Ella

10º Capítulo

Olhei para o espelho e sorri com a nossa imagem. O vestido laranja realçava a minha cor morena e os meus cachos caíam em perfeição pelos meus ombros descobertos. Aquele dia estava quente e por isso calça nos pés sandálias finas e leves, com um toque de brilho especial. Os meus olhos passaram pelo corpo do meu namorado e sorri ao ver que ele estava com um calção azul marinho e uma tshirt branca com desenhos pretos. Os olhos de Erik cruzaram-se com os meus através do espelho e o seu sorriso branco iluminou o seu rosto perfeito. Virei-me para ele e fui surpreendida com um beijo profundo, pondo as minhas mãos no seu peito à caminho do seu pescoço para chegar aos seus cabelos. Sorri entre o beijo e suspirei quando ele puxou o meu corpo para junto do seu, apertando a minha cintura como eu sei que gosta. Separei os nossos lábios com a respiração acelerada do beijo, sentindo o seu peito a bater contra o meu enquanto nós tentávamos recuperar do beijo profundo. Puxei a sua mão para sairmos do quarto, abrindo a porta com a outra mão. O Sol atravessava as janelas da sala vasta da casa dos meus pais e aquecia o chão de madeira escura. Assim que passamos pela cozinha, o olhar de Danny colou em mim e o mesmo abanou a cabeça em desagrado mas eu limitei-me em abanar os ombros.

— Volto mais logo. — disse e continuei o meu caminho até a porta com Erik mesmo atrás de mim. Danny levantou da cadeira alta que estava sentado e desligou o seu computador, onde escrevia mais um livro. Desde pequeno que Danny tem uma queda para literatura, então decidiu parar de esconder-se atrás de jogos de playstation e gameboys e começou a escrever. Já tem três livros lançados em português e outros dois em inglês. Digamos que ele é o prodígio de casa. E eu? Sou apenas a menina que fez más decisões na vida. A que nunca foi suficiente. Desde o tempo em que ele estava na escola, ele sempre foi o melhor, o que os professores amavam por ter personalidade e ser bom em todas as disciplinas. Depois de ele sair foi como se uma pressão enorme tivesse caído sobre mim. Todos esperavam um certo comportamento de mim e uma certa média que eu não conseguia atingir, e aí começaram a ter comentários maldosos e eu fiquei realmente em baixo, já que depois disso as minhas amigas distanciaram-se de mim e começaram a fazer parte de outros grupos. Eu estaria sozinha se não fosse por Erik, e devia tudo à ele.

— Hoje nós temos a apresentação da Alice na escola. — Danny seguiu-nos até à porta e puxou-me pelo braço quando eu ia continuar a andar, fazendo-me virar para ele — Vais faltar à primeira apresentação de Ballet da tua sobrinha? — eu revirei os olhos e olhei para ele.

— Eu vou estar lá. — ia continuar a andar mas ele voltou a pegar no meu braço — O quê? — perguntei irritada pelo tempo que ele estava a demorar para falar.

— Por favor. — ele disse com um olhar cansado, o que fez com que o meu coração amolecesse.

— Podes vir connosco se quiseres. — eu disse virando o meu corpo todo para conseguir falar com ele — Só para teres certeza que não voltamos muito tarde. — Danny começou a rir e eu enruguei a testa — Eu disse algo engraçado? — ele parou o seu riso irónico e olhou para mim sério.

— Não vês que estás a perder o teu brilho? Estás a perder a tua vida para estar amarrada à um traste como ele? — Danny apontou para Erik, que continuava a segurar a porta da saída.

— Não tens mais nada para fazer da vida? Toma conta dos teus próprios problemas! — eu disse alto.

— Tu és minha irmã! É meu trabalho tomar conta de ti, e não desse vadio de meia tigela que encontraste para ficar contigo! Ele não merece metade da pessoa que tu és, ou eras. — Danny pegou no meu rosto com as duas mãos — Tu estás a perder-te, Ella.

Aquele olhar, aquelas palavras, naquele momento, tocaram no meu coração e fizeram lágrimas apoderarem-se dos meus olhos. Eu sabia que ele estava certo mas eu precisava de Erik, ele era o meu escape da realidade e ele ajudava-me em tudo que precisasse. Ele apareceu perdido na vida e achou um refúgio em mim, tal como eu encontrei o meu porto seguro nele, e nada podia mudar ou sabotar aquilo, nem o meu irmão.