já estás com o Dean?

- Ella! - ouvir a voz dele aqueceu-me o coração e senti-o partir aos poucos - Onde é que estás? Diz-me que eu vou ter contigo. - o Erik sussurrou para que eu não enrolasse.

- Eu preciso de saber como está o Dean, por favor. - disse tentando fazer a minha voz ficar calma mas falhei no fim.

- Ele está bem, está comigo e com o Chris. - suspirei aliviada.

- Diz a ele que estou bem e que eu o amo muito. Não deixem que ele fique preocupado, por favor.

- Eu digo, não te preocupes também que daqui a nada estás de volta à casa. - empurrei as lágrimas para o fundo da minha alma com as saudades dos seus braços.

- Vou ter que desligar, desculpa. - desliguei o telefone e entreguei para a mão do Erik.

- Agora podes mostrar-me um sorriso, Ella. - ignorei-o e continuei a olhar pela janela as árvores a passarem rápido. Ele suspirou e focou-se na estrada - Podias ser um pouco mais grata pelo meu gesto bom, depois reclamas que sou um monstro.

- Obrigada. - disse sem mudar de posição.

- Sem um sorriso? Nem olhaste para mim. - permaneci em silêncio - Não te preocupes que já estamos a chegar.

Uma bomba de combustível pequenina surgiu à nossa direita e ele abrandou o carro. O meu olhar caiu no painel do carro onde o ponteiro do combustível estava bem baixo.

Ele parou o carro e desligou-o, suspirando.

- Não tentes fazer nada porque estou armado e estamos numa bomba de combustível. - assenti quieta aonde estava. Ele desceu e começou a abastecer o carro.

Olhei à volta para ver se reconhecia algum telefone público ou alguma coisa familiar, mas não tinha sequer uma alma. Baixei a cabeça e comecei a orar porque não via outra saída dali. Não sabia para onde estávamos a ir mas tinha certeza que ele tinha um plano bem elaborado sobre o que estava a fazer.

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