ÚLTIMOPULSAR

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ÚLTIMO PULSAR
ADAM

Meu coração pulsa descompassadamente, agredindo o interior das minhas costelas que mal conseguem sustentar o dilatar dos meus pulmões que executam a nefasta tarefa de respirar. Faz horas que mal sei o que é respirar. Estou morrendo.

Eu não quero respirar. Se ela não pode respirar. Eu não quero.

Estou morrendo. Se algo acontecer com ela. Porra. Se algo acontecer com ela.

Meus braços descobertos carregam o pequeno corpo mole da mulher pálida, cabelos castanhos jogados para baixo e olhos fechados. Seus malditos olhos redondos não me encaram com o habitual brilho. Um brilho que queria ver mais uma vez. Uma e outra vez.

Um nó se forma no meu estômago e o desespero toma conta de cada parte fodida do meu interior. Eu fodi tudo. Eu estou fodido. Eu fodi com a vida dela. Eu sabia que foderia. Eu sabia que ela foderia com a minha vida. Eu tinha certeza que ela foderia a minha. Soube disso naquela manhã em que abri os olhos e a encontrei parada ao lado da minha cama, com um irritante sorriso de orelha a orelha. Como eu odiei aquele sorriso. Foi lá, naquele sorriso, com aqueles olhos redondos e gentis que soube que era a minha ruina. Ela seria a minha ruina. Ela estava sendo a minha ruina. Eu era a ruina dela. Eu sabia. E mesmo assim não a impedi.

Eu não tive forças.

Eu não tive forças para impedi-la.

De repente ela estava lá. Ela estava em todos os lugares. Sua maldita mania de tagarelar ecoava em todos os lugares. Ecoava no silêncio na minha mente.

Ela não tinha o direito de não estar mais lá.

Caralho

Eu não podia perdê-la.

Seu corpo está gelado. Seu corpo está mole. Sua maldita boca tagarela está fechada, com os lábios pálidos.

Seus malditos pulmões parecem não funcionar com a mesma determinação que os meus pés que correm em direção a enorme porta de vidro que parece se distanciar a cada passada que me aproximava. Ignoro as buzinas e gritos, que parecem sons de fundo irritante. Foco na porta. Corro.

Corro. Ofego. Seu corpo balança entre os meus braços. Corro ofegante. Algo quente gruda o tecido da camiseta contra o meu abdômen. Eu sei o que é. É sangue. O sangue da minha Sunshine.

Eu não queria perde-la. Não ela.

Porra. Eu estava cansado de perdas.

Era para ser eu ali. Não ela. Eu era o maldito filho da mãe que contabilizava inimigos. Era eu quem tinha uma família de merda. Era eu somente eu. Mas a vida parecia rir da minha cara, mostrar o maldito dedo do meio e me deixar para o final da fila.

A ferida profunda em seu abdômen jorrava sangue com uma velocidade que meus pés não conseguiam acompanhar. Merda. Nunca uma porta pareceu tão distante. Seu sangue manchava a minha camiseta. Seu sangue era quente com um cheiro ferroso que ofuscava seu aroma floral. Seu sangue era quente. Sua pele era gelada. A maldita bala estava alojada dentro do seu corpo. Eu queria. Eu necessitava tira-la, mas não podia, não pude arrancar aquela bala de dentro do seu corpo. Não pude evitar aquele tiro.

— Não me deixe, Sunshine — suplico ofegante.

Seu braço desliza sobre o seu corpo e cai para o lado.

Não

A encaro por meia fração de segundos. Uma vez mais. Apenas mais uma vez.

— Aguente firme — imploro — Por favor. Eu preciso de você — as palavras não saem com clareza, mas sei que ela pode entende-las.

Ela as entenderia. Ela sempre entendia. Na maioria das vezes.

Necessitava que apenas mais uma vez tornasse para sempre. Um para sempre que não merecia, mas queria com todas as forças. Como um bastardo egoísta queria agarrar um para sempre ao lado daquela mulher insuportável, maluca e teimosa.

Invado a porta automática que se abre ao sentir meu corpo se aproximar. Nossos corpos são absorvidos pelo ambiente impessoal e branco. Minha cabeça gira e gira para os lados em busca de qualquer ajuda. O lugar está vazio. Não consigo enxergar ninguém. Não consigo diferenciar entre médicas e pacientes.

Nunca me senti assim: impotente. Achava que tinha sentido, mas não, aquilo era enlouquecedor.

— Ajuda — berro a plenos pulmões.

O meu grito ensurdece os meus ouvidos. A minha voz não agita o pequeno corpo entre os meus braços, como se tudo ao seu redor fosse inexistente. Como se ela estivesse se tornando inexistente.

Eu imploro por apenas mais um pulsar. Só mais um pulsar daquele coração teimoso que deveria ser meu.

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