29º Capítulo

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Tossi com a garganta seca e gemi com a dor de cabeça que tinha. A minha mão subiu até aonde doía e senti um líquido pegajoso nos meus dedos. Abri os olhos para ver o que era mas não consegui reconhecer. Olhei para o lado para saber onde estava e encontrei o Erik inclinado no volante com um líquido escuro a escorrer no seu braço que tinha um caco enfiado. A minha cabeça começou a latejar e eu mexia-me devagar para não tocar em nenhum caco, mesmo vendo alguns que fizeram estrago no vestido.

Abri a porta do carro para conseguir respirar um ar mais fresco e arrependi-me quando uma rajada fria bateu-me. Tirei o cinto de segurança e empurrei a minha perna para conseguir sair do carro. Gemi quando o meu corpo bateu no chão com força, ao sentir um rasgão na minha perna esquerda. As lágrimas nos meus olhos começaram a escorrer com as dores que tinha pelo corpo todo e descobri que o meu rosto também estava arranhado quando senti as bochechas a arder. Sentei-me para ver o corte que tinha na perna e comecei a entrar em pânico com a quantidade de sangue que saía.

Respirei fundo e contei até 20 para tentar acalmar-me e pedi ajuda a Deus naquele momento. Não queria morrer.

Acalmei a minha mente e rasguei o vestido para amarrar na ferida pois estava a perder muito sangue. Cerrei os dentes com força tentando conter o grito de dor ao apertar com força o tecido. Dei um nó forte e deitei-me no chão para recuperar a respiração.

— Ella! — o momento de descanso acabou e a voz do Erik fez-se ouvir num grito irritado. Levantei do chão com cuidado para ele não ver-me e corri sem parar floresta dentro. Sentia o sangue a escorrer pela minha pele nua da perna e a dor era agoniante mas a adrenalina era maior e não me permitia parar.

A minha respiração estava muito rápida, tão rápida quanto o movimento das minhas pernas. Eu só corria, sem importar-me com a direcção que seguia ou onde os meus pés pisavam. Bati numa árvore e caí ao chão mas não dei-me o luxo de ficar ali quando comecei a ouvir passos rápidos. Levantei e dei mais força às minhas pernas para fugirem do Erik. A minha mente estava bloqueada de todos os pensamentos que me pudessem deixar mais lenta e cansada. As folhas e os ramos das árvores rasgavam mais ainda a minha pele e eu tive um flashback de quando estava a fugir do Carlos.

Soltei um grito de surpresa quando o chão desapareceu dos meus pés e caí numa ribanceira. O meu corpo rebolou até ao fim daquela inclinação e só parou quando o terreno ficou plano, que por azar foi numa árvore.

Apaguei por alguns segundos mas depois voltei à mim quando ouvi passos na minha direcção mas não conseguia mexer-me. As minhas pernas não obedeceram os meus comandos e nem os meus braços; simplesmente não sentia-os. Os passos foram aproximando-se e no meu campo de visão apareceram dois lobos castanhos com os olhos caramelo que ficaram a olhar para mim. Fechei os olhos por alguns segundos e quando abri-os eles já não estavam, levando-me a perguntar se não seria mais uma invenção da minha mente na fantasia descabida de ser salva. Mas não estava a alucinar, porque depois vi as duas meninas que cumprimentaram-me na vila.

Não foi preciso dizer nada para que elas começassem a ajudar-me. Vi elas a tirarem algumas folhas e puseram-nas sobre as minhas feridas, e depois uma delas agarrou na minha cabeça ainda deitada no chão e puxou-me para cima das suas pernas. Encarei o seu rosto, impossibilitada de mover qualquer membro, e fiquei admirada com a sua beleza. Ela era linda. Os seus olhos começaram a iluminar-se, acendendo como os olhos do Matt faziam, e ela ficou a olhar para o nada com as duas mãos no meu rosto. Senti uma corrente de sangue quente passar pelas minhas veias e comecei a sentir a dor das minhas feridas das pernas.

— Ele está a vir, vamos embora. — a outra disse para a que estava com as mãos na minha face. Como assim ele está a vir? Quem é que estava a vir?

EllaOnde histórias criam vida. Descubra agora